Descrição de chapéu Mercado imobiliário

Construtoras investem ao redor de empreendimentos para conquistar a vizinhança

Estratégias incluem tapumes com arte, espaços para cachorros e reformas no entorno

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São Paulo

A chegada de um novo empreendimento no bairro é sinônimo de meses de obra e seus inconvenientes. Para tentar mitigar os transtornos e a resistência de vizinhos aos seus lançamentos, construtoras e incorporadoras em São Paulo e no Rio investem em estratégias e valorizam seu principal ativo: a sua marca.

A Trisul fechou parceria com a Cobasi para a criação de parques públicos com foco em quem passeia com os pets próximo aos terrenos dos seus lançamentos.

"É um tratamento de gentileza urbana, com equipamentos que a sociedade pode utilizar. Ajuda na marca e na convivência. Obra é sujeira, tem barulho. Essa é uma forma de boas-vindas", afirma Penélope Mouro Giovanetti Bernardo, superintendente de desenvolvimento de produto e PDV da Trisul.

Os parques ficarão abertos diariamente, inclusive aos fins de semana, e a empresa promete opções de lazer e entretenimento para os vizinhos dos empreendimentos e seus animais de estimação.

O primeiro bairro com o espaço é a Vila Madalena, onde está sendo construído o condomínio de altíssimo padrão Península. Prédio de 96 apartamentos com área útil de até 374 m².

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Pet park instalado em frente a empreendimento da Trisul em parceria com a Cobasi; o objetivo é que todos os lançamentos da construtora tenham o espaço - Trisul/Divulgação

A Cyrela fez parceria com a Posto 11 para utilização de duas quadras de areia onde haverá aulas de beach tenis e futvolei na zona leste. "Abrimos neste mês a Arena Vivaz, na Vila Prudente, e, enquanto não começamos a obra do empreendimento, construímos um espaço com o desejo de que ele vire um ponto de encontro dos moradores do bairro", diz João Quina, gerente comercial da Cyrela.

"Entendemos que um espaço como esse traz vida para o bairro e melhora a nossa região de atuação", afirma Quina.

Outra parceria da Cyrela mantém o Programa Vizinhança do Saber, que investe em espaços de aprendizagem existentes na vizinhança dos empreendimentos. "Sabemos do impacto que um empreendimento imobiliário gera na vizinhança, por isso, nos sentimos responsáveis para garantir que esse impacto seja positivo."

Ações voltadas ao bem-estar da vizinhança devem ser aplicadas desde o projeto até o pós-obras e ter foco no ESG, segundo Marcelo Dzik, diretor executivo de incorporação da Even, outra empresa de capital aberto.

"Os vizinhos são eventuais clientes. Temos todos os motivos para nos preocupar com impactos nos relacionamentos", afirma Dzik.

"Durante a obra, temos tapumes com coleta e reciclagem de lixo, por exemplo. Na estratégia de divulgar os empreendimentos, para dar vida ao espaço, fazemos eventos com food truck", conta o executivo.

O mercado imobiliário está respondendo à tendência geral de consumo mais sustentável e cobra das empresas uma preocupação com reaproveitamento de material, logística reversa, neutralização de carbono e com o impacto da construção no entorno, incluindo o visual.

Há menos de duas décadas no mercado imobiliário, a Viewco reformou a viela da comunidade Mauro 1, onde vivem cerca de 500 famílias no bairro São Judas (zona sul da capital paulista).

No local, conhecido como Beco da Cultura por promover artistas locais, há agora equipamentos de ginástica, brinquedos e espaço destinado a exposições e apresentações artísticas. A utilização do espaço foi definida em conversas com líderes da comunidade.

O projeto começou pela pintura do muro do terreno do empreendimento ClubeLine São Judas, com 4.400 m², planejada e executada pelo artista plástico João Guilherme Bandeira, o Cabeça de Xícara, que mora na comunidade.

"Queriam que a comunidade se visse no meu trabalho", conta Bandeira, que pintou o muro durante a pandemia.

O muro foi derrubado, mas a parceria com a comunidade seguiu para o novo Beco da Cultura, projetado por um escritório de arquitetura e aprovado na prefeitura. "Nossas conversas continuam para que profissionais da comunidade sejam contratados pelos futuros moradores para serviços de pintura nos apartamentos, faxina, preparação de marmita e o que mais houver demanda", afirma Fabio Felippe de Andrade, diretor de incorporação da Viewco.

