Descrição de chapéu Financial Times

PIB da China cresce abaixo da meta em meio a crise imobiliária e política de Covid zero

Economia chinesa cresceu 3,9% no terceiro trimestre deste ano, taxa menor que os 5,5% previstos pelo governo

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Thomas Hale Hudson Lockett Edward White
Financial Times

O PIB (Produto Interno Bruto) da China cresceu bem abaixo da meta no terceiro trimestre, intensificando a queda de valor das ações chinesas e preocupando os investidores sobre as perspectivas em longo prazo para a segunda maior economia do mundo.

O PIB cresceu 3,9% ano a ano, acima da previsão de 3,3% de analistas consultados pela Bloomberg, mas ainda abaixo da meta anual de 5,5% da China, que já é a menor em três décadas.

A divulgação dos dados, adiada de terça-feira passada para esta segunda (24), ocorre depois que o presidente chinês, Xi Jinping, estendeu seu governo para um terceiro mandato sem precedentes e reforçou seu controle do poder político no 20º congresso do Partido Comunista, na semana passada.

A China enfrenta uma crise imobiliária e controles e bloqueios rigorosos do plano "Covid zero", que reduziram amplamente a propagação do vírus, mas também prejudicaram a atividade do consumidor.

A divulgação dos dados aumentou o pessimismo sobre as ações chinesas porque os investidores ficaram decepcionados com o fato de o congresso do partido não ter enviado sinais mais positivos sobre a economia. O índice Hang Seng China Enterprises, de Hong Kong, caiu 7,4%, para uma baixa de 14 anos. O índice de referência CSI 300 das ações listadas em Xangai e Shenzhen caiu a 3,1%.

"Isso é venda de pânico", disse Dickie Wong, chefe de pesquisa da Kingston Securities em Hong Kong. "Obviamente, os investidores simplesmente não estão confiantes sobre o futuro da economia chinesa."

Embora o governo não tenha dado uma explicação para o adiamento, a medida foi amplamente vista como uma tentativa de evitar o desvio de atenção do congresso, que ocorre a cada cinco anos e reorganiza os altos escalões do Partido Comunista.

No congresso, Xi fez pouca referência às fraquezas econômicas da China e elogiou as medidas de controle do coronavírus, que incluem testes quase diários e regras de quarentena que efetivamente isolaram o país do resto do mundo. Na preparação para o evento, o principal epidemiologista da China disse que não havia cronograma para um abrandamento das restrições.

Iris Pang, economista-chefe do ING para a China, disse que, embora o crescimento do terceiro trimestre tenha superado as expectativas, o quadro geral de recuperação foi "misto" e permaneceu impulsionado pela política de Covid zero de Xi.

"Isso continuará afetando o mercado de trabalho e terá um efeito negativo nas vendas futuras do varejo", disse ela.

Pang também alertou que, após as mudanças de pessoal no Partido Comunista –incluindo as saídas da liderança do ex-czar econômico Liu He, do presidente do banco central Yi Gang e do principal regulador Guo Shuqing–, a equipe econômica da China se tornou mais centralizada sob Xi.

"Isso implica que o presidente Xi tem ainda mais voz na condução das políticas."

O crescimento do terceiro trimestre superou um aumento de apenas 0,2% no segundo trimestre, quando Xangai, a maior cidade e centro financeiro da China, foi colocada sob um duro bloqueio por dois meses.

Em setembro, as vendas no varejo aumentaram apenas 2,5%, abaixo da previsão da Reuters, de 3,3%.

A produção industrial, que impulsionou o crescimento da China nos dois primeiros anos da pandemia, aumentou 6,3% no mês passado. Foi melhor que as expectativas dos analistas, de 4,5%, pois a indústria manufatureira do país se recuperou de interrupções e bloqueios na cadeia de suprimentos.

Julian Evans-Pritchard, principal economista da Capital Economics para a China, disse que, embora a indústria tenha se saído um pouco melhor, as perspectivas são "sombrias", pois a maior parte da economia perdeu força no mês passado.

"Não há perspectiva de a China suspender sua política de Covid zero no futuro próximo, e não esperamos um relaxamento significativo antes de 2024. Portanto, as disrupções recorrentes do vírus continuarão a pesar na atividade presencial, e outros bloqueios em larga escala não podem ser descartados", acrescentou.

O investimento em ativos fixos cresceu 5,9% nos primeiros nove meses do ano. No entanto, as vendas de imóveis, medidas por área útil, caíram 22% e o início de novas construções caiu 38%, enquanto o investimento imobiliário caiu 8%.

Analistas do Goldman Sachs observaram que os dados de atividades relacionadas a imóveis permaneceram deprimidos em setembro, especialmente para novas casas e vendas de imóveis. O volume de transações de novas residências em 30 cidades caiu 18% ano a ano em outubro até agora, conforme dados do Goldman.

"Apesar de mais medidas locais de flexibilização da habitação nos últimos meses, acreditamos que os mercados imobiliários em cidades de nível inferior ainda enfrentam fortes ventos contrários dos fundamentos de crescimento mais fracos do que as grandes cidades, incluindo saídas líquidas de população e possíveis problemas de excesso de oferta", disse o banco norte-americano.

Os formuladores de políticas afrouxaram gradativamente este ano as principais taxas de juros e tomaram medidas para acelerar a conclusão de projetos de construção de moradias, que foram adiados após uma série de inadimplências em incorporadoras altamente endividadas, como a Evergrande.

Mas eles pararam de implementar grandes medidas de estímulo e agora enfrentam uma moeda enfraquecida e um mercado de ações doméstico que perdeu 34%, contabilizando a queda do renminbi em relação ao dólar.

"Ainda achamos que uma melhora significativa nas condições de financiamento das empreiteiras pode exigir maior flexibilização", disseram analistas do Goldman, "e há uma necessidade de apoio incremental às políticas para reforçar o sentimento do comprador de imóveis e conter possíveis riscos de cauda".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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