Não dá para ouvir só a Faria Lima, tem que ouvir os trabalhadores, dizem sindicatos a Haddad

Movimentos marcam protesto no Banco Central e querem assento no Carf e no Copom

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São Paulo

Lideranças de movimentos sociais e de centrais sindicais se reuniram nesta sexta-feira (3) com o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, em São Paulo. Na pauta dos dois encontros estava a agenda econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a participação dessas entidades na definição das políticas.

"Não pode ouvir só a Faria Lima, tem que ouvir também o movimento sindical, os trabalhadores", disse Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), ao fim da reunião.

As centrais sindicais defenderam no encontro que os sindicatos passem a integrar o Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais) e o Copom (Comitê de Política Monetária). "Queremos participar de fóruns como o Carf, que não pode ter só representantes dos empresários", afirmou o presidente da CUT.

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O ministro Fernando Haddad (PT) em reunião com as centrais sindicais em São Paulo - Roberto Parizotti/CUT
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad em entrevista a jornalistas em Brasília - Pedro Ladeira - 28.fev..23/Folhapress

Segundo Nobre, as centrais sindicais expressaram ao ministro a avaliação de que a atual taxa de juros, em 13,75%, "é um crime para o crescimento do país". As centrais fecharam para o dia 21 de março uma série de manifestações em frente às sedes do Banco Central pelo país.

A data escolhida coincide com o primeiro dia da próxima reunião do Copom, quando serão discutidos os juros básicos da economia, a taxa Selic.

Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos do Brasil), citou a defesa de uma "lei anti-usura". "A Selic não pode estar em 13,75% e o cartão de crédito [com juros] em 400%. Os grandes magazines, na verdade, não são lojas de departamento, são financeiras. Essas coisas precisam ser tratadas."

A atualização da tabela do Imposto de Renda e as regras de tributação também foram discutidas.

Antonio Neto disse que os sindicatos e movimentos defenderam ao ministro a tributação dos "super ricos". Um exemplo apresentado pelo sindicalista do que eles consideram ser reflexo de um sistema injusto foi o de que a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) é um rendimento tributável, enquanto o lucro do empresário é isento.

Segundo Nobre, Haddad afirmou que respeita a agenda dos trabalhadores e que o ministério está aberto a ouvir todas as propostas. Sinalizou também com a possibilidade de discutir em um grupo de trabalho propostas como a que trata o que os sindicatos consideram ser a paridade na composição do Carf.

Luka Franca, representante do MNU (Movimento Negro Unificado) no encontro, defendeu que a Fazenda considere a urgência das políticas públicas. "Sabemos que o tempo da política é diferente."

Na avaliação de Franca, o governo é sensível à situação. "Ele disse que há justamente a preocupação de sobrepesar tanto as demandas do mercado quanto as da realidade concreta da situação."

O valor do salário mínimo não teve muito espaço no encontro desta sexta, segundo os participantes. A centrais calculam que se a política de valorização do salário mínimo tivesse sido mantida, o piso nacional estaria hoje R$ 1.382.

Esse assunto será tratado diretamente na mesa de negociação criada pelo governo para definir uma nova política para o piso.

A agenda de Haddad em São Paulo nesta sexta incluiu duas reuniões, ambas como sindicatos e movimentos sindicais. Na primeira, estavam Ivone Silva, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, da Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro) e Aroaldo Oliveira da Silva, diretor-executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Na segunda estavam, além de Nobre, Antonio Neto e Luka Franca, Miguel Torres, presidente da Força Sindical, Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhador), Rodrigo Rafael, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Bruna Brelaz, da UNE (União Nacional dos Estudantes), Gilmar Mauro, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Raimundo Bonfim, do CMP (Comitê de Movimentos Populares), Dão Real Pereira, do Instituto de Justiça Fiscal, e Fausto Junior, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Além de Haddad, participou da reunião a assessora de Participação Social e Diversidade do Ministério da Fazenda, Juliana Santos, quem ficará responsável pela intermediação das conversas entre Haddad e os movimentos e para a criação do grupo de trabalho.

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