'Príncipe da Amauri', João Paulo Diniz dedicou-se aos esportes e às empresas

Vida do empresário foi marcada por badalação, projetos para a cidade e gestos de afeto a familiares e amigos

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Rio de Janeiro

Mais de 20 anos se passaram e uma cena cisma em não sair da memória da jornalista de moda Alexandra Farah: o empresário João Paulo Diniz sentado ao lado de uma dúzia de homens, "todos bem vestidos e com cara de poderosos", à mesa de um de seus (muitos) negócios, o restaurante Ecco, na rua Amauri, localizado no Jardim Europa, bairro rico da capital paulista.

João Paulo Diniz durante inauguração do NAS, Núcleo de Alto Rendimento,em Santo Amaro, zona sul de São Paulo - Douglas Pingituro - 3.mar.2015

Herdeiro do grupo Pão de Açúcar, bonitão, esportista, namorador, dono de quase tudo o que funcionava nos cerca de 400 metros daquela via... Por que não chamá-lo de "O Príncipe da Amauri"? O apelido pegou e, ao juntar todas essas informações, o radar jornalístico de Alexandra apitou: olha aí um baita personagem para o Chic, site de Glorinha Kalil do qual era diretora de conteúdo.

Surgiu assim, em 2001, o "Diário do Príncipe", uma passarela virtual para Diniz desfilar sua elegância cotidiana em fotos feitas diariamente por um paparazzo, numa época em que os "looks do dia" ainda não sonhavam em existir.

"Fez muito sucesso", lembra a jornalista, ressaltando o poder de atração que João Paulo ("Nosso John John Kennedy") exercia em seus leitores não só pela parte estética, digamos assim, mas também pelo que vinha fazendo pela região, pela cidade.

"Ele mandou ladrilhar a rua", anima-se Alexandra, encontrando uma maneira poética de contar que, inspirado no que havia visto em Nova York, o empresário construiu uma pracinha no terreno onde antes havia uma casa. Na rua Amauri, onde mais? Coisa fina, projetada pelo arquiteto Isay Weinfeld, com árvores, mesinhas e um café com renda revertida para caridade.

Pessoas circulam entre guarda-sóis brancos e verdes; há carrinhos de sorvete no centro da rua e árvores nas laterais
Rua Amauri, nos Jardins, onde João Paulo Diniz tinha diferentes empreendimentos; na foto, de 2012, local recebe evento de sustentabilidade - Simon Plestenjak/Folhapress

"Ele é virginiano como eu, muito detalhista. E um cara que sempre gostou de ajudar", conta Luciano Huck, amigo de longa data (e ex-sócio de Diniz no Ecco). Huck se emociona ao falar, por vídeo, sobre a morte de João Paulo, neste domingo (31), aos 58 anos. "Foi muito fora do script", diz.

O empresário tinha uma doença congênita: miocardiopatia apical (aumento da musculatura do músculo cardíaco) de base, condição que aumentava o risco de arritmias graves e morte súbita. Ele sabia deste quadro desde que tinha 28 anos e, à época, buscou a ajuda de especialistas nos Estados Unidos e na Alemanha. A doença regrediu, mas mesmo assim paira no ar, até entre os amigos mais próximos, a sensação de que talvez ele tenha se excedido e o coração, literalmente, não aguentou.

"Não, de jeito nenhum", diz Marcos Paulo Reis, ex-técnico da seleção brasileira de triatlo e treinador de João Paulo, talvez o maior mecenas deste esporte no país. "O cara estava superbem, tratou deste problema e tinha sido liberado para fazer o que fazia", assegura.

Reis o ajudava em sua preparação física e teve acesso ao resultado do teste cardiopulmonar que ele fez há coisa de três semanas. "Estava ótimo. Vendendo saúde, fortão", afirma. "Não dá para achar normal o que aconteceu", diz.

Gero Fasano também não se conforma. "Por que a vida é assim? Não dá para entender", afirma o restaurateur, outro ex-sócio de João Paulo, por ele classificado como "a pessoa mais afetuosa" que conheceu.

Foi dele que Gero ganhou uma esteira elétrica de presente, a materialização de sua preocupação com a forma física do amigo, então acima do peso e com hábitos pouco saudáveis. "Ele realmente queria o bem das pessoas. Era um cara maravilhoso e bonito pra cacete, né?".

Opa. Gisele Bündchen, Luana Piovani e Daniella Cicarelli que o digam. Diniz namorou as três, deu umas ciscadas para o lado de Naomi Campbell, fez e aconteceu.

Discreto, terminou com Gisele Bündchen ao ser fotografado ao seu lado na casa de praia de Paraty onde viria a morrer, neste domingo que passou. Ele não gostou de o envolvimento ter virado notícia e decidiu por fim ao namoro com a modelo, então com 17 anos.

Com Cicarelli, chamou-a para jantar em um de seus restaurantes e anunciou que achava melhor cada um seguir o seu caminho, foi bom enquanto durou, vai ser melhor assim etc.

Quando estava solteiro, sua aparição na noite paulistana causava comoção no pessoal.

Paralelo à agitada vida social, João continuava fazendo o que gosta: praticando esportes e administrando empresas, o que segundo o também empresário e quase candidato da terceira via João Amoêdo, fez com sabedoria.

"Ele tinha um perfil conservador na gestão, o que é fundamental para administração de patrimônio", analisa.

O período de badalação e de aparições nas colunas sociais ficou para trás definitivamente em 2011, quando casou-se com Ana Garcia, mãe de dois de seus quatro filhos, Eduardo e Joana; os outros dois, Abilio e Rafael, são do primeiro casamento, com Paula Mott.

A paternidade só lhe fez bem, diz o amigo Huck. "Ele exercia o papel de pai com toda a intensidade, dava gosto de ver. É essa a imagem que fica para a gente".

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