Descrição de chapéu Financial Times Rússia pirataria

Sem importações, Rússia depende do contrabando para manter economia na guerra

Sanções internacionais estão degradando contínua da capacidade produtiva do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Polina Ivanova Max Seddon
Berlim e Moscou | Financial Times

As malas estavam cheias de equipamentos comprados na Áustria. Os produtos não eram particularmente originais –equipamentos eletrônicos profissionais para uso em escolas–, mas eram fabricados por uma marca ocidental que decidira boicotar a Rússia por causa da invasão da Ucrânia.

"Foi feito para parecer apenas para uso pessoal. Como se eu tivesse comprado tudo para mim", diz Stanislav, que encontrou os homens num hotel em Istambul, levou-os para jantar e depois voou para Moscou com as malas.

"Claro que era contrabando, puro e simples", diz ele, falando sob a condição de anonimato devido à natureza ilegal da atividade.

Fábrica em Magnitogorsk, na Rússia - Alexander Manzyuk - 20.out.2022/Reuters

Foi uma encomenda incomum para Stanislav. Normalmente, ele é especializado no uso de caminhões para contrabandear para fora da Europa os itens muito mais volumosos e delicados que estão sob sanções na Rússia, como materiais para o setor de construção e peças e máquinas para a indústria pesada.

Stanislav faz parte de um número crescente de russos chamados de especialistas em importação-exportação –profissionais em encontrar brechas e passar mercadorias pela alfândega– que surgiram em resposta às sanções impostas pelo Ocidente ao país.

Entrevistas com participantes desse mercado clandestino revelam um comércio lucrativo, mas altamente imprevisível e instável, no qual a economia sitiada da Rússia terá dificuldade para confiar.

No entanto, cada vez mais ela precisa confiar. As severas sanções aplicadas desde o início da guerra perturbaram as cadeias de suprimentos russas e deixaram muitas empresas em dificuldade para adquirir produtos e peças cruciais de marcas estrangeiras.

Quando as sanções mais pesadas foram adotadas, em março, alguns economistas previram um rápido colapso da economia russa, talvez de até 30%. Mas isso não aconteceu: as receitas de petróleo e gás continuaram a fluir e a moeda logo se recuperou.

O que está surgindo é algo diferente –não um declínio dramático, mas uma degradação constante de sua capacidade produtiva que economistas da Rússia e do Ocidente argumentam que está fazendo o país recuar décadas. A Rússia está tentando operar uma economia moderna sem a capacidade de importar muitos componentes, matérias-primas e tecnologias das quais depende.

O impacto é sentido em toda a economia –desde os bancos que precisam de servidores para processar pagamentos até a indústria avícola do país, que contava com a Holanda como fornecedora dos pintos dos quais são cultivadas as galinhas para a produção em massa de ovos.

As empresas agrícolas estão lutando para obter pneus de trator, enquanto as companhias aéreas não conseguem componentes estrangeiros para consertar seus aviões.

O golpe já foi significativo. Dados dos parceiros comerciais da Rússia mostram que as importações russas caíram de 20% a 25% desde o início da guerra –um golpe para um país inserido há décadas na economia global.

"Se você olhar para a indústria farmacêutica, a produção química, a construção de máquinas, metais e mineração... É difícil encontrar um setor na Rússia que não dependa de importações para pelo menos 50% [dos insumos]", diz Elina Ribakova, economista do IFI (Instituto de Finanças Internacionais).

Em médio prazo, as sanções provavelmente atrasarão a economia da Rússia em anos. Os consumidores serão forçados a se adaptar a uma opção mais limitada por bens e produtos de baixa qualidade que poderão lembrar as privações no final da era soviética.

"A vida será mais simples e haverá menos dinheiro. As pessoas vão se contentar com menos. Haverá mais papel na salsicha", diz um oligarca russo que está sob sanções.

"Vai ser assim durante 15 a 20 anos, a menos que [o presidente Vladimir Putin] morra. Fundamentalmente, nada vai mudar."

