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Criptos caem após atualização do Ethereum; entenda

Ofuscada por crise global, 'the merge' dará retorno a longo prazo, dizem analistas

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São Paulo

As principais criptomoedas aprofundaram perdas nesta quinta-feira (15), horas depois da conclusão de uma atualização da plataforma Ethereum considerada histórica para esse mercado. Apesar do sucesso da mudança, que ganhou o nome de "Merge" (Fusão), o cenário global de inflação e elevação de juros ofusca os benefícios que ela produzirá a longo prazo, dizem analistas.

O ether, moeda digital que só perde em importância para o bitcoin, recuou 4,77%. Queda semelhante à registrada pela Litecon, um dos ativos digitais mais tradicionais. A própria bitcoin cedeu 1,38%.

Representação de Ethereum à frente de gráfico e nota de dólar
Representação de Ethereum à frente de gráfico e nota de dólar - Dado Ruvic - 19.dez.2021/Reuters

Variações consideradas até pequenas para a volatilidade desse tipo de ativo e, principalmente, em um momento em que a valorização da renda fixa, devido à alta global dos juros, tira a disposição de investidores para aplicações em renda variável, sobretudo as mais arriscadas, explica Paulo Aragão, fundador da CriptoFácil, plataforma de conteúdo especializado nesse setor.

"A atualização da Ethereum correu bem nesta madrugada, mas a fusão não está sendo precificada porque as boas notícias são ignoradas neste inverno cripto", comentou Aragão.

Inverno cripto é como participantes desse mercado estão se referindo à severa baixa dos criptoativos. ether e bitcoin, por exemplo, acumulam perdas de aproximadamente 60% neste ano.

"O cenário macroeconômico é muito desfavorável para os criptoativos", afirma Ayron Ferreira, analista-chefe da Titanium Asset Management. "Certamente a mudança na Ethereum é positiva e isso ficará muito claro quando esse ciclo de baixa passar", comenta Ferreira.

Efeitos da Fusão serão percebidos em momentos em que o mercado tradicional de ações estiver estável, segundo André Franco, chefe de pesquisa do Mercado Bitcoin. O melhor termômetro para avaliar isso, segundo o especialista, é a Bolsa americana focada em empresas do setor de tecnologia, a Nasdaq.

Sensível ao aumento dos juros justamente por depender de uma ambiente com crédito barato para que as empresas com maior potencial de crescimento entreguem lucros, a Nasdaq mergulha mais de 25% neste ano.

"O Merge foi um sucesso e o tempo vai confirmar isso. É uma realidade que vai se impor", afirma Franco.

Ainda sobre a aparente apatia dos investidores em relação a uma alteração significativa, Marta Reis, chefe de pesquisa da corretora de criptomoedas BeQuant, afirma que a novidade que trouxe ganhos recentes ao Ethereum simplesmente passou e, agora, o mercado decidiu colher esse lucro e migrar para outros ativos.

Nas últimas duas semanas, o ether acumulou cerca de 18% de ganhos.

"Agora a empolgação em torno da fusão acabou, e não temos um catalisador para o Ethereum no curto prazo", disse Reis para a agência Bloomberg. "Seria natural esperar um pouco de rotação."

O que mudou no Ethereum

A maior mudança na Ethereum em mais de uma década foi concluída na madrugada desta quinta-feira (15). Trata-se de uma alteração que não afeta apenas o ether, que é o ativo nascido com a própria plataforma Ethereum, mas também atinge todos os atuais e futuros criptoativos que utilizam esse mesmo sistema.

Ethereum é essencialmente um programa de computador que usa a chamada tecnologia blockchain para registrar transações com ativos digitais. É a mais popular base para uma gama crescente de aplicativos criptográficos, como NFTs (tokens não fungíveis).

Antes de entender a mudança, é preciso saber que o sistema Ethereum não pertence a ninguém. Ele foi construído e continua a ser refinado por uma comunidade aberta de desenvolvedores.

A execução desse programa costumava depender de grandes centros computacionais espalhados pelo mundo. Operadores desses centros são chamados de mineradores.

Para emitir o Ether, programadores precisavam decifrar e encadear blocos de códigos lançados na internet por desenvolvedores. Por isso essa tecnologia é chamada blockchain, ou seja, uma corrente de blocos.

Mineração é como ficou conhecido esse trabalho de validação de criptoativos. A atividade requer a resolução de problemas matemáticos complexos, que exigem a utilização de computadores interligados e com alta capacidade de processamento.

Quando um minerador decifra o próximo bloco dessa corrente, ele recebe o Ether como recompensa, explica Paulo Aragão, da CriptoFácil.

Para decifrar esse código antes da concorrência, o minerador precisa de grande capacidade computacional. "É por isso que a mineração de criptoativos exige tantos computadores e consome muita energia elétrica", comenta Aragão.

Esse complexo sistema de validação, chamado de "Proof of Work" (prova de trabalho) é uma forma de tornar a tecnologia blockchain segura, pois gera uma prova verificável do trabalho realizado pelo minerador.

A atualização da Ethereum muda esse protocolo de validação. Um novo algoritmo realizará os cálculos de forma automática sobre as carteiras de participantes que detenham ao menos 32 unidades de Ether.

Isso significa que, para participar desse processo, é preciso possuir cerca R$ 250 mil da criptomoeda, considerando a cotação atual de aproximadamente US$ 1.500 (R$ 7.830).

É o algoritmo que irá escolher o participante que fará a mineração e receberá o pagamento por isso, embora esse participante não precise executar qualquer cálculo. A escolha não é necessariamente aleatória, pois critérios como o tamanho da carteira podem dar preferência na rotação dos participantes.

Esse novo sistema de validação é chamado de Proof of Stake (prova de validação).

Fusão foi o apelido escolhido para a atualização porque, durante o desenvolvimento Proof of Stake, a plataforma de teste utilizadas era a Beacon Chain. Com a conclusão do processo, a tecnologia blockchain Ethereum se fundiu com a tecnologia testada na Beacon Chain.

Aragão afirma que são duas as mudanças mais notáveis desse processo. A primeira é a economia de energia. Estima-se que sem a necessidade de grandes centros de computação integrados para a mineração, o consumo de eletricidade poderá cair em mais de 95%.

Além disso, o número de transações por minuto tende a subir significativamente, permitindo maior rapidez nas operações que utilizam a plataforma e a cobrança de taxas mais baixas.

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