Descrição de chapéu Santander

Depois da Americanas, Santander diz que olha com lupa balanço das empresas

Banco, um dos maiores credores da varejista, aumenta reserva para calote

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São Paulo

"Evento subsequente no segmento de atacado." Esta foi a expressão escolhida pelo Santander para se referir ao escândalo contábil da Americanas, citada oito vezes no seu balanço do quarto trimestre de 2022. A varejista, uma das maiores do país, em recuperação judicial desde o último dia 19 com dívidas declaradas de R$ 43 bilhões, era uma das maiores clientes da filial brasileira do banco espanhol, com quem tem dívidas de R$ 3,65 bilhões.

A Americanas foi responsável por impactar as despesas do banco no último trimestre do ano. No período, o resultado de créditos de liquidação duvidosa saltou 99,4% na comparação com o mesmo intervalo de 2021, para R$ 7,36 bilhões. Frente ao terceiro trimestre, a alta foi de 18,6%, o que indica aumento de R$ 1,1 bilhão nas reservas.

Entre outubro e dezembro, o banco registrou lucro líquido de R$ 1,69 bilhão, queda de 46% na comparação anual, abaixo das expectativas de analistas. No acumulado de 2022, o lucro líquido do Santander Brasil caiu 21,1%, para R$ 12,9 bilhões.

Na apresentação dos resultados do último trimestre, nesta quinta-feira (2), o presidente do banco, Mário Leão, evitou citar o nome da Americanas. Também não mencionou o nome da Oi, que, na noite desta quarta-feira (1º), entrou com um pedido de tutela de urgência cautelar para impedir que seus ativos sejam bloqueados a pedido de credores, a quem deve R$ 29 bilhões. O pedido é uma preparação para a recuperação judicial.

homem branco de terno azul sorri
Mario Leão, presidente do Santander Brasil - Divulgação

O caminho trilhado pela operadora de telecom foi o mesmo da Americanas, que pedira a tutela no último dia 12 de janeiro. A banca de advogados que defende as duas empresas também é a mesma: Basilio Advogados e Salomão Kaiuca Abrahão Raposo Cotta Advogados.

O Santander não informou, porém, se emprestou para a Oi. Tendo em vista dois eventos consecutivos envolvendo dívidas astronômicas por parte de empresas brasileiras, o banco já acendeu o alerta.

"A gente está olhando com lupa os balanços, os balancetes, falando com as companhias, para sentir a tendência dos balanços", disse Leão, em entrevista a jornalistas na sede do banco, em São Paulo. "Não olhamos só o custo da dívida, mas quanto estão fazendo, de vendas, com qual margem querem se endividar etc."

Ainda assim, o executivo afirma que não vê, no radar, novos nomes de empresas com chance de pedir recuperação judicial. "Não estou vendo, ainda, entre médias e grandes empresas, uma deterioração dos balanços, em índices de alavancagem e outros indicadores", afirmou.

Segundo ele, no segmento de atacado, onde estão as grandes clientes do banco, a análise de crédito é "nome a nome". "Não vamos fazer provisões antecipadas por portfólio", disse.

Questionado sobre a Oi, que estaria prestes a pedir a segunda recuperação judicial da sua história (a primeira havia sido encerrada em dezembro do ano passado), Leão disse que "há casos e casos". "Os mais conhecidos [de empresas inadimplentes] foram sendo provisionados por instituições financeiras ao longo dos anos", afirmou.

Na opinião do executivo, caso a taxa Selic (hoje em 13,75% e há um ano na casa dos dois dígitos) continue em um patamar alto por mais tempo, isso poderá deteriorar os balanços. "Este custo de carregamento é o grande limitador dos recursos financeiros das empresas", diz. "Quanto mais tempo durar [a Selic alta], o risco para as companhias que estão mais alavancadas será maior."

O balanço do último trimestre do banco trouxe alguns sinais amarelos.

Enquanto o Santander Brasil conseguiu manter o índice de inadimplência para 90 dias de pessoa física em 4,3%, entre o terceiro e o quarto trimestre do ano passado, graças a uma política de maior restrição de crédito, o índice da pessoa jurídica cresceu de 1,3% para 1,4% no intervalo. O aumento se deu mesmo com a venda de carteiras de crédito –quando o banco transfere a dívida de clientes para terceiros.

Instado diversas vezes a comentar o efeito da Americanas na concessão de crédito para pessoa jurídica daqui em diante, Leão recuou. "A gente não cita casos específicos. Em parte por elegância", afirmou. "Mas, sim, existe um efeito subsequente [no balanço], porque aconteceu em 2023. Obviamente vocês podem inferir de quem a gente está falando", disse aos jornalistas.

"Este evento tem e vai ser monitorado ao longo do ano. Mas o segmento de atacado tem tido uma performance muito boa e vai continuar assim, vamos expandir de forma rápida o nosso negócio de pessoa jurídica. Temos relações excelentes com médias e grandes empresas do Brasil, multinacionais inclusive", afirmou.

De qualquer forma, segundo Leão, em 2023, a seletividade no crédito vai continuar. "Fazemos uma provisão com a materialidade do que temos. Mas o cenário associado a este caso ou a qualquer outro é muito difícil prever. Não sabemos como o processo de negociação vai evoluir."

Problemas com "um único nome"

No mundo, o banco teve lucro líquido no quarto trimestre de € 2,29 bilhões (R$ 12,6 bilhões), alta de cerca de 1% em relação ao mesmo período do ano anterior e acima dos € 2,07 bilhões previstos por analistas.

O Santander elevou as provisões para créditos duvidosos de seu banco de investimentos em € 257 milhões (R$ 1,43 bilhão), em grande parte devido a problemas com um cliente no Brasil, país que é o maior mercado da instituição financeira.

Segundo o banco, o desempenho da receita e da margem financeira no Brasil foi ofuscado por maiores provisões ligadas, em parte, a "um único nome" –não revelado– na carteira corporativa e de banco de investimento.

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