Em última análise, o futuro econômico em longo prazo da Rússia depende de Moscou conseguir produzir rapidamente alternativas domésticas para os bens estrangeiros aos quais não pode mais ter acesso, ou obter análogos de países "amigos", como a China. Quando essas duas opções falham, resta confiar nas importações de contrabandistas como Stanislav.

Para ele, as novas restrições criaram uma terra de oportunidades. Antigamente, as mercadorias estrangeiras eram embarcadas para a Rússia por importadores oficiais, e havia poucas maneiras de um novo player se esgueirar. Tentar importar marcas ilegalmente também não adiantava, pois havia pouca demanda.

"Eu poderia ter colocado as mercadorias em uma caixa de contrabaixo e trazido, mas ninguém teria comprado, porque eu não poderia dar ao comprador uma garantia oficial, etc", diz Stanislav.

"Agora posso importar isso, posso importar aquilo, como todo mundo. Então, para mim, claro, é interessante", acrescenta. "As portas se abriram."

'Tudo está sendo importado, de qualquer modo’

Várias rotas de contrabando já se tornaram populares.

Stanislav compra a maioria dos artigos por meio de empresas de fachada estabelecidas na Europa, sem nenhuma conexão visível com a Rússia. Os produtos são então enviados em caminhões da União Europeia para um dos países da extinta União Soviética que compartilham uma união aduaneira com a Rússia, como Cazaquistão e Armênia.

"Qualquer marca que saiu da Rússia, não importa o que seja –aspiradores de pó, roupas, álcool– está sendo importada de qualquer maneira", diz outro cidadão russo radicado na Europa, que atua no comércio de importação e exportação.

Mas o processo é irregular, na melhor das hipóteses. Tomemos o exemplo do tijolo de clínquer –material usado, entre outras coisas, em fachadas decorativas.

"As últimas entregas foram em junho e pronto. Ninguém sabe como trazer", explica a pessoa. Alguns construtores envolvidos em construções de alto padrão já revestiram a metade de seus prédios, diz ele. "O que fazer com a outra metade? Não está claro."

Com o tempo, serão encontradas rotas para levar o material para a Rússia, mas, como acontece com muitos outros produtos importados, será caro e, portanto, disponível apenas para clientes especiais, acrescenta a pessoa.

A Rússia colocou em sigilo os dados de suas importações logo no início da guerra, mas os economistas estão construindo uma imagem usando informações sobre as exportações para a Rússia de seus principais parceiros comerciais.

As exportações dos Estados Unidos para a Rússia caíram 85% em maio em comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo pesquisa do Banco Central Europeu. O Banco Mundial, o FMI e outras instituições preveem que as importações russas neste ano cairão 25 % em relação ao ano anterior. De junho a agosto deste ano, a Rússia importou US$ 4,5 bilhões a menos por mês do que em 2021, segundo o Instituto Kiel para Economia Mundial.

A demanda por importações também caiu conforme a economia entrou em recessão e a inflação começou a espremer a renda familiar, enquanto um número crescente de empresas ocidentais que tinham filiais na Rússia se retirou.

Dada a escassez de peças importadas, a produção de automóveis tem sido um dos setores mais atingidos, com queda de quase 80% em setembro em comparação com o mesmo mês de 2021, segundo o serviço de estatísticas estatal Rosstat. A queda levou as autoridades a afrouxar alguns requisitos de segurança durante o verão para freios antiderrapantes e airbags.

Tantos fabricantes e concessionárias de automóveis ocidentais venderam seus negócios na Rússia que apenas 14 montadoras ficaram no mercado para compradores russos, de acordo com uma análise da indústria publicada em dezembro. Todas as marcas eram chinesas, exceto três nacionais, incluindo o icônico Lada soviético.

Um bilionário próximo ao Kremlin diz que o lucro potencial dos artigos contrabandeados é tão alto que os produtos de luxo sempre chegarão ao país, independentemente das sanções. Ele conta que no verão comprou dois Maybachs em vez do Mercedes que queria, mas não conseguiu. Se o primeiro quebrar, ele pode usar o segundo para tirar peças, acrescenta.

