Lula critica dedução com gasto em saúde no Imposto de Renda e defende reforma

Especialistas afirmam que desconto custa caro para o governo e não favorece os mais pobres

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Brasília | Reuters

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (13) as deduções com gastos em saúde no Imposto de Renda, numa possível indicação de que seu governo poderá propor mudanças no benefício, que favorece a classe média, em uma reforma tributária.

Em fala durante cerimônia de encerramento dos trabalhos da equipe de transição, Lula afirmou que enquanto os mais pobres têm dificuldade de acesso a tratamentos mais especializados, ele próprio realiza anualmente uma série de exames e pode fazer o abatimento das despesas no Imposto de Renda, o que classificou como uma "contradição".

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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no CCBB, sede do gabinete de transição, em Brasília - Pedro Ladeira - 2.dez.2022/Folhapress

"Portanto quem está pagando o tratamento que nós temos é o pobre que não tem direito nesse país, é o pobre que não tem especialista, é o pobre que não tem plano de saúde. É por isso que nós precisamos pensar em uma reforma tributária para ver se a gente consegue corrigir um pouco as injustiças centenárias que tem nosso país", afirmou Lula.

A possibilidade de dedução das despesas médicas no IR é alvo de críticas de especialistas, que argumentam que o benefício custa caro para o governo e não favorece os mais pobres, mas o corte da possibilidade de abatimento é visto como medida altamente impopular entre a classe média.

Às vésperas do segundo turno das eleições deste ano, o governo Jair Bolsonaro negou que proporia mudanças nas deduções com saúde e educação, atribuindo a divulgação de notícias nesse sentido a "petistas" dentro do governo visando minar as chances de reeleição do presidente.

Em outro recado que pode ser mal recebido pelo mercado, Lula também afirmou que seu governo não vai promover privatizações de empresas estatais. Acrescentou que as empresas públicas vão poder "mostrar a sua rentabilidade".

"Não haverá chuva, sol, nada nesse mundo, a não ser Deus que me proíba, de fazer esse país voltar a sorrir, fazer o povo voltar a ser alegre, e acreditar que esse país acabou o complexo de vira lata. Não somos inferiores a ninguém, somos iguais a todo mundo e queremos ser donos do nosso território", afirmou o presidente diplomado.

"Vão acabar as privatizações nesse país. Já privatizaram quase tudo, mas vai acabar e vamos provar que algumas empresas públicas vão poder mostrar a sua rentabilidade", completou Lula.

A terça-feira também foi marcada por anúncios na economia. Lula disse que nomeará Aloizio Mercadante como presidente do BNDES, apesar de a decisão ter como obstáculo a Lei das Estatais. A regra veda "a indicação, para o Conselho de Administração e para a diretoria, da pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral".

Como o ex-ministro atuou na campanha de Lula, sua indicação para uma estatal poderia entrar em conflito com a legislação. Por meio de sua assessoria, o ex-ministro afirma que sua nomeação não fere a lei.

O anúncio provocou forte queda da Bolsa de Valores brasileira. Por volta das 16h45, o índice Ibovespa, que chegou a subir cerca de 1% durante o dia na esteira de dados de inflação abaixo do esperado nos Estados Unidos, recuava 1,65%, aos 103.605 pontos.

O novo governo também anunciou dois nomes que integrarão o Ministério da Fazenda. Gabriel Galílopo, ex-presidente do Banco Fator, será o secretário-executivo da pasta, o que na prática o tornará um número 2 do futuro ministro Fernando Haddad.

Já o economista Bernard Appy será secretário especial para reforma tributária. É um dos principais especialistas em impostos do país.

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