Quem é Aloizio Mercadante, futuro presidente do BNDES no governo Lula

Ministro do governo Dilma reconquistou confiança do presidente após coordenar programa de governo

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São Paulo

O ex-ministro Aloizio Mercadante, 68, foi anunciado nesta terça-feira (13) como presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mercadante atuou como coordenador técnico da equipe de transição de Lula e, após uma trajetória de redenção, já era um nome esperado para comandar o banco —o que provocou uma reação ruim do mercado financeiro.

Ele trilhou um árduo caminho até aqui. Quando foi indicado para a coordenação do plano de governo de Lula, petistas chegaram a brincar que aquele seria um estágio probatório. Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação; da Educação e Chefe da Casa Civil do governo Dilma, foi apontado pelos petistas como corresponsável pela crise que culminou no impeachment da ex-presidente.

O ex-ministro Aloizio Mercadante
O ex-ministro Aloizio Mercadante - Eduardo Anizelli -5.fev.2020/Folhapress

Foi debitada na conta de Mercadante a estratégia de se contrapor ao PMDB (hoje MDB) dentro do Congresso Nacional, articulação que, fracassada, não impediu a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Cunha conduziu o impeachment de Dilma.

Petistas também atribuem ao ex-ministro a decisão de Dilma de persistir na candidatura à reeleição em 2014, no momento em que aliados de Lula tentavam convencer o ex-presidente a disputar o Planalto como saída para a crise política e econômica que se instalava no país.

Segundo petistas, foi Mercadante quem insistiu para que Dilma concorresse sob o argumento de que Lula não pretendia se candidatar.

Responsabilizado por seus pares, o petista acabou sendo alijado do núcleo de colaboradores de Lula.

Amigos dos ex-ministro minimizam seu papel na crise enfrentada pelo PT. Afirmam que Dilma nunca insistiria na própria candidatura caso Lula quisesse realmente concorrer na eleição de 2014. Lembram ainda que Mercadante tinha deixado a Casa Civil e assumido o Ministério da Educação nove meses antes do impeachment da ex-presidente.

Alegam também que a continuidade do processo da Lava Jato durante o governo Michel Temer (MDB) prova que o problema encarado por Dilma não se restringia a uma deficiência na articulação política, mas à sua resistência a pautas posteriormente abraçadas pelo sucessor.

Argumentos em defesa do ex-ministro não mitigavam as críticas de petistas. Colegas de partido ressuscitavam até casos de 1994, quando ele teria minimizado o sucesso do Plano Real, que garantiu a eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), derrotando Lula.

Vice de Lula na corrida pela Presidência, Mercadante teria lamentado integrar a chapa naquele ano, por ter perdido a chance de se reeleger deputado federal, segundo contam dentro do PT.

Além disso, ele disse que não se reconhecia dentro do PT, durante as revelações do chamado escândalo do mensalão. O ex-ministro disse ainda que não via projeto político para o PT sem medidas saneadoras.

A postura alimentou desafetos dentro do partido, muitos deles do círculo de amigos de Lula. Em 2020, o ex-ministro Fernando Haddad convenceu Lula a apoiar o nome de Mercadante para a presidência da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.

Foi aberto o caminho para sua redenção. À frente da Fundação, ele coordenou produção de extenso material, entre eles o que propôs a ampliação do Bolsa Família para redução de danos da pandemia. Ele também liderou os núcleos de acompanhamento de políticas públicas, que serviram de base para debate de propostas para um programa de governo.

Dono de grande capacidade de trabalho, ele promoveu, na sede da fundação, reuniões e debates que antecederam a campanha de Lula, oficialmente iniciada em maio deste ano.

Nomeado coordenador de programa de governo, se reunia, virtual ou presencialmente, com os representantes dos demais partidos aliados em debates que consumiam as tardes. As reuniões aconteciam ainda nos fins de semana.

Um dos fundadores do PT, Mercadante acompanhou Lula nas viagens de campanha durante todo o primeiro turno, coordenando à distância a redação do plano de governo.

No segundo turno, foi artífice de encontros, como o de ex-candidatos à Presidência e ex-ministros do governo FHC.

Bacharel em economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), mestre em ciências econômicas e doutor em teoria econômica pela Unicamp, Mercadante também subsidiava Lula na preparação para debates e encontros com representantes do mercado e empresariado.

Professor aposentado de economia pela Unicamp e professor licenciado pelo Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), fazia as vezes de mestre de cerimônias.

Em um desses eventos, repreendeu o deputado eleito Eduardo Suplicy, que interrompeu a apresentação das diretrizes do plano de governo para dizer que lá não constava a sua proposta de renda básica.

"Você poderia olhar com mais cuidado", respondeu o ex-ministro.

O tom professoral é apontado, por aliados, como um traço do petista. Aliados de Lula afirmam, no entanto, que ele esteve bem mais leve durante a campanha. Hoje elogiado por petistas, Mercadante terá, na opinião de colaboradores de Lula, uma vaga no governo. Mas não deverá ser o Ministério da Fazenda.

Há 42 anos no PT, Mercadante participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e foi eleito senador por São Paulo em 2002, com 10,5 milhões de votos. Foi líder do PT na Câmara e no Senado. Em 2010, perdeu para o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, a eleição para o governo de São Paulo.

Sua produção acadêmica inclui "Como bases de desenvolvimento no Brasil: análise do governo Lula". Pai de dois filhos, ele dedica seu tempo aos seus quatro netos.

RAIO-X

Aloizio Mercadante, 68, anunciado como futuro presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social)

Formação
Bacharel em economia pela USP, mestre em ciências econômicas e doutor em teoria econômica pela Unicamp.


Carreira
Foi ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação; da Educação e Chefe da Casa Civil do governo Dilma, e atuou como coordenador técnico da equipe de transição de Lula. É professor aposentado de economia pela Unicamp e professor licenciado pelo Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Eleito senador por São Paulo em 2002, com 10,5 milhões de votos, foi líder do PT na Câmara e no Senado. Em 2010, perdeu para o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, a eleição para o governo de São Paulo.

Publicações
Sua produção acadêmica inclui "Como bases de desenvolvimento no Brasil: análise do governo Lula".

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