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Eleições 2022

Debate de presidenciáveis tem frases de efeitos e despreparo na economia

Encontro entre candidatos à Presidência foi realizado neste domingo (28)

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Brasília

A nova dinâmica política no Brasil, marcada pela troca de farpas e frases de efeito em redes sociais, parece ter afetado o traquejo político para discussões mais robustas, que exigem agilidade para argumentar.

No calor dos embates, durante uma campanha eleitoral, sempre pode haver um escorregão, aqui ou ali. Mas no primeiro debate entre candidatos neste domingo (28), os presidenciáveis abusaram do discurso pré-fabricado e mostraram falta de habilidade para tratar de temas econômicos com a seriedade que exigem. Os deslizes foram primários.

Debate entre candidatos a presidência em parceria com Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura. Na foto Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Luiz Felipe D'Avila (Novo), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) - Marlene Bergamo/Folhapress

Na tentativa de engatar a discussão da corrupção com a economia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a dizer que não falta dinheiro no seu governo porque não há roubalheira. Não existe relação de causa e efeito entre as questões, e a restrição orçamentária é uma realidade estrutural do Estado brasileiro, que afeta todos os governos.

Bolsonaro também se atrapalhou na hora de tentar se defender de a fome ter aumentado no seu governo e mostrou desconhecimento sobre a inflação.

Há muito a rebater sobre a condução do Auxílio Brasil na gestão bolsonarista, mas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se limitou a dizer que um benefício de R$ 600 não está previsto na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2023. A ponderação pode até mostrar a falta de disposição do atual governo em prorrogar a concessão do benefício, mas Lula deve saber que esse é um dispositivo que pode ser alterado com certa facilidade.

Ciro Gomes (PDT) insistiu em criticar o modelo econômico que transfere bilhões de juros para o setor financeiro. Uma frase repetida em todas as campanhas desde a redemocratização nos anos de 1980. O candidato fala do pagamento de juros dos títulos públicos do governo federal. Essa é uma dívida que o Estado faz para se financiar, cujos juros refletem a maior ou a menor confiança no governo da vez. Funciona assim em todos os mercados financeiros maduros.


Felipe D’Avila (Novo) afirmou mais de uma vez que o Brasil não cresce há 20 anos. Cresce. Cresceu 7,5% em 2010. Mas cresce devagar e patina desde a recessão, sem sinais de reviravolta no cenário. Um dos motivos para o crescimento modorrento é a baixa produtividade do trabalho, uma questão obscura para a maioria dos brasileiros e que tem relação com a qualidade da educação no Brasil.

Ninguém deu muita importância quando a bola do ensino foi levantada no debate.

Simone Tebet (MDB) disse que vai acabar com a fome porque os preços vão baixar no seu governo. É uma declaração dúbia, que abre margem para dúvidas na cabeça do eleitor. A candidata fala em controle de preços? O Brasil vive uma economia de mercado e não há mecanismos saudáveis de intervenção nos preços. Qualquer tentativa nesse sentido leva ao efeito contrário, desabastecimento e alta de preços.

A economia, disse Soraya Thronicke (União Brasil), é a base de seu programa de governo. O debate terminou sem que o eleitor soubesse um item sobre o tema dessa agenda.

Como todos os candidatos são experientes e têm economistas respeitados em suas equipes, resta esperar que recuperem a capacidade de reação a confrontos no incontrolável ambiente da vida real. Longe das redes e dos vídeos oficiais editados, declarações soltas não rendem cliques de seguidores.

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