Dólar recua com PEC da Gastança e Lei das Estatais enfrentando resistências no Congresso

Bolsa cai 0,85% com risco de recessão e aversão ao risco global

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São Paulo

O dólar operou em queda firme frente ao real ao longo de todo o pregão desta sexta-feira (16), com o adiamento da votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Gastança na Câmara dos Deputados animando os investidores.

A moeda americana encerrou os negócios em baixa de 0,41%, a R$ 5,2940 para venda. No acumulado da semana, houve queda de 0,34%, com recuo de 5% no ano.

As negociações em torno da PEC da Gastança, que eleva o teto e libera R$ 168 bilhões em despesas ao novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), patinam na Câmara em meio a disputas por ministérios e a incertezas sobre o futuro das emendas de relator após julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal).

O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que a votação do texto ficou para a próxima terça-feira (20) –um dia depois de quando se espera um veredito final da Corte sobre as emendas. A análise do tema foi suspensa nesta quinta e será retomada na segunda.

"A resistência que a pauta enfrenta na Câmara aumenta as chances de desidratação do projeto, já que o futuro governo pretende aprová-la ainda este ano e o Congresso entra em recesso na semana que vem", dizem os analistas da Levante Investimentos em nota.

Cédulas e moedas de dólares dos EUA em cofre em um banco em Westminster, Colorado, EUA
Cédulas e moedas de dólares dos EUA em cofre em um banco em Westminster, Colorado, EUA - Rick Wilking - 3.nov.2009/Reuters

A expectativa dos agentes financeiros de que alterações na Lei das Estatais que blinda as empresas públicas de desmandos políticos encontre no Senado maiores dificuldades para avançar da forma como ocorreu na Câmara também ajuda na queda da moeda americana.

"O adiamento da PEC [da Gastança] e a possibilidade de que tanto ela, quanto a mudança na Lei das Estatais passe para a próxima legislatura foi vista positivamente, pois além de evitar dar o tal `waiver` de gastos tão almejado pelo governo, força uma discussão mais aprofundada dos temas", diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset em relatório.

Bolsas recuam com recado duro dos BCs sobre economia global em 2023

Já a Bolsa de Valores brasileira, que na sessão passada encerrou os negócios estável, operou em baixa, acompanhando a maior aversão a risco nos mercados globais, com o índice Ibovespa encerrando o dia com desvalorização de 0,85%, aos 102.855 pontos. Na semana, o Ibovespa acumulou queda de 2,3% e de 1,9% no ano.

Na contramão do mercado, as ações das estatais subiram, refletindo o alívio dos investidores com a postergação das medidas pretendidas pelo governo eleito para aumentar os gastos e alterar a lei das estatais —as ações do Banco do Brasil avançaram 2%, enquanto as ordinárias da Petrobras subiram 0,3%.

Nas Bolsas dos Estados Unidos e da Europa, os principais índices acionários também recuaram, na esteira das sinalizações transmitidas pelas autoridades monetárias globais indicando um cenário à frente com novas altas de juros para combater a persistente pressão inflacionária.

No mercado americano, o S&P 500 teve desvalorização de 1,11%, enquanto o Nasdaq cedeu 0,97% e o Dow Jones recuou 0,85%.

Nas Bolsas europeias, o tom pessimista também prevaleceu, com perdas de 1,27% do índice FTSE-100, de Londres, queda de 1,08% do CAC-40, de Paris, e baixa de 0,67%, do DAX, de Frankfurt.

"A semana dos bancos centrais trouxe para parte do mercado um sinal amargo de que as políticas monetárias devem sim permanecer contracionistas, apesar dos sinais recentes de arrefecimento de inflação e atividade econômica", diz o economista da Infinity Asset.

Embora tenha reduzido o ritmo de alta dos juros de 0,75 ponto percentual nas últimas reuniões para 0,50 ponto no encontro desta quarta, o banco central dos EUA (Federal Reserve) disse que espera aumentar ainda mais a taxa básica de juros e que deve mantê-la elevada por mais tempo do que o previsto anteriormente, sinalizando que seus esforços para conter a inflação alta provavelmente significarão um crescimento maior no desemprego e uma possível recessão.

Na Europa, o sentimento de aversão ao risco também predomina, depois que o BCE (Banco Central Europeu) aumentou as taxas de juros pela quarta vez consecutiva nesta quinta-feira, embora em magnitude menor do que em suas duas últimas reuniões.

O banco central dos 19 países da zona do euro aumentou a taxa de juros que paga sobre os depósitos bancários de 1,5% para 2%, afastando-se ainda mais de uma década de política monetária ultrafrouxa.

Ainda assim, a decisão marcou uma desaceleração no ritmo de aperto depois de altas de 0,75 ponto percentual em cada uma das duas reuniões anteriores do BCE, que prometeu novos aumentos e apresentou planos para drenar dinheiro do sistema financeiro como parte de sua luta contra a inflação.

"O Conselho do BCE considera que as taxas de juros ainda terão que subir significativamente a um ritmo constante para atingir níveis suficientemente restritivos para garantir um retorno oportuno da inflação à meta de 2% a médio prazo", disse o BCE.

A autoridade monetária europeia também elevou suas projeções de inflação para a zona do euro e disse que o crescimento dos preços permaneceria acima de sua meta de 2% ao longo de um horizonte de projeção que agora se estende até 2025

O banco agora vê a inflação no bloco em 6,3% no próximo ano, em comparação com as expectativas de 5,5% feitas em setembro. Sua previsão para 2024 foi aumentada de 2,3% para 3,4% enquanto que, em sua primeira estimativa para 2025, o BCE vê a inflação em 2,3%.

Ao mesmo tempo, o crescimento econômico sofrerá muito no próximo ano como resultado da guerra na Ucrânia, particularmente por seu impacto na elevação dos preços da energia.

O BCE vê agora o crescimento do PIB em 0,5% no próximo ano, em comparação com os 0,9% previstos em setembro, enquanto que em 2024, está previsto um crescimento inalterado de 1,9%. Em 2025, o BCE prevê um crescimento de 1,8%.

Com Reuters

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