Outros já vislumbraram novas oportunidades. "Vai ser difícil durante dois, três, quatro anos. Então vamos nos adaptar", diz outro oligarca sob sanções. "Veja o Irã. Eles fazem tudo sozinhos [...] têm suas próprias cadeias de suprimentos e, se não tiverem uma peça sobressalente, conseguem no mercado negro. Eles fazem qualquer coisa. Estamos aprendendo nossas lições agora, e futuramente seremos iguais."

Colapso adiado

Até agora, a economia tem evitado as piores previsões. Economistas estimam uma queda no produto interno bruto entre 3,5% e 5,5% neste ano.

Em parte, isso ocorre porque as receitas de exportação permaneceram fortes e a Rússia está encontrando cada vez mais compradores alternativos para seu petróleo.

Houve, por exemplo, um aumento nas exportações para a Rússia entre os países pelos quais algumas empresas estão redirecionando o comércio. As exportações para a Rússia de países como Turquia e Cazaquistão estão em alta. Enquanto a União Europeia exportou 43% menos mercadorias para a Rússia de junho a agosto, a China exportou 23% a mais, segundo o Instituto Kiel.

Embora não tenha havido uma desintegração da economia, os analistas acreditam que o crescimento em longo prazo será substancialmente reduzido, pois as restrições às importações destroem o potencial de atualizações tecnológicas. As indústrias locais que acabam substituindo a produção costumam ser menos eficientes, dizem eles, enquanto os fluxos de importação do mercado paralelo são voláteis.

"Se você voltar para a União Soviética e como eles conseguiram a tecnologia, foi por meio do FSB, espiões e fachadas, comprando coisas em outros países disfarçados", diz o economista Jacob Nell, membro de um grupo de trabalho especializado em sanções dirigido pelo ex-embaixador dos EUA na Rússia Michael McFaul e por Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky. "Mas é muito difícil construir cadeias de suprimentos quando você tem esse tipo de sanções abrangentes."

Nell acrescenta: "Mesmo que você consiga roubar os projetos, é muito difícil replicar –de forma econômica e comercialmente sustentável, sem subsídio– a produção dessas coisas."

Stanislav concorda. Os embarques são voláteis, e os países intermediários estão adotando novas regras destinadas a eliminar esse tipo de comércio. No início deste mês, a UE propôs tornar a evasão de sanções uma ofensa criminal, e ele sentiu imediatamente uma queda maciça de fornecedores. Uma de suas entregas ficou presa na alfândega do Cazaquistão.

"Uma brecha foi encontrada e, graças a conexões e um pequeno suborno, encontramos uma maneira de mover as coisas", diz ele. Ainda assim, "está ficando cada dia mais difícil".

Em geral, empresas e agências estatais estão buscando maneiras de responder à quebra das importações.

Em julho, Putin nomeou o antigo ministro do Comércio Denis Manturov para um cargo sênior no governo com mandato para restaurar as cadeias de suprimentos. Manturov prometeu defender a "soberania tecnológica" da Rússia e fazer da substituição de importações "uma questão de segurança nacional".

Embora Manturov tenha insistido mais tarde que isso não significaria "abandonar totalmente os princípios da economia de mercado", o impulso para aumentar a produção doméstica inevitavelmente levará a uma intervenção estatal muito mais pesada que limita a concorrência, de acordo com outro oligarca russo sob sanções.

"Se você tiver dez empresas fazendo chapas, não vai funcionar. Você tem excesso de oferta e qualidade insuficiente. Ninguém precisa disso", diz o oligarca.

"Em vez disso, você precisa ter certeza de apenas alguns produtores. Eles precisam continuar competindo entre si e produzir um material de qualidade, mas você quer evitar o excesso de produção. É preciso ser sensível ao tamanho e ao poder do mercado."

Algumas soluções já foram encontradas. Uma pesquisa do banco central com empresas russas descobriu em abril que dois terços estavam lutando com cadeias de suprimentos interrompidas. No verão, esse número caiu para 50%.

"Assim, para as empresas que buscam fornecedores alternativos, há uma melhora marginal", diz Ribakova, do IFI, referindo-se à pesquisa. "Mas por outro lado... estes são números agregados. Não revelam os pontos de estrangulamento."

