Setor de petróleo elogia Prates na Petrobras, mas posição sobre preços preocupa

Senador indicado por Lula para estatal é visto como qualificado e aberto ao diálogo

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Rio de Janeiro

Entidades do setor de petróleo e gás e sindicatos ligados à Petrobras elogiaram a indicação do senador Jean Paul Prates (PT) para a presidência da estatal, anunciada nesta sexta-feira (30) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda não há, porém, definição sobre quando Prates assumirá o cargo, etapa que depende de convocação de assembleia de acionistas mas pode ser acelerada por renúncia do presidente atual, Caio Paes de Andrade, convidado para assumir secretaria no governo de São Paulo.

Com longa carreira como consultor, Prates é conhecido no mercado e tido com uma pessoa qualificada e conhecedora dos desafios do setor. Ele ajudou a escrever a lei que pôs fim ao monopólio da Petrobras e os contratos de concessão de áreas exploratórias no país.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aperta as mãos do senador Jean Paul Prates (PT-RN)
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Jean Paul Prates (PT-RN), indicado para o comando da Petrobras - Ricardo Stuckert/Divulgação

"Antes de tudo, Prates é um nome preparado", diz o presidente da Abegás (Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Canalizado), Augusto Salomon. "Ao longo de seu mandato como senador, Prates sempre teve posição de protagonismo em todas as discussões que envolveram o setor energético."

No Senado, ele presidiu a Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras e foi porta-voz de uma corrente que questionou a venda de ativos da estatal, principalmente na área de refino, que o governo Lula deve reverter.

A posição lhe rendeu algumas críticas entre colegas, reforçadas após a defesa de mudanças na política de preços da Petrobras, mas as grandes petroleiras que operam no país citam a capacidade de diálogo como um dos pontos fortes do indicado.

"O indicado possui largo currículo acadêmico e experiência consolidada no setor, aliada à grande capacidade de diálogo amplamente demonstrada no exercício de seu recente mandato como senador", diz o IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás), que representa as grandes petroleiras com atuação no país.

O IBP tem posicionamento contrário à revisão da política de preços dos combustíveis da estatal, adotada no governo Michel Temer e reforçada pelo governo Jair Bolsonaro, que prevê o acompanhamento da paridade de importação, conceito que simula quanto custaria para importar os produtos.

Prates reforçou nesta sexta entender que os preços não devem seguir essa paridade. A ideia, segundo ele, é "chegar a alguma coisa de referência que não seja apenas o preço em Roterdã mais despesas para colocar o produto aqui, isso porque 80% é feito aqui".

"Não faz sentido pagar frete para produto aqui. Não há muito trauma nisso", afirmou, em entrevista pouco antes de ser confirmado no cargo.

A posição preocupa membros do conselho de administração da Petrobras ouvidos pela Folha. Um deles diz esperar que seja uma mudança a partir do governo, com a criação de um fundo de estabilização, ideia também defendida por Prates, sem causar prejuízos à empresa.

Em relatório divulgado na quinta (29), analistas do Goldman Sachs disseram que as propostas sobre vendas de ativos, preços dos combustíveis e aumento dos investimentos da estatal "reforçam as incertezas" sobre o futuro da companhia, que foi rebaixada pelo banco em novembro.

Por outro lado, o posicionamento sobre venda de ativos e preços dos combustíveis aproxima Prates dos sindicatos de petroleiros, que fizeram oposição às gestões da Petrobras desde o governo Temer, quando as duas estratégias ganharam força na estatal.

"As escolhas do presidente Lula acendem uma chama de esperança, sustentada pelo compromisso desse novo governo com o povo brasileiro e a soberania nacional", diz o coordenador geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar.

"A indicação de Jean Paul Prates à Presidência da Petrobras significa uma mudança estratégica na empresa, uma vez que sua avaliação da atual gestão sempre teve um olhar crítico", diz Mahatma Ramos dos Santos, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

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