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Bolsa cai 1,7% com avanço da PEC e expectativa de Haddad na Fazenda

Mercado mostra preocupação com facilidade do governo eleito para ampliar gastos

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São Paulo

O índice de referência da Bolsa de Valores brasileira fechou em queda nesta quinta-feira (8), com investidores demonstrando preocupação quanto aos gastos públicos diante do avanço da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição no Congresso e da possível confirmação, esperada para esta sexta (9), de Fernando Haddad como ministro da Fazenda do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Ibovespa terminou a sessão com queda de 1,67%, aos 107.249 pontos. Essa é a menor pontuação para um fechamento da Bolsa desde o início de agosto.

Fernando Haddad
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, cotado para assimir o cargo de ministro da Fazenda no governo de Lula - Adriano Machado - 28.nov.2022/Reuters

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou nesta quinta que Lula deverá anunciar "alguns nomes" que irão compor o seu ministério. Aliados dizem que o presidente eleito confirmará Haddad na Fazenda.

"Apesar de já estar esperando o Haddad, o mercado está muito apreensivo com a aprovação da PEC da Transição", comentou Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.

Dúvidas sobre o quão flexível será a política fiscal do governo com Haddad à frente da economia e, principalmente, sobre como o governo empregará os recursos obtidos com a PEC da Transição tornam o mercado receoso, segundo Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios.

Na quarta-feira (7), o plenário do Senado aprovou a PEC sem modificar o texto que saiu da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa, apesar da pressão da oposição para que o valor e o prazo de duração fossem reduzidos.

A proposta aprovada, que agora segue para apreciação da Câmara, amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024 para o pagamento do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) e libera outros R$ 23 bilhões para investimentos fora do teto em caso de arrecadação de receitas extraordinárias.

Esse temor, segundo Marinello, está principalmente relacionado à capacidade do governo brasileiro em honrar seus compromissos, sobretudo o pagamento da dívida pública contraída pela emissão de títulos do Tesouro.

Marinello ainda destacou que os mesmos receios apareceram no posicionamento do Banco Central após o anúncio da taxa Selic, também na quarta-feira.

"O mais importante, além da manutenção da taxa em 13,75%, foi o tom dado pelo Banco Central [no comunicado], que expressou incerteza em relação ao futuro da política fiscal no Brasil, principalmente em relação à PEC da Transição, que eleva o teto de gastos", comentou Marinello.

"A fala de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, foi mais dura porque há uma preocupação real e uma cautela maior em relação às consequências que este excesso de gastos pode trazer para a macroeconomia", completou.

No comunicado, o Copom, o comitê de política monetária do Banco Central, repetiu o aviso de que "não hesitará em retomar o ciclo de aumento de juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", podendo ajustar seus passos futuros.

"A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos. O comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva", disse.

No mercado de juros futuros do Brasil, a alta nas taxas de contratos com vencimentos no curto e médio prazos demonstravam que investidores esperam por mais inflação.

A taxa DI (Depósitos Interbancários) para 2025 passou de 13,03% para 13,06% ao ano. Para os contratos com vencimento em 2027, subiu de 12,71% para 12,80%. Os juros DI para 2024, porém, cederam de 13,84% para 13,83%, após uma alta moderada pela manhã.

Negociadas apenas entre instituições financeiras, essas taxas servem de parâmetro para o setor de crédito.

A queda do Ibovespa nesta quinta só não foi maior maior devido à alta de 1,23% da Vale. A mineradora tem grande peso na composição do índice.

Exportadores de matérias-primas metálicas, como a Vale, têm sido beneficiados pela perspectiva de aumento de consumo desses insumos na China. O país vem reduzindo restrições à circulação de pessoas, adotadas no combate à Covid-19, além de ter anunciado estímulos ao setor imobiliário, que é grande consumidor de aço.

"Entre os poucos setores que subiram hoje, temos mineração e siderurgia, que estão ligados à reabertura da China", disse Apolo Duarte, sócio e chefe da mesa de renda variável da AVG Capital.

Dólar tem alta moderada

No mercado de câmbio, o dólar fechou o pregão com leve alta de 0,21%, cotado a R$ 5,2170.

O avanço apenas moderado da taxa de câmbio, um dos termômetros para medir a temperatura do risco aos investimentos no Brasil, pode estar relacionado à valorização das mercadorias exportadas para a China (isso costuma trazer dólares para o país) e pela própria desvalorização do dólar no exterior, onde investidores se mostraram mais favoráveis ao mercado de ações nesta sessão.

Na Bolsa de Nova York, o índice parâmetro S&P 500 subiu 0,75%, após uma sequência de cinco quedas.

Por lá, investidores seguem ajustando suas carteiras à possibilidade de que a alta dos juros leve o país à recessão. O relatório sobre geração de vagas de trabalho da semana passada, porém, levou o mercado a considerar nesta quinta que essa desaceleração mais forte da economia ainda poderá demorar algum tempo.

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