A lista crítica

Em um novo complexo subterrâneo conhecido como "bunker", próximo ao hotel Ukraina em Moscou, o gabinete da Rússia se reúne regularmente para discutir apresentações que dissecam as terríveis perspectivas econômicas do país em uma enorme tela de 180 graus.

Uma dessas apresentações, preparada por um grande banco estatal desde agosto deste ano e também vista pelo Financial Times, lista algumas dessas áreas críticas.

Em cinco colunas, ela agrupou os setores por grau de risco, sendo o último colorido em vermelho e rotulado como "supercrítico". As indústrias listadas nesta categoria incluem construção de aviões, produtos farmacêuticos e tecnologia médica, produção de microchips e equipamentos de TI de alto nível e tecnologia para construção de espaçonaves.

O gabinete afirma que já substituiu com sucesso as importações em alguns dos setores. "Eles queriam aterrar nossa frota aérea. Tirar o céu de nós", disse o primeiro-ministro Mikhail Mishustin em novembro, num momento em que havia vários relatos na mídia local sobre como as companhias aéreas estavam lutando para obter peças de reposição. "Mas mantivemos nossos aviões e estamos expandindo o lançamento de tecnologia nacional."

Uma maneira como o governo da Rússia interveio para apoiar os importadores, especialmente de bens tecnológicos de consumo, foi através da legalização do que chama de "importações paralelas".

A lei tornou legal passar uma longa lista de produtos de marcas ocidentais pela alfândega para a Rússia sem o consentimento da própria marca. Anteriormente, isso seria considerado pirataria, mas agora é o comércio semioficial de Stanislav.

O governo estimou que US$ 20 bilhões em mercadorias foram importados para a Rússia neste ano, incluindo o novo iPhone 14, lançado em setembro e não oficialmente à venda no mercado russo. "Se os consumidores querem comprar esses telefones, sejam bem-vindos", disse Manturov em setembro.

Kirill, outro especialista em importação em Moscou, abriu um negócio de importação paralela com foco em móveis e utensílios logo após o início da guerra. Ele diz que um dos esquemas mais comuns para importações paralelas é trabalhar com uma empresa, por exemplo, do Cazaquistão, que já tem um relacionamento com uma marca ocidental.

Essa empresa então faz seus pedidos habituais, mas em volumes significativamente maiores. O parceiro russo paga discretamente para importar o excedente para a Rússia, o que é fácil quando as mercadorias estão seguras no Cazaquistão, já que não há fronteira alfandegária.

Mas a rota do mercado cinzento é menos eficaz para importações de origem mais difícil, principalmente microchips e servidores, afirma um executivo de uma empresa russa de tecnologia.

"Você não pode torná-lo um [negócio] de massa porque os bancos também precisam de servidores" e vão pagar mais que os compradores menores, diz o executivo. "Isso torna muito mais caro e insustentável."

Os produtores ficaram muito mais cautelosos com o aumento do volume de pedidos de microchips pela Armênia e o Cazaquistão, que se tornaram o lar de grandes comunidades de especialistas em TI russos exilados desde a guerra, mas também são centros de importações paralelas sem alfândega.

"Algumas empresas americanas pararam de enviar para a Armênia. Elas dizem: 'Tínhamos uma licença um ano antes. Agora você está pedindo cem licenças?'", diz o executivo.

Um executivo sênior de uma grande empresa russa de tecnologia alerta sobre o impacto em longo prazo da escassez de microchips.

Se as sanções durarem de dois a quatro anos, ainda valerá a pena pagar pelos chips mais procurados pelo dobro do preço de mercado, diz o executivo. No entanto, se durarem mais, o executivo acredita que a Rússia será forçada a mudar para chips chineses inferiores. Expandir a capacidade de produção de microprocessadores da própria Rússia para o nível da China –agora lutando sob as restrições de exportação dos EUA– provavelmente custaria US$ 50 bilhões por ano durante dez anos e, mesmo assim, não seria garantido que funcionaria, acrescenta o executivo.