Vizinho da comunidade, o empreendimento da construtora terá 700 apartamentos, de 1,2 e 3 dormitórios, a partir de R$ 260 mil. A Viewco projeta um VGV (Valor Geral de Vendas) da ordem de R$ 240 milhões.

Fundada em 2017, a Vita Urbana constrói imóveis compactos em São Paulo e projeta um VGV de R$ 523,8 milhões até 2025 em dez lançamentos. Um deles, na Vila Madalena, inclui no projeto a revitalização da Escadaria Tim Maia.

O local vai receber nova arquitetura e um restaurante, além de espaço para arte. "O sonho é ser um novo Beco do Batman", diz André Kovari, um dos sócios da incorporadora

"Não queremos criar muros além do necessário para a segurança nos nossos projetos. O objetivo é deixar algo para a cidade", afirma o empresário.

Escadaria Tim Maia, na Vila Madalena (SP)

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Incorporadora Vita Urbana planeja revitalizar o local e incluir um restaurante - Zanone Fraissat/Folhapress

Para a Tecnisa a nova política da empresa busca reaquecer a marca no mercado e quer ouvir os consumidores.

"Há duas formas de ver uma obra de parceria: ser menos malvista, o que não é o nosso caso, e querer ser uma empresa cidadã, convivendo com os players", diz Fernando Tadeu Perez, presidente da construtora.

Cliente é vizinhança do passado ou cliente do futuro

Fernando Tadeu Perez

da Tecnisa

O executivo conta que, após 40 anos de "extremo sucesso", a Tecnisa tem enfrentado dificuldades com o aumento de distratos nos últimos cinco anos, exigindo mudanças que resultam numa nova visão cultural.

Embora tenha enfrentado resistência interna, a construtora está investindo em torno de R$ 200 mil no programa Boa Vizinhança, com o objetivo de atender todos os vizinhos de uma obra num raio de 100 m a 200 m.

"Logo no início do projeto do empreendimento, antes mesmo da demolição, mandamos carta para os vizinhos, explicando sobre a obra, e um mimo. Além de informar um telefone para que possam entrar em contato conosco", diz Perez.

A empresa implantou o projeto em julho, em Pinheiros (zona oeste), e quer tê-lo em mais oito empreendimentos até o final deste ano. "Diminuiu muito o número de reclamações e queixas nas nossas contas nas redes sociais. Só de ser ouvida pela empresa, a pessoa já se sente respeitada", afirma o executivo.

No Rio de Janeiro, o Opportunity Imobiliário reformou a praça de frente ao histórico Hotel Glória, que está revitalizando. "Fizemos o plantio de mudas, a iluminação e a limpeza do entorno. Não são obras de compensação. É para mostrar a transformação do ambiente, os benefícios da região antes mesmo do prédio pronto. Virar o holofote em uma região que estava esquecida e mostrar que o empreendimento está bem localizado", afirma Cristina Gravina, líder de produto e marketing da empresa.

No empreendimento Quinta das Amoras, em Teresópolis (RJ), que recebeu investimento R$ 10 milhões, a construtora tenta unificar e profissionalizar o comércio local.

"Estamos inseridos num contexto, que é a região. Contratamos um antropólogo para saber as reais necessidades da população. Há falta de saneamento, então vamos doar fossa", conta Victorio Abreu, da Areaum.

"Queremos revitalizar a estrada e, sem tirar as características das pessoas, transformar a região para que se torne uma rota de compra dos produtos produzidos pelos agricultores locais", afirma Abreu.

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Ator Bruno Gagliasso, sócio do projeto, planta muda de árvore no Quinta das Amoras, em Teresópolis (RJ) - Divulgação Areaum Participações

"É devolver ao bairro alguma coisa", diz Eduardo Cruz, diretor da Itten Incorporadora, que instalou tapume com kits higiênicos para pets na obra do Praia Residencial Mar, na Barra da Tijuca (RJ).

"Cerca de 80% dos moradores dessa região tem pet. Em outro empreendimento, no Botafogo, vamos colocar um banco para as pessoas esperarem ônibus, porque notamos que o local necessita. É uma forma de ajudar a resolver alguma dificuldade da população", afirma Cruz.

"Não custa praticamente nada para as empresas aplicar o conceito de gentileza urbana, e a receptividade é muito boa ", diz o empresário.

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