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Sobe e desce do dólar, 'uma loucura' para cubanos em busca de moedas

Governo lançou mercado formal de câmbio, fixando o preço do dólar em 120 pesos, para desarticular venda paralela

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Leticia Pineda
Havana (Cuba) | AFP

O novo mercado de câmbio em Cuba provocou uma reação especulativa que levou o dólar a um preço recorde no mercado paralelo, para depois cair. Esse sobe e desce "é uma loucura", dizem os cubanos, que querem adquirir a moeda para enfrentar a crise econômica, viajar, ou emigrar.

"Isso aqui é uma loucura, porque há muita instabilidade com o preço do dólar", disse à AFP Jaqueline Reyes, universitária de 46 anos à espera da entrega de seu visto para viajar.

No início do mês, o dólar americano atingiu um preço recorde de 200 pesos cubanos no mercado informal, bem acima dos 120 pesos nas casas de câmbio do país.

Nota de dólar ao lado de pesos cubanos em Havana - Yamil Lage - 4.ago.2022/AFP

Em apenas três semanas, porém, a moeda caiu para 165 pesos cubanos nas ruas, de acordo com El Toque, um site independente que publica diariamente o preço do dólar no mercado paralelo.

A explicação dos analistas: apesar da escassez de dólares e da especulação que impulsiona seu preço, o alto valor alcançado pela moeda americana desestimula os compradores.

Com a intenção de desarticular o mercado paralelo, o governo lançou em agosto um mercado formal de câmbio, fixando o preço do dólar em 120 pesos.

Para Pavel Vidal, chefe do departamento de Economia da Pontifícia Universidade Javeriana da Colômbia, em agosto e setembro houve uma "reação exagerada", que se deveu "ao efeito das expectativas" pela nova cotação.

A taxa de câmbio "desvalorizou demais (o peso caiu e o dólar subiu), acima do seu valor de equilíbrio de longo prazo e, agora em outubro, vem-se corrigindo" essa situação, afirma o especialista.

Escassez e especulação

"A forte demanda por moeda estrangeira para emigrar e a crise econômica explicam a desvalorização do peso", diz Vidal.

Mais de 200 mil cubanos chegaram aos Estados Unidos irregularmente em um ano, a maioria fugindo da pior crise econômica na ilha em quase 30 anos, causada pela pandemia e pelo reforço do embargo de Washington.

A maioria desses cubanos viaja para a Nicarágua, que não exige visto, de onde partem para o norte. Essa travessia pode custar até US$ 12 mil.

Para conseguir a moeda americana, "é preciso ir, inevitavelmente, ao mercado informal, porque o Estado não tem moeda suficiente para suprir toda demanda", diz Jaqueline Reyes.

As casas de câmbio vendem um limite de cem dólares por pessoa.

O jornal "Granma" publicou um artigo em meados de outubro, afirmando que um negócio "desonesto e ilegal" havia surgido em torno das casas de câmbio.

Muitas pessoas "ficam na fila [para] depois vender sua vez", enquanto outros levam amigos para que cada um adquira cem dólares à taxa oficial de 120 pesos e imediatamente "os revende a 160, ou 170 pesos".

Reyes confirma que é quase impossível comprar dólares nas casas de câmbio, porque esgotam em poucas horas.

"Infelizmente, 70% das pessoas que migram têm que se desfazer de todos os seus pertences, casas, tudo o que tiveram que construir", para obter moeda estrangeira, ressalta a mulher.

'Preço descomunal'

José Antonio Peña, um chef de 56 anos, sustenta ter sido prejudicado pela queda do preço do dólar.

"A minha casa que custava US$ 10 mil, passou a valer 5.000", devido à desvalorização do peso, afirma preocupado.

Para o economista cubano Mauricio de Miranda, a queda do dólar não se deve a uma maior oferta da moeda americana, "mas a uma queda na demanda produzida pelo altíssimo preço alcançado".

Os cubanos, especialmente aqueles que viajam para comprar produtos para revender na ilha, não estão dispostos a comprar a moeda nesses preços, porque seu negócio pode "não ser lucrativo", explica o economista.

O valor do dólar americano começou a disparar no mercado paralelo em janeiro de 2021, quando o governo aplicou uma dolorosa reforma financeira e fixou seu preço em 24 pesos por unidade.

Desde então, "as coisas fugiram do controle [...] Hoje você vai dormir com um preço, e amanhã você acorda com outro", descreve Reyes, que assegura que Cuba "nunca viveu uma situação tão crua, economicamente, como agora".

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