Bancos japoneses começam a abolir uniforme para mulheres

Instituições financeiras japonesas abandonam códigos de vestimenta para mulheres que existiam havia décadas

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Yuri Nishida
Asahi Shimbun

Os clientes regulares no caixa de Kanako Katayama, 36, na agência do banco Saitamaken Shinkin, no Japão, observaram algo diferente recentemente: a funcionária vestia camisa branca, blazer preto e calças. Depois de impor um código de vestimenta por 50 anos, agora o banco deixa Katayama usar trajes de sua própria escolha.

Por muitos anos o banco obrigou suas funcionárias mulheres, exceto as que ocupavam cargos de gerência ou vendas, a usar uniforme: camisa de cores específicas, colete e saia ou calça culotte.

Desde maio de 2022, porém, as funcionárias passaram a poder usar terninhos ou outros trajes apropriados. A partir de maio a mesma regra vai valer também para funcionárias temporárias ou que trabalham em regime de tempo parcial.

Uma mulher trajando terninho de negócios de sua própria escolha trabalha no caixa da agência de Kita-Urawa do banco Saitamaken Shinkin
Uma mulher trajando terninho de negócios de sua própria escolha trabalha no caixa da agência de Kita-Urawa do banco Saitamaken Shinkin - 6 mai. 2022/em Saitama

Adotadas em 1969, as normas sobre uniformes visavam "garantir a graça e elegância" e melhorar o desempenho no local de trabalho. Mas quando a empresa recentemente entrevistou funcionários para perguntar sobre essa política, alguns se disseram incomodados por ver apenas mulheres de uniforme. Outros opinaram que isso levava pessoas dentro e fora da empresa a enxergar as mulheres como subservientes aos homens. Para a maioria dos entrevistados, a regra deveria ser abolida.

Um funcionário do setor de recursos humanos do banco explicou as origens da política: "Uniformes podem promover o senso de união entre funcionários e ajudá-los a fazer a transição da vida particular para o trabalho, algo que é importante quando se trabalha com dinheiro".

Mesmo assim, o banco decidiu abolir os uniformes. "Achamos importante acabar com a ‘imagem subserviente’ das mulheres uniformizadas", disse o funcionário. "Podemos conquistar a confiança de nossos clientes quando pensamos em como lhes passar uma impressão favorável com as roupas que usamos, em vez de criar uma harmonia de aparência com o uso de uniformes."

Em vários setores e empresas (agências dos correios, lojas de celulares), os funcionários de ambos os sexos usam uniforme. Então por que virou a norma apenas as mulheres usarem uniforme em instituições bancárias? Segundo Makiko Habazaki, professora adjunta de estudos de gênero no Escritório de Promoção de Diversidade da Universidade Saitama, foi em decorrência da história singular das instituições financeiras.

A partir dos anos 1960, quando o Japão vivia um crescimento econômico acelerado, os bancos passaram a contratar mulheres em grande número para ser caixas, para promover uma imagem acessível e atrair novos clientes. A regra do uniforme exclusivamente feminino foi criada por executivos homens que acharam que seria difícil as funcionárias comprarem terninhos de negócios, já que seus salários eram inferiores aos de seus colegas homens.

O banco Saitamaken Shinkin fornece um uniforme às suas funcionárias. A camisa pode ser cor de laranja, azul ou cor de rosa
O banco Saitamaken Shinkin fornece um uniforme às suas funcionárias. A camisa pode ser cor de laranja, azul ou cor de rosa - Banco Saitamaken Shinkin

Habazaki explica que quando a economia entrou em colapso, no início da década de 1990, muitos bancos aboliram os uniformes de suas funcionárias, para reduzir custos. Mas vários deles restauraram a regra após alguns anos, dizendo que isso promoveria a união entre funcionários e destacaria a imagem do banco.

Nos últimos cinco ou seis anos as instituições financeiras se sensibilizaram para questões de responsabilidade social e a necessidade de alcançar a igualdade de gênero, e isso resultou em um novo esforço para abolir os uniformes.

Já Koei Taniyama, diretor de um departamento da fundação Nippon Uniform Center, crê que "uniformes ainda são uma maneira eficaz de melhorar o branding corporativo, e o interesse pelos uniformes deve retornar em algum momento."

Mesmo agora, há bancos que resistem à tendência: o Mizuho Bank Ltd., um dos maiores do Japão, sempre impôs o uso de uniforme a seus funcionários de ambos os sexos que trabalham fora dos caixas, para evitar que sejam confundidos com clientes. O uso do uniforme é optativo apenas para as caixas.

Habazaki aplaude esse cenário cada vez mais diversificado e torce para que uniformes acabem sendo abolidos em toda parte.

"A estrutura na qual funcionários homens saem para cuidar de vendas e funcionárias mulheres são caixas remete à tradicional divisão de gênero no trabalho no Japão", ela diz. "Os uniformes exerceram um papel na visualização dessa estrutura e em incentivar sua disseminação."

Traduzido por Clara Allain

Esta reportagem está sendo publicada como parte do projeto "Towards Equality", uma iniciativa internacional e colaborativa que inclui 14 veículos de imprensa para apresentar os desafios e soluções para alcançar a igualdade de gênero.

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