Descrição de chapéu inflação juros

'Errada', 'inalcançável', 'irrealista': gestores fazem coro a Lula em críticas à meta de inflação

Nomes de referência do mercado afirmam que é preciso considerar um objetivo realista

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São Paulo

Três nomes de referência em gestão de recursos no Brasil afirmaram ser preciso revisar a atual meta de inflação para que seja possível diminuir os juros no país, fazendo coro às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em evento do BTG Pactual nesta quarta-feira (15), os gestores se dirigiram diretamente ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava na plateia.

"A discussão é cabível", afirma Luis Stuhlberger, da Verde Asset, uma das principais gestoras de recursos do mercado local. "Buscar uma meta irrealista não é coisa boa para o Brasil. Concordo que tem que ter um arcabouço fiscal crível, os dois juntos podem jogar o Brasil num lugar melhor." Para o gestor, o estrago de políticas erradas é o problema do país.

"Nos últimos dois anos de governo Bolsonaro houve uma involução. Que a gente possa ter presidentes e ministros que sejam estadistas, que pensem em medidas que serão boas para o Brasil a longo prazo", disse Stuhlberger, aplaudido pela plateia.

Stulhlberger é fundador da Verde Asset, que começou com um fundo em 1997 com patrimônio de R$ 1 milhão. Atualmente, a Verde já passa dos R$ 55 bilhões em ativos geridos pelos seus fundos.

Cédulas de real - Gabriel Cabral/Folhapress

Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, questionou o porquê de não se considerar uma outra meta de inflação, especialmente após a crise gerada pela Covid, pela adaptação à energia limpa e por mudanças na cadeia produtiva.

Para ele, economistas são reticentes em corrigir um erro. "Por que seguir um objetivo que está inalcançável?"

"Só alcançamos inflação a 3% uma única vez, em 2016. Agora que a gente passou por todas essas situações inflacionárias, o Brasil resolveu fazer a meta em 3%. Nos EUA, a meta é 3,5% e no Brasil vai ser 3%? É falta de bom senso", afirmou.

"De que adianta buscar 3,25% e entregar 6%?", diz.

"As pessoas nos supermercados vivem com inflação de 10%, 12%. É outra realidade. Eu acho que o custo de carregar uma meta desse tamanho é gigantesco, seja financeiro, seja social, seja político, porque, uma vez que você não atinge as metas, o Banco Central fica restritivo na política monetária," afirmou Xavier.

A SPX, gestora fundada por Xavier, tem atualmente cerca de R$ 80 bilhões sob gestão, com escritórios em Londres, Nova York, Rio de Janeiro, São Paulo, Cascais e Singapura.

"A meta está errada", afirma André Jakurski, da JGP, gestora que tem mais de 20 anos de mercado. O gestor chamou a meta de "bala de prata" da vez e disse achar mais importante primeiro definir a regra fiscal que irá substituir o teto de gastos em vez de "ficar perseguindo" a atual meta inflacionária.

"Acho que deve se mudar a meta e baixar os juros. O Brasil não vai dar certo com esses juros", diz.

O debate sobre uma eventual modificação nas metas de inflação ganhou força na esteira das críticas de Lula ao atual patamar de juros —a Selic está em 13,75% ao ano.

O petista defende uma flexibilização na meta para 4,5%, na expectativa de isso abrir espaço para o BC cortar a taxa de juros —embora economistas alertem que o efeito concreto da medida seria o oposto, por ampliar incertezas.

Para 2023, a meta é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. Para 2024 e 2025, o patamar estabelecido é de 3%.

Os mercados têm reagido negativamente a ruídos de uma eventual elevação da meta pelo governo. O tema provocou embate entre Lula e o Banco Central.

Nesta segunda (13), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária discorda de uma mudança nas metas de inflação e que uma revisão dos alvos a serem perseguidos pela instituição neste momento teria o efeito contrário ao desejado sobre os juros.

O ministro da Fazenda afirmou que não está prevista discussão de mudança da meta na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) desta quinta (16).

No evento do BTG Pactual, Haddad disse que entende a ansiedade do mercado financeiro e que é a favor de metas exigentes, tanto para a política fiscal quanto para a monetária, mas ressaltou que elas precisam ser "humanamente alcançáveis".

Colaborou Renato Carvalho

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