Bolsa fecha em baixa e dólar em alta após sinais de presidente do Fed sobre juros nos EUA

Em discurso, Jerome Powell apontou que taxas americanas chegarão a patamar maior que o esperado

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São Paulo

A Bolsa fechou em baixa e o dólar em alta nesta terça-feira (7). O discurso de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) no Congresso aumentou a cautela dos investidores, projetando que os juros nos Estados Unidos chegarão a um patamar maior que o esperado pela própria autoridade monetária.

O Ibovespa fechou em baixa de 0,45%, a 104.227 pontos. O dólar comercial à vista fechou em alta de 0,54%, a R$ 5,194.

No mercado de juros futuros, as taxas apresentam queda, na espera pelas definições sobre temas como reforma tributária e arcabouço fiscal. Nos contratos para janeiro de 2024, a taxa saía dos 13,27% ao ano do fechamento desta segunda-feira (6) para 13,25%. No vencimento em janeiro de 2025, os juros recuavam de 12,70% para 12,65%. No vencimento de janeiro de 2027, a taxa recuava de 13,10% para 13,01%.

Dólar fechou em queda nesta segunda-feira, cotado a R$ 5,16 - Ernesto Benavides - 3.out.2022/AFP

O mercado brasileiro teve desempenho menos negativo que o verificado nos índices americanos. Principalmente por conta dos desempenhos dos bancos, com destaque para as ações do Bradesco, com as preferenciais em alta de 2,33%. As ordinárias do Banco do Brasil avançaram 2,29%.

Em audiência no Congresso americano nesta terça-feira, Powell afirmou que o Fed deve aumentar os juros para um patamar acima daquele que a própria autoridade monetária esperava.

"Os dados econômicos mais recentes chegaram mais fortes do que o esperado, o que sugere que o nível final dos juros deve ser mais alto do que o previsto anteriormente", disse Powell em comentários preparados para uma audiência perante o Comitê Bancário do Senado.

Embora a inflação "esteja se moderando" desde seu pico atingido no ano passado, disse Powell, "o processo de reduzir a inflação para 2% tem um longo caminho a percorrer e provavelmente será acidentado".

O presidente do Fed pediu aos parlamentares dos Estados Unidos que elevem o teto da dívida nacional para evitar as consequências imprevisíveis de não fazê-lo.

"Há apenas uma solução para este problema", disse Powell. "O Congresso realmente precisa elevar o teto da dívida" e "se não o fizermos, as consequências são difíceis de estimar, mas poderiam ser extraordinárias".

A Casa Branca não interferirá na forma como o Fed administra a inflação dos Estados Unidos, disse uma autoridade do governo americano quando questionada sobre os comentários de Powell.

No entanto, a autoridade disse que é importante lembrar que os fortes dados de empregos de janeiro representam apenas um mês de informações e é preciso prestar atenção a novos dados que serão divulgados ainda este mês. "As pessoas precisam sentar e respirar."

Para Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos, os agentes econômicos dos Estados Unidos desaprenderam a lidar com inflação mais alta. "Não é por menos, já que faz 40 anos que o país não vive essa realidade", afirma o analista.

Correa lembra que muitos bancos de investimentos já falam em juros a 6% no final do ciclo de alta. Mesmo com a maioria das variáveis apontando para uma desaceleração da economia americana.

"O mercado de trabalho continua persistentemente forte, e enquanto a população estiver empregada, a inflação de serviços não tem como cair, e o índice geral fica em patamares mais altos", afirma Correa.

Lucas Pinto, economista na Alphatree Capital, afirma que o discurso do presidente do Fed deixou aberta a porta para uma aceleração no ritmo de alta dos juros. "O mercado vinha trabalhando com altas de 0,25 ponto percentual nas próximas reuniões. Já podemos ver um aumento de 0,50 ponto no encontro deste mês".

Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, afirma que a sua projeção para a taxa de juros nos Estados Unidos já estava em um patamar entre 5,50% e 5,75%, mesmo antes do posicionamento de Powell. "O mercado começou a colocar agora nos preços, após o discurso, um cenário entre 5,25% e 5,50%. Isso mexeu em toda a curva de juros americana", diz Miraglia.

Os números comprovam o efeito que o discurso do presidente do Fed teve no mercado de juros. As taxas dos títulos do Tesouro americano com vencimento em 2 anos superaram, nesta terça-feira, os 5% ao ano pela primeira vez desde 2007.

As taxas para os títulos de 10 anos também subiram nesta terça, chegando a 3,98%. Esta diferença entre os dois títulos, maior que 1 ponto percentual, indica que a economia americana entrará em recessão em breve. Analistas projetam que este movimento pode começar já no final de 2023.

Os índices de ações em Nova York caíram mais de 1%. O Dow Jones fechou em baixa de 1,72%. O S&P 500 recuou 1,53%. O Nasdaq encerrou em queda de 1,25%.

Os efeitos aparecem também no câmbio. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas mundialmente relevantes, subia 1,23% perto das 18h30 (horário de Brasília). Este é o maior avanço diário do indicador desde setembro de 2022.

No ambiente local, as expectativas giram em torno do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária. O ministra da Fazenda, Fernando Haddad, teve uma reunião com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na manhã desta terça-feira. O ministro não deu detalhes sobre o que foi discutido.

Sobre a reforma tributária, o secretário especial Bernard Appy disse, em entrevista ao Valor Econômico, que o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) só deve começar a valer a partir de 2025.

Ele afirma que a reforma do tributo sobre consumo pode ser aprovada ainda no primeiro semestre. Na segunda metade do ano, haveria a discussão para mudar os tributos sobre renda.

Em relatório, a Mirae Asset lembra que outro tema importante e muito aguardado pelo mercado é a substituição de diretores do Banco Central. Em fevereiro, venceram os mandados das diretorias de Política Monetária e Fiscalização. "Ao que parece, a percepção é positiva", dizem os analistas.

Sobre o novo arcabouço fiscal, a expectativa do mercado é que seja apresentado antes da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que começa no dia 21 de março, afirma a Levante Investimentos.

Com Reuters

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