Para passar pelos complexos procedimentos de compliance necessários para demonstrar que os clientes não estão contornando as sanções, alguns fabricantes exigem que seus clientes provem que não estão fisicamente na Rússia ao fazer um pedido, acrescenta o executivo.

"Você quer dez servidores de mainframe para Gyumri?", explica o executivo, referindo-se a uma cidade da Armênia, outro polo de importações paralelas. Para provar isso, "vá ao Zoom com um oficial de compras para mostrar a ele que você está na Armênia e tem pessoas no escritório".

Mesmo as organizações governamentais russas estão se voltando para as importações paralelas como resultado das sanções. Stanislav diz que foi abordado por duas câmaras de comércio russas regionais diferentes, uma localizada na Sibéria e outra na Rússia central, pedindo-lhe ajuda para obter produtos estrangeiros que estão sob sanções ou embargo.

"Eles se voltam para nós empresários e dizem: 'Caras, vocês podem trazer isso para nós? Podem importar isso?'"

A economia do 'faça-você-mesmo'

Logo depois que os primeiros pacotes de sanções foram introduzidos, Grigory Bolotin, chefe da Fábrica de Maquinário de Energia Cheboksary, reuniu sua equipe em torno de uma grande folha de papel em branco e começou a desenhar.

Ele traçou um enorme mapa da empresa –uma vasta fábrica nas margens do rio Volga, a leste de Moscou, que produz empilhadeiras, tratores e outras máquinas pesadas– e traçou todas as cadeias de suprimentos das quais dependia.

Rapidamente, a equipe identificou as áreas muito dependentes das partes ocidentais. Essas linhas de produtos tiveram que ser suspensas.

Em outras áreas, eles foram criativos. Onde costumavam importar microchips para operar seus tratores, decidiram tentar fazer os seus próprios. Compraram transistores básicos e outras peças de chips na Ásia e aprenderam a soldá-los sozinhos. "Eles saem bastante simples, mas fazem o trabalho", diz Bolotin.

Para outros componentes-chaves, encontraram substitutos domésticos. Os motores japoneses usados em suas empilhadeiras foram trocados por alternativas produzidas em Minsk, capital da aliada russa Belarus.

"Claro, o motor de Minsk é mais barulhento, menos econômico, menos confiável. Mas está lá, está disponível. E todo mundo meio que se acostumou com isso", diz Bolotin.

Em geral, eles conseguiram se virar. Mas Bolotin pôde ver o amplo efeito das restrições às importações na qualidade e no nível tecnológico.

Os produtos da Cheboksary já foram considerados de qualidade média. Mas desde que as sanções foram impostas eles "passaram para o segmento superior do mercado".

"Provavelmente não conseguiremos produzir equipamentos com o mesmo nível tecnológico dos produtos fornecidos pelos países ocidentais", diz Bolotin. Mas agora os clientes russos não se importam, disse ele.

O economista Branko Milanovic rotulou esse processo de "substituição de importações tecnologicamente regressiva", trocando bens importados por "substitutos domésticos inferiores e antiquados".

As economias de escala decorrentes da importação de matérias-primas e componentes estão sendo perdidas.

Ribakova, do IFI, explica: "Você poderá produzi-lo, mas será muito mais caro, porque é ineficiente". Ela acrescenta: "Se você é uma fábrica na Rússia produzindo botões para metade do mundo, seu custo unitário de produção é completamente diferente de ter que produzir um número limitado de botões para uma produção específica".

Por exemplo, a Finlândia foi um importante exportador para a Rússia de produtos químicos usados no branqueamento de papel. Depois que seus embarques pararam, várias fábricas de celulose russas tiveram que aprender a passar sem ou começaram a produzir elas mesmas os produtos químicos de branqueamento. A União Soviética também era autossuficiente nesses produtos.

Mas um resultado do uso de produtos químicos inexistentes ou de qualidade inferior é que parte do papel usado nos escritórios russos tem um tom marrom-acinzentado.

Um vice-ministro da indústria insistiu no início deste ano que há um lado positivo, citando novas descobertas que mostram que o papel excessivamente branco pode danificar os olhos. "Papel de escritório branco muito brilhante é realmente ruim para a saúde", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.