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Google avança no mercado de banda larga e TV paga nos EUA

YouTubeTV e Google Fiber tiveram expansões neste ano e devem estimular mudanças no setor

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São Paulo

Nos últimos meses, o Google fez avanços para atender mais clientes com serviços de TV paga e internet banda larga. Por ora, no entanto, os movimentos parecem ser mais na direção de influenciar mudanças nesses mercados do que de dominá-los.

Em 2022, o Google Fiber chegou a mais dois estados americanos, Iowa e Arizona, e atende atualmente 24 cidades, incluindo Miami e San Francisco, com pacotes de internet via fibra óptica que chegam a 2 GBps (gigabit por segundo).

Detalhe de veículo de serviço do Google Fiber em Salt Lake City, nos EUA - MIke Blake - 28.set.2017/Reuters

No começo de outubro, a empresa anunciou que passará a oferecer conexões de 5 GBps e 8 GBps, por até US$ 150 (R$ 800) por mês. O pacote atual de 2 GBps custa US$ 100 (R$ 534).

Na TV paga, o YouTubeTV, serviço que pertence ao Google, oferece programação ao vivo de centenas de canais tradicionais dos EUA. A plataforma anunciou ter atingido 5 milhões de usuários em julho, o que a coloca como a quinta maior do país, segundo dados da consultoria LRG.

O YouTubeTV traz os mesmos canais das demais operadoras dos EUA, só que envia a programação pela internet. No mercado americano, é comum que as empesas cobrem aluguel de equipamentos, como o decodificador. Sem isso, o preço fica mais em conta. A mensalidade do serviço digital parte de US$ 64,99 (R$ 347).

"O preço é o principal fator do YouTubeTV para atrair clientes, especialmente os mais jovens", comenta Bruce Leichtman, presidente da consultoria LRG.

Há uma mudança geracional em curso: 74% dos americanos entre 18 e 34 anos dizem preferir o conteúdo sob demanda à TV tradicional, segundo pesquisa da LRG. Entre os maiores de 55, a prioridade se inverte: 68% priorizam a programação linear e ao vivo.

"Os mais jovens preferem cada vez mais assistir conteúdo sob demanda. E os principais atrativos da TV ao vivo, como notícias e esportes, estão sendo oferecidos por outros meios, fora dos pacotes de TV por assinatura", prossegue Leichtman.

Com isso, o movimento de abandono da TV paga, apelidado de "cord-cutting" (cortar os fios), prossegue. No 2º trimestre de 2022, 1,9 milhão de clientes americanos cancelaram o serviço e não assinaram outro similar.

Leichtman avalia que o Google não parece ter a intenção de dominar o mercado de TV paga, mas sim de marcar presença e ir testando novas fontes de receita, como os anúncios personalizados exibidos para quem assiste a YouTubeTV.

Na banda larga, o objetivo parece ser forçar o avanço rumo a velocidades mais rápidas, algo que facilita o consumo dos produtos digitais do Google.

"O maior impacto do Google Fiber não tem sido em termos de número de usuários, mas forçar as operadoras atuais a melhorar suas redes de banda larga", avalia Jeff Heynen, vice-presidente da consultoria Dell'Oro Group.

"Há casos como o de Raleigh, na Carolina do Norte, onde o Google Fiber chegou e forçou a AT&T a atualizar seu serviço e adotar o uso completo de fibra", ilustra Heynen.

O Fiber foi lançado em 2010, com estardalhaço. No entanto, cresceu de forma lenta e teve a expansão congelada em 2016. Anúncios de novas cidades só vieram em 2021, em meio ao aumento do consumo de dados nas casas, trazido pela pandemia, e de um plano do governo do democrata Joe Biden para investir US$ 80 bilhões para ampliar a conectividade no país, especialmente com o uso de fibra óptica.

"Nos últimos anos, estivemos ocupados trabalhando nos bastidores, com foco na visão de prover o melhor serviço possível de internet, por meio de refinamentos sem descanso em nossos produtos", justificou Dinni Jain, CEO da Google Fiber, em um blog da empresa.

Em um sinal de que os serviços de telecom ainda são secundários, a Alphabet, nome corporativo adotado pelo Google após uma reorganização em 2015, não detalha os planos nesta área.

No balanço, esses serviços entram na categoria "outras apostas", que geraram US$ 633 milhões de faturamento no primeiro semestre de 2022, junto com outras iniciativas. Uma delas é o Google Fi, serviço de telefonia móvel que usa redes de outras operadoras para fornecer acesso 5G, e sobre o qual também há poucos dados públicos.

O montante gerado pelas "outras apostas" é pequeno perto do faturamento total da empresa, de US$ 137 bilhões. Os negócios mais rentáveis para a Alphabet seguem sendo os serviços de busca (US$ 80 bilhões de faturamento no semestre) e anúncios no YouTube (US$ 14 bilhões).

Mesmo com muito dinheiro em caixa, especialistas apontam que é difícil disputar espaço em mercados onde há líderes consolidados sem trazer uma inovação disruptiva, mas apenas melhorias incrementais, como o Google vem fazendo.

A Netflix, por exemplo, revolucionou o mercado de conteúdo em vídeo ao trazer a possibilidade de ver séries e filmes a qualquer hora, de modo fácil. Já ampliar a velocidade da conexão e fornecer acesso à TV pela internet são coisas que as operadoras também estão fazendo, inclusive no Brasil.

Procurado pela Folha, o Google Brasil não respondeu se teria planos de trazer seus serviços de TV e internet ao país.

"Oferecer estes serviços aqui é complicado, pois há muitas questões regulatórias que as empresas têm de cumprir para operar e implantar", avalia Mercedes Mendes, gerente na consultoria BB Media.

Um exemplo desta complexidade é a diferença de taxação entre TV fornecida por cabo ou satélite e pela internet. "A Anatel decidiu que TV por assinatura tradicional paga ICMS, com alíquota entre 12% e 18%, enquanto serviços de streaming pagam ISS, um imposto municipal, entre 0 e 5%", explica Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.

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