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Donos do Grupo Gaia doam empresa de investimento a ONG

Mercado financeiro está doente, diz João Paulo Pacífico ao explicar decisão

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São Paulo

Empresa de investimentos que trabalha na captação de recursos voltados para o financiamento de projetos socioambientais, o Grupo Gaia será doado para uma ONG (Organização Não Governamental) de mesmo nome, em um processo no qual os sócios deixarão de ser donos e passarão a atuar como funcionários do negócio.

"O mercado financeiro está doente e viciado", diz João Paulo Pacífico, sócio-fundador do Grupo Gaia.

O empresário afirma que a decisão de fazer a doação da empresa é uma provocação para tentar sensibilizar mais agentes do mercado financeiro a respeito da importância de trabalhar por uma sociedade mais igual, não apenas mirando lucros crescentes que ficarão restritos a um grupo pequeno de pessoas privilegiadas.

Ele diz que a sociedade se acostumou a buscar incessantemente um acúmulo de ganhos sem freio, em que há quase um vício das pessoas por cada vez mais dinheiro, sem qualquer tipo de preocupação social.

"Acho que a gente tem que ter um limite", afirma Pacífico, que, por meio da empresa, já ajudou a financiar produções agrícolas do MST e a construção de moradias sociais de alugueis acessíveis em São Paulo.

Homem branco de cabelo claro, calça jeans e camiseta preta, apoiado em painel colorido
João Paulo Pacífico, sócio-fundador do Grupo Gaia - Ronny Santos - 23.fev.2022/Folhapress

A expectativa é que a doação seja concluída até o final do mês que vem, com a empresa passando a ficar sob o guarda-chuva da ONG que vai atuar como uma espécie de holding, sem um dono.

O anúncio vem dias depois de o americano Yvon Chouinard anunciar a doação da empresa de roupas para esportes de aventura Patagonia, avaliada em cerca de US$ 3 bilhões (R$ 15,5 bilhões).

Segundo Pacífico, os valores da operação não podem ser abertos por questões contratuais, mas ele diz que, desde o início das atividades, em meados de 2009, a empresa levantou cerca de R$ 20 bilhões para o financiamento de projetos.

"Quero que o negócio seja duradouro e perdure além das pessoas", diz ele, acrescentando que, além do braço de securitização, que é o responsável pelo trabalho de captação de recursos no mercado, o grupo engloba ainda uma assessoria financeira, e, logo mais, também uma gestora de recursos.

Em março, a securitizadora Planeta, que também fazia parte do Grupo Gaia e focava na captação de recursos para negócios tradicionais, foi vendida para a Opea, empresa controlada pelo fundo internacional Jaguar. Os recursos serão direcionados para a ONG, mas o valor da venda também não pode ser divulgado por questões contratuais.

"Quanto mais eu acumulo, mais vou tirar de outros. Quanto mais juros cobrar, mais vou empobrecer o outro lado", afirma Pacífico.

Ele diz ainda que, entre os projetos que deverão ser desenvolvidos pela ONG nos próximos meses, estão novos financiamentos ao MST e voltados para a construção de moradias em comunidades carentes.

"Em vez da loucura de querer ganhar sempre mais e mais, por que não dividir?", questiona Pacífico. "O que falta no mundo dos negócios é compaixão. Quando as pessoas tiverem mais compaixão e pararem de olhar só para o próprio umbigo, o mundo dos negócios vai ser melhor."

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