Alto custo da moradia impulsiona habitação coletiva em Nova York

Dormitórios para adultos estão em alta depois de declínio na pandemia, e empreiteiras se adaptam à nova tendência

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C. J. Hughes

No início, Lindsey Tindage, uma recrutadora corporativa de 27 anos, desconfiava do "co-living", ou coabitação, um modelo de moradia que reúne desconhecidos em um esquema semelhante a um dormitório estudantil.

"Parecia algo provisório, porque tudo parecia fácil demais", disse ela. Mas depois de se mudar de Los Angeles para Nova York, em 2021, ela teve dificuldade para encontrar um imóvel e decidiu experimentar a vida comunitária.

Agora, um ano e meio depois de alugar um quarto num apartamento mobiliado no Brooklyn, compartilhado com pessoas desconhecidas, Tindage está adorando. "O co-living tirou todo o estresse da mudança", disse ela.

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Lindsey Tindage, em seu quarto no apartamento mobiliado no Brooklyn que ela divide com outras pessoas há 18 meses - Desiree Rios/The New York Times

Após um período conturbado durante a pandemia, quando o interesse por morar com desconhecidos despencou, os provedores de coabitação agora contam com clientes satisfeitos, como Tindage, para ajudar a revigorar seus negócios.

Com os custos de moradia subindo, a demanda por formas alternativas está crescendo, e "dormitórios para adultos", como os arranjos de convivência são frequentemente chamados, estão em alta nos Estados Unidos.

O número de quartos disponíveis ou em construção em todo o país aumentou 20% na comparação entre 2020 e 2022. Há de cerca de 74 mil unidades, segundo dados da firma de serviços imobiliários comerciais Cushman & Wakefield.

Como os quartos são alugados separadamente, os apartamentos criados para co-living podem conseguir aluguéis até 50% mais altos do que os que envolvem projetos tradicionais, dando aos proprietários um forte incentivo para adotar o novo esquema.

O modelo de negócios evoluiu na última década, quando startups como a Starcity operavam grandes portfólios de edifícios convertidos em instalações de coabitação.

Agora, muitos operadores querem ser conhecidos menos como proprietários do que como plataformas tecnológicas que eliminam as dores de cabeça de juntar colegas de moradia e administrar orçamentos de apartamentos.

"Nós combinamos pessoas que têm os mesmos interesses", disse Sergii Starostin, que ajudou a fundar o Outpost Club de Nova York em 2016.

Apesar do crescimento recente, o setor está enfrentando grandes desafios, como inquilinos insatisfeitos, maiores exigências legais e escassez de locais. Isso forçou alguns fornecedores a se adaptarem, adotando um modelo de hospedagem com estadias mais curtas, reforçando o número de funcionários e a análise dos possíveis inquilinos. Outros fundiram ou adquiriram rivais, mas muitos fecharam.

"A maioria das empresas que surgiram em 2017 e 2018 não existe mais", disse Brad Hargreaves, fundador da Common, pioneira no setor. A firma foi criada em 2015 no Brooklyn e hoje administra 7.000 quartos em 80 prédios em lugares como Birmingham, no Alabama; Seattle, em Washington; e Tampa, na Flórida.

Outros 18 mil quartos estão previstos para os próximos cinco anos, disse Hargreaves, acrescentando que as empresas que faliram geralmente pagaram grandes quantias para alugar prédios inteiros, em vez de cobrar taxas com base em aluguéis, como a Common, que adquiriu os ativos da Starcity no ano passado.

"Nosso modelo tem dado certo em todos os sentidos", afirmou ele.

Hargreaves não quis dizer se a Common é rentável. Como outros provedores de convivência, ela foi alimentada por capital de risco, no seu caso no valor de US$ 113 milhões em várias rodadas de captação de recursos.

Ser grande e bem financiado não parece evitar problemas. No último semestre, alguns inquilinos da Common fizeram reclamações sobre brigas entre colegas de apartamento, falta de higiene e segurança inadequada, o que obrigou o proprietário a dobrar o tamanho de suas equipes de apoio.

Em agosto, Hargreaves deixou o cargo de CEO e foi substituído por Karlene Holloman, veterana da indústria hoteleira. Ele permanece como presidente e diretor de criação.

