Ações da Petrobras desabam com rebaixamentos e críticas a dividendos

Um dia após divulgar o quarto maior lucro da história, papéis preferenciais da estatal caem 5,5%

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São Paulo e Rio de Janeiro

Um dia depois de divulgar o quarto maior lucro já registrado por uma empresa no país, a Petrobras despencou em Bolsas de Valores, diante de temores sobre incertezas políticas e de questionamentos sobre nova distribuição de dividendos.

Logotipo da Petrobras na sede da companhia no Rio de Janeiro
Logotipo da Petrobras na sede da companhia no Rio de Janeiro - Sergio Moraes - 16.out.2019/Reuters

As ações preferenciais da estatal tombaram 5,51% nesta sexta-feira (3). Os papéis mais negociados da companhia na Bolsa de Valores brasileira ainda acumulam alta de 24,5% em 2022, cujo valor unitário passou de R$ 19,10 para R$ 28,30 no período. O preço, porém, vem caindo acentuadamente desde o pico de R$ 37,72, registrado em 21 de outubro, uma semana antes do segundo turno das eleições.

Na quinta, a empresa havia divulgado lucro de R$ 46,1 bilhões no terceiro trimestre, que motivou aprovação de distribuição de R$ 43,7 bilhões em dividendos.

O resultado positivo foi elogiado pelo mercado como mais um fruto da estratégia de foco em projetos mais rentáveis e redução do investimento, mas o otimismo não resistiu ao noticiário do dia seguinte.

Nesta sexta, bancos de investimento começaram a rebaixar a companhia. Ainda de manhã, o Goldman Sachs cortou a avaliação da petrolífera de "compra" para "neutro", argumentando incertezas em torno das políticas adotadas nos próximos anos.

Foi seguida no fim do dia pela Ativa Investimentos. "Acreditamos que a companhia passará por mudanças que alterarão a percepção de seu risco por parte do mercado", escreveram os analistas da gestora de recursos.

"Tais mudanças passam por sua atual eficiência operacional, governança, investimentos, capacidade de geração de caixa operacional e por conseguinte, a remuneração de seus investidores", disse.

Para piorar o humor dos investidores quanto às ações da estatal, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu a suspensão do pagamento de dividendos pela Petrobras, que se tornou no primeiro semestre a maior pagadora de dividendos do mundo.

Os elevados pagamentos já vinham sendo questionados por sindicatos próximos ao PT e pela própria presidente do partido, Gleisi Hoffmann. "Não concordamos com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas", disse ela.

O desempenho da Petrobras foi bem diferente de outras petroleiras, que se beneficiaram da alta do petróleo com a possibilidade de maior abertura na China, país que mais consome a matéria-prima. A brasileira 3R Petroleum, por exemplo, registrou valorização de 7,16% das suas ações.

"A Petrobras entregou excelentes resultados no trimestre, mas a ação caiu muito por causa dessa ação pedindo a suspensão do pagamento de dividendos. O mercado está entendendo isso já como uma interferência do novo governo na empresa" disse Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.

"A aprovação dos dividendos levou a uma dura crítica pelo novo governo, que acredita que os recursos deveriam ficar no caixa da companhia para investimentos nas atividades dela", reforçou Cassiano Konig, sócio da GT Capital Investimentos.

Em encontro com analistas para detalhar o balanço do terceiro trimestre, a direção da Petrobras defendeu a estratégia atual e disse que não há planos nesse momento de alterar a política de remuneração aos acionistas.

Ele repetiu que a política de remuneração aos acionistas prevê o pagamento de dividendos trimestrais sempre que a empresa estiver abaixo da meta de endividamento. Disse ainda que a saída dos recursos não compromete o futuro da companhia.

A decisão por mudanças nos dividendos, porém, é do conselho de administração, frisou Araújo. O colegiado, hoje com maioria alinhada ao governo Jair Bolsonaro (PL), costuma ser renovado após a posse de novos presidentes da República.

Os executivos da Petrobras também responderam questões sobre a governança a partir do próximo ano. O diretor-executivo de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade, Rafael Chaves, evitou entrar em suposições sobre o que poderia mudar com o novo governo.

Mas afirmou que a Petrobras hoje não é a mesma empresa de antes da Operação Lava Jato. Segundo ele, a empresa passou por melhorias, com mecanismos relacionados à governança e também no caminho mais estratégico.

O diretor destacou ainda outros mecanismos novos, como a Lei das Estatais e lei anticorrupção, que também trazem mais segurança aos investidores. "A gente garante muito mais transparência, muito mais visibilidade aos acionistas antes que algum retrocesso aconteça nesses mecanismos que mencionei."

Araújo afirmou que ainda não há conversas para iniciar a transição para o novo governo em curso na estatal e indicou que a companhia não oferecerá resistências. "Vamos fazer nosso papel para colaborar para uma transição efetiva", disse.

Com Reuters

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