Taxa do copo, trem grátis e cartão de madeira: como a Europa tenta poluir menos

Decisões de empresas e de governos buscam ajudar a conter aquecimento global

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Genebra e Madri

Um estrangeiro que chega à Europa logo nota que a preocupação ambiental tem ganhado mais espaço na rotina nos últimos anos. Nas avenidas, carretas com adesivos enormes alardeiam serem menos poluentes. Ao pegar um café, pode haver taxa extra pelo copo. E ao chegar no hotel, o cartão entregue na recepção pode ser de madeira, não mais de plástico.

As mudanças são parte das estratégias de governos e empresas para atingir as metas de redução de poluição que assumiram e, assim, ajudar a conter as mudanças climáticas e o aquecimento global.

O Acordo de Paris, de 2015, colocou como objetivo fazer com que a temperatura média do planeta não supere 2ºC em relação à era pré-industrial. O planeta caminha, no entanto, para um aquecimento de 2,6°C até o final do século, alertou a ONU em outubro. Abaixo, alguns exemplos de como a Europa está tentando evitar isso no dia a dia:

Taxa do copo

No Mercado de Natal de Genebra, são vendidos vinho, chocolate, cafés e várias opções quentes, em copos descartáveis. O preço básico é de 6,50 francos (R$ 37) por bebida, mais 0,50 franco (R$ 2,84) de taxa pelo copo. Se o cliente devolver o recipiente vazio depois, recebe o valor de volta. Caso o descarte no lixo ou em outro local, perde o dinheiro.

Barracas em parque, com pessoas andando
Mercado de Natal em Genebra, onde há cobrança por copos descartados - Rafael Balago/Folhapress

A devolução é feita pelo cartão de crédito, já que a maioria das barracas não aceita dinheiro. A medida parecia funcionar bem: em uma visita ao local, a Folha não viu copos no lixo ou jogados no chão. O evento era realizado perto do lago Léman, que margeia Genebra e tem água cristalina.

Na Espanha, a Starbucks dá desconto de 0,40 euro (R$ 2,24) se o cliente trouxer seu próprio copo. A rede faz testes em outros países para emprestar o item aos clientes, que pagariam um depósito ao pegar a bebida, a ser devolvido quando o copo retornar.

Trens grátis

Espanha e Alemanha criaram programas para ampliar o acesso aos trens de curtas e médias distâncias. No país ibérico, há viagens grátis nas rotas de até 300 km. O programa foi adotado em setembro e valerá ao menos até dezembro de 2023.

Para usar o benefício, é preciso pagar uma taxa de 20 euros (R$ 112). Se, em quatro meses, o usuário fizer ao menos 16 viagens de trem, recebe o dinheiro de volta.

Em muitos casos, passagens devem ser agendadas com antecedência, o que gerou problemas: muita gente reservava mas não aparecia para viajar. Para evitar isso, o governo colocou punições para quem não embarcar no trem escolhido. O cancelamento pode ser feito até duas horas antes da partida.

"Vamos converter esta política em algo estrutural e ver os resultados concretos do transporte público para reduzir o CO2", disse María Montero, ministra de Finanças da Espanha, ao anunciar a ampliação do programa, que deve custar 700 milhões de euros (R$ 3,9 bilhões).

Estação Hauptbahnhof, em Berlim, na Alemanha, que barateou acesso aos trens - Michele Tantussi - 17.fev.22/Reuters

Na Alemanha, o governo negocia a criação de um bilhete mensal de 49 euros (R$ 274) que daria acesso a todos os trens de curta e média distância no país todo. A expectativa atual é que o programa comece em março de 2023.

No verão deste ano, o governo alemão ofereceu um bilhete de 9 euros (R$ 50) que dava acesso ilimitado aos trens locais e regionais. Foram vendidos mais de 52 milhões de tíquetes. O governo estima que a medida evitou a emissão de 1,8 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a plantar 90 milhões de árvores.

Além da poluição, os países também buscam baratear o acesso ao transporte como forma de conter os efeitos da inflação sobre o custo de vida.

Entregas verdes

Parte das carretas que chegam ao centro de Madri na madrugada para entregar mercadorias são menos poluentes. A varejista de roupas Primark, por exemplo, adotou caminhões movidos a biogás para fazer entregas em países como Espanha e Reino Unido. Eles emitem 90% NO2 menos do que os movidos a diesel, e tem motores mais silenciosos. A frota vem sendo expandida aos poucos.

Em novembro deste ano, na Bélgica, a CCEP (Coca-Cola Europacific Partners) começou a fazer entregas de bebidas aos bares, restaurantes e supermercados com caminhões elétricos. A proposta inicial é eletrificar um quinto da frota, o que ajudará a empresa a reduzir as emissões de CO2 em 30% até 2030. Cada caminhão elétrico consegue rodar 200 km por dia, o suficiente para boa parte das rotas urbanas, e será recarregado de noite.

Caminhões elétricos da Coca-Cola, fabricados pela Renault Trucks, usados na Bélgica
Caminhões elétricos da Coca-Cola, fabricados pela Renault Trucks, usados na Bélgica - Divulgação

A mudança não vem apenas por boa vontade das empresas: cidades como Londres e Madri adotaram leis para restringir a circulação de veículos poluentes em suas áreas centrais.

Na capital britânica, por exemplo, há uma taxa diária de 12,50 libras para caminhões e ônibus cujo motor emita mais poluentes do que o tolerado no padrão euro 6. Em agosto de 2023, a área de cobrança será estendida para toda a cidade.

Cartão do hotel de madeira

Em alguns hotéis, o cartão de acesso aos quartos é feito de madeira. O material que envolve o chip tem origem certificada e pode ser feito a partir de várias plantas, como bambu, cerejeira e bordo.

O item é revestido por uma camada que o deixa à prova d'água e é biodegradável, e pode também receber recortes ou desenhos em relevo. Segundo os fabricantes, o cartão de madeira tem durabilidade similar ao de plástico e pode ser usado mais de 100 mil vezes antes de ser descartado.

O jornalista viajou a convite da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo)

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