Descrição de chapéu Auxílio Brasil

PEC está sendo feita sem ministro, valor ou conversa, diz líder do governo no Senado

Carlos Portinho afirma que novo governo discute texto da transição para manter Bolsa Família em 'confraria' interna

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Brasília

Para o líder do governo Jair Bolsonaro (PL) no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), a PEC da Transição —principal aposta do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para pagar o Bolsa Família no ano que vem— está sendo construída em uma "confraria do PT", sem diálogo, nem valores concretos.

"[O texto está sendo elaborado] Sem ministro [da Economia], sem proposta, sem valor e sem conversa. Não tem como a gente aprovar isso, não tenho nem como responder [qual a posição do governo]. Em princípio, de bate-pronto, impossível [apoiar]", disse à Folha.

Líder do governo Bolsonaro no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), em discurso na tribuna da Casa - Pedro França/Agência Senado

A entrega da PEC acabou adiada em meio à falta de acordo político no Senado, e agora o governo de transição promete apresentar o texto nesta quarta-feira (16).

A proposta precisa ser aprovada nas duas Casas ainda neste ano para que a próxima gestão consiga manter o pagamento do valor de hoje, mas, no atual cenário, a PEC pode enfrentar resistência da base do governo no Senado porque, segundo Portinho, está sendo construída de forma atropelada.

"Isso está sendo discutido dentro de uma confraria do PT e dos partidos aliados. Isso é um erro político tão grande. Já há insatisfação de vários partidos, porque estamos sendo colocados a reboque, no atropelo, porque eles não estão conversando [com a base do governo]", afirma.

"Eu teria feito o contrário, eu sentaria com o partido do governo, com o líder. Falaria ‘vem cá, estamos pensando assim, assado’. Aqui é que eles têm que fazer trabalho político. Não tem trabalho político nenhum. Estão fazendo gestos completamente errados."

A ideia da PEC de Transição é deixar as despesas do Auxílio Brasil —que voltará a se chamar Bolsa Família— de fora do teto de gastos (o limite fiscal que limita o avanço das despesas pela variação da inflação) e, assim, conseguir manter o valor atual de R$ 600 no próximo ano.

A mudança deixaria cerca de R$ 175 bilhões de fora da regra fiscal, enquanto os R$ 105 bilhões atualmente reservados para o programa social seriam redistribuídos a outras áreas que correm risco de apagão —como os programas Farmácia Popular, Minha Casa, Minha Vida, e a Lei Aldir Blanc.

Aliados de Lula têm batido na tecla de que os dois candidatos se comprometeram em manter o valor do Auxílio Brasil, e que o atual presidente também precisaria furar o teto de gastos para pagar o benefício a partir do ano que vem.

Portinho afirma, no entanto, que a conta de Bolsonaro para garantir o auxílio seria bem menor, e que a indefinição sobre os rumos do Ministério da Economia assusta o mercado financeiro. Pelos cálculos do atual governo, o Auxílio Brasil custaria um extra de cerca de R$ 50 bilhões.

"Se trouxessem aqui [uma proposta de] R$ 50 bilhões, R$ 60 bilhões, a gente já tinha resolvido a questão", diz Portinho, defendendo que o montante previsto por Lula é muito alto. "O futuro ministro que vai ter legitimidade para tratar disso."

Para o senador, a incógnita sobre o próximo ministro da Economia reduz a credibilidade da proposta e aumenta o receio por parte dos parlamentares, que cobram um fiador político.

Na última semana, o relator-geral do Orçamento, o senador Marcelo Castro (MDB-PI), e a equipe de transição sinalizaram a intenção de excluir o Bolsa Família do teto de gastos permanentemente ou por no mínimo quatro anos. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), por sua vez, defendeu que essa seja uma medida excepcional apenas para 2023.

O líder do governo afirma ainda que o desgaste não coloca em xeque apenas a aprovação da PEC, mas também os rumos do Senado —onde vem trabalhando para derrotar o atual presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e assumir o comando da Casa em 2023.

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, já afirmou que o partido terá candidato próprio nessas eleições, concorrendo com Pacheco, que articula o apoio do próximo governo.

A avaliação de Portinho é que Pacheco, na busca por votos da ala petista, se fechou para o diálogo com a bancada do Partido Liberal, que será a maior sigla do Senado em 2023, com 14 cadeiras.

Com a promessa de fazer oposição ao governo Lula, o senador não defende um golpe antidemocrático para evitar que o petista assuma o poder —mas diz ser legítima a insatisfação que motiva os atos em frente a postos militares pelo Brasil.

"Foi uma diferença apertada, campanha polarizada. Um candidato que, para boa parte da população, deveria estar preso, porque houve roubo. Não estou dizendo que foi o candidato ‘a’ ou o ‘b’ [que roubou], mas foi no governo [do PT]. Tem um sentimento, e tem um espasmo, uma ressaca eleitoral", diz.

"Não quero golpe. Eu, particularmente, sou completamente liberal. E não é a primeira vez que falam em intervenção militar. Nos protestos contra a Dilma [Rousseff] já tinha isso. Eu acho que as pessoas têm o direito de pedir isso e a gente tem o dever de mostrar a elas que é antidemocrático", completa.

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