Descrição de chapéu indústria

Produção industrial cai 0,7% em 2022 e segue abaixo do pré-pandemia

Em dezembro, indicador ficou estagnado ao registrar variação nula (0%), segundo IBGE

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Rio de Janeiro

A produção industrial brasileira fechou o ano de 2022 no vermelho, com queda acumulada de 0,7%, informou nesta sexta-feira (3) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com o resultado, o indicador segue abaixo do patamar pré-pandemia. Está em nível 2,2% inferior ao de fevereiro de 2020, de antes da crise sanitária. Também mostra patamar 18,5% abaixo do recorde da série, de maio de 2011.

Na comparação mensal, a produção industrial ficou estagnada (0%) em dezembro, ante novembro. Esse desempenho veio em linha com as estimativas de mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação nula (0%).

Funcionário trabalha em indústria de alimentos em Campinas (SP) - Zanone Fraissat - 22.set.2022/Folhapress

André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, destacou que a produção industrial opera em nível semelhante ao de janeiro de 2009. Isso ilustra as dificuldades de crescimento enfrentadas pelo setor ao longo dos últimos anos.

Em 2021, a produção industrial havia registrado alta acumulada de 3,9%, após tombo de 4,5% em 2020 e baixa de 1,1% em 2019. Ou seja, amargou perdas em 3 dos 4 anos do governo Jair Bolsonaro (PL).

"Muito do crescimento de 2021 tem relação direta com a queda significativa de 2020, ocasionada por conta do início da pandemia", ponderou Macedo.

Segundo economistas, a indústria foi impactada em 2022 por uma combinação de fatores que dificultou o consumo.

De um lado, a inflação permaneceu elevada sobre produtos como alimentos. De outro, os juros altos criaram um obstáculo para a compra de itens industriais mais caros e que dependem da concessão de crédito.

Também houve uma migração do consumo de bens industriais para serviços que estavam paralisados na fase inicial da pandemia, dizem analistas.

Em outras palavras, essa mudança teria reduzido a fatia do orçamento das famílias destinada à compra de produtos que saem das fábricas.

"Também há influência do aumento nas taxas de inadimplência e de endividamento. E o mercado de trabalho, que embora tenha mostrado clara recuperação ao longo do ano, ainda se caracteriza pela precarização dos postos de trabalhos gerados", disse Macedo.

Em nota, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) afirmou que a falta ou o alto custo das matérias-primas seguiu como um dos principais entraves para as fábricas em 2022.

"Adicionalmente, a indústria nacional conviveu com uma escalada, interna e externa, da taxa de juros, o que desestimulou o surgimento de novos negócios e limitou o desempenho de importantes segmentos do setor", completou.

Recuo disseminado entre as atividades

A queda de 0,7% em 2022 foi acompanhada por recuos em 17 dos 26 ramos pesquisados na indústria, o que mostra uma redução disseminada, segundo Macedo.

A maior influência negativa veio do segmento das indústrias extrativas, que teve baixa de 3,2%, puxada pelo minério de ferro.

Outros destaques negativos foram produtos de metal (-9%), metalurgia (-5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%) e produtos de borracha e de material plástico (-5,7%).

Na minoria das atividades com expansão na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis exerceu a maior influência positiva, com alta de 6,6%.

"Trata-se de um setor que manteve comportamento positivo ao longo de 2022, impulsionado, principalmente, por produtos com maior ligação com a mobilidade", afirmou Macedo.

"Por fim, cabe lembrar também que é um setor que havia recuado em 2021 [-0,7%], ou seja, partiu de uma base menor de comparação", completou.

Em nota, o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) avaliou que as fábricas sentiram em 2022 pressões de custo, gargalos remanescentes das cadeias produtivas, aumento das taxas de juros e encarecimento do crédito, entre outros obstáculos.

"Apesar disso, como o Iedi sempre enfatiza, sabemos que os problemas da indústria brasileira não vêm de agora e são muito mais profundos", apontou o instituto.

Cenário para 2023

O ano de 2023 tende a trazer novos desafios para o setor industrial. Projeções de economistas sinalizam uma desaceleração da atividade econômica no Brasil e ameaças vindas do cenário externo.

"Nossa previsão para 2023 é que a indústria continue andando de lado, podendo até registrar meses com resultado negativo, por conta dos fatores que continuarão presentes neste ano: a taxa de juro deve continuar elevada por um bom tempo, o preço das commodities permanece em queda e a economia global ainda não terá um crescimento robusto", disse em relatório a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

Sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) promete que terá a indústria como foco. A nova diretoria do banco de fomento já falou em necessidade de reindustrialização do país.

A Firjan avalia que, embora haja um processo de normalização das cadeias globais em curso, o cenário deste ano carrega "fatores indefinidos no país e no exterior".

"Nesse sentido, diante da perspectiva de desaceleração econômica global, a Firjan ressalta a necessidade de esforço para aprovação de reformas estruturantes e para definição de uma regra fiscal crível, clara, factível e ambiciosa", afirmou a entidade.

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