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Fnac recua e volta a vender jogo antifascista criticado pela extrema direita na França

Vendas haviam sido suspensas no início da semana após alertas de clientes sobre conteúdo

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RFI

O jogo de tabuleiro "Antifa", criado por um coletivo antifascista, havia sido retirado das prateleiras da rede de lojas francesa após protestos de vários políticos do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) e de um sindicato da polícia francesa. Na noite de terça-feira (29), a Fnac anunciou que voltou a vender o produto, alegando que "não tem nenhum elemento que impeça sua comercialização". O RN lançou na manhã desta quarta-feira (30) uma campanha de boicote contra a lojas que vendem o jogo.

A venda do "Antifa" tinha sido suspensa na segunda-feira (28). Em um comunicado, a Fnac explicou que suas equipes "tinham sido alertadas por alguns clientes" sobre o conteúdo do jogo. A polêmica foi lançada pelo SCPN (Sindicato dos Comissários da Polícia Nacional), que, junto a uma foto da caixa do produto, protestou contra a Fnac no Twitter, no último sábado (26). "Fnac, o que você tem a dizer por destacar os antifas, que quebram, incendiam, a agridem nas manifestações?", publicou.

A rede de lojas indica que "desconhecia o conteúdo exato do jogo e por isso suspendeu a venda por precaução até que uma análise detalhada pudesse ser feita". Após a verificação, "constatamos que o jogo não possui nada que justifique a sua não comercialização", conclui o texto.

O jogo Antifa foi alvo de reclamações da extrema direita da França e teve que ser retirado do catálogo da Fnac - FNAC/Divulgação

Na manhã desta quarta-feira (30), o vice-presidente da Reunião Nacional, Louis Aliot, lançou uma campanha de boicote.

"Peço que os consumidores sejam responsáveis e não frequentem mais as lojas que vendem o jogo "Antifa", editado pela Libertalia", afirmou Aliot, que também é prefeito de Perpignan, em uma entrevista ao canal RMC-BFMTV.

'Joguem contra a extrema direita'

"Afirmações racistas, manifestações homofóbicas, violências fascistas, chega: joguem contra a extrema direita!", propõe "Antifa - O Jogo", que voltou a ser vendido pelas lojas Fnac. A embalagem explica que a brincadeira de simulação cooperativa aceita de dois a seis participantes a cada partida.

"Casa 1: bloqueio uma universidade; casa 2: "espanco um militante de direita"; casa 3: "ataco um comício do Reunião Nacional", casa 4: "lanço um coquetel molotov contra a polícia. Fnac, você não tem vergonha?", tuitou no final de semana o deputado de extrema direita, Grégoire de Fournas, pedindo a retirada do jogo. O político proferiu uma frase racista na Assembleia Francesa no início de novembro.

"Dar destaque aos antifas, esse grupo raivoso que utiliza a violência apenas para atacar a nossa democracia e ao que temos de melhor em nosso país... Absolutamente escandaloso!", tuitou outro deputado do Reunião Nacional, Victor Catteau.

Fabricante e criador do jogo protestam

A editora independente Libertalia, responsável pela fabricação do jogo, bem como o coletivo La Horde, criador do "Antifa", denunciaram serem vítimas de censura, após "alegações mentirosas da extrema direita". Em seu site, a editora apresenta "Antifa - O Jogo" como "uma brincadeira de simulação e de gestão" na qual os participantes encarnam "um grupo antifascista local", colocando em prática "ações que demandam tempo, meios e um pouco de organização".

Em entrevista ao jornal Le Monde, Hervé de la Horde, autor do jogo, se defendeu das acusações da extrema direita, afirmando "a iniciativa de diabolizar os antifas". "Em nenhum momento o jogo incita o ataque às pessoas. Pode haver danos a propriedades, mas nunca às pessoas", diz.

A Libertalia e muitos internautas protestaram contra a decisão da Fnac de retirar o produto das prateleiras. A polêmica trouxe notoriedade ao jogo. Cerca de 4.000 exemplares da nova edição do "Antifa" colocados à venda no site da editora há um mês se esgotaram rapidamente.

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