À medida em que o co-living se multiplica, as autoridades parecem estar prestando mais atenção. Letitia James, procuradora-geral do estado de Nova York, disse neste ano que está monitorando questões de código de habitação e outras possíveis violações de convivência.

Mas legisladores de outras cidades que enfrentam crise habitacional, como a Filadélfia, consideram permitir o desenvolvimento desse tipo de hotel novamente. Do jeito que está, pode ser difícil encontrar locais, dizem os desenvolvedores.

Desde a pandemia, os terrenos industriais que antes eram propícios para moradias compartilhadas estão em maior demanda por armazéns e centros de remessa: os fabricantes tentam desobstruir as cadeias de suprimentos.

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Carissa Villafaña, na cozinha de uma casa de seis quartos que compartilha com não parentes em Oakland. Ela mora em espaços de convivência desde 2018, quando teve que encontrar um lugar para morar rapidamente depois de um período no Caribe para o Corpo de Paz - Jim Wilson/The New York Times

Outros provedores arranjam problemas alugando quartos por 30 dias ou menos, um período de permanência normalmente proibido em Nova York.

Algumas empresas de co-living começaram a comprar hotéis esvaziados pela pandemia, oferecendo planos de associação que evitam infringir as regras sobre estadias curtas em prédios de apartamentos.

Por exemplo, a Outsite, empresa de seis anos com 45 localizações globais, comprou na última primavera um antigo hotel com 21 quartos no bairro de Chelsea, em Manhattan. A propriedade, que custou US$ 9 milhões, será reaberta em novembro para associados do Outsite, que poderão se hospedar por apenas três noites.

Em 2021, a Harrington Housing, empresa de Toronto com cinco anos, assumiu o controle dos hotéis Mansfield e Seton e parte do hotel Belvedere, três propriedades na região central de Manhattan que haviam sido esvaziadas por falta de turistas.

A Harrington reformou os imóveis para acrescentar cozinhas comunitárias, transformou escritórios em lounges de karaokê e poços de ar em pátios, enquanto removeu os balcões de recepção para criar salas de estar. Os inquilinos, que incluem muitos estudantes estrangeiros, podem se hospedar por períodos mínimos de três dias.

O portfólio da Harrington agora é quase totalmente composto por hotéis como esses, e a empresa tenta dar um giro enquanto os reguladores se apressam, segundo Jonas Emre, CEO da empresa.

"As leis de habitação atuais têm décadas e se concentram nas relações tradicionais de senhorio-inquilino", disse Emre. "Mas a convivência está quebrando esses relacionamentos."

Outros provedores pareciam ter entendido a mensagem sobre uma nova era. A Bungalow, empresa de cinco anos que administra 1.380 propriedades em lugares como Atlanta, San Antonio e Orange County, na Califórnia, se renovou.

Para criar um clima doméstico mais estável, alguns provedores acabaram com as locações curtas. O Outpost Club inicialmente permitia que os inquilinos se hospedassem por apenas um mês. Agora a empresa insiste em um contrato mínimo de 12 meses.

"Não se trata mais de flexibilidade", disse Starostin.

Outras empresas ajustaram tanto seus planos de negócios que quase não se parecem mais com empresas de coabitação. Por exemplo, o provedor de co-living Venn não aluga mais apartamentos, mas se une a proprietários e organiza eventos sociais para inquilinos, o que ajuda a formar comunidades.

Para outras, ainda, os últimos dois anos foram difíceis. As empresas que fecharam incluem a Quarters, que declarou falência em janeiro de 2021; a Collective, que faliu em setembro de 2021; e a WeLive, filial residencial da WeWork, que fechou no verão de 2020. Mas o antigo local da WeLive em Nova York, na 110 Wall Street, agora é alugado pela Harrington e Placemakr, plataforma de hospitalidade e convivência.

A Outpost, que absorveu as locações de quatro empresas de convivência fechadas nos últimos anos, agora tem 2.500 leitos em 40 prédios. Manter a paz se resume a quantas pessoas cuidam dos inquilinos, o que a Outpost consegue com 90 funcionários em todos os seus imóveis.

"Nós selecionamos muito e estabelecemos um nível muito, muito alto", disse Starostin.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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