O que foi a crise de 2008 e quais as diferenças para a situação atual

Mercado imobiliário americano levou à quebradeira naquela década, enquanto agora há perda de confiança nos bancos

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São Paulo

A falência do Silicon Valey Bank, em 10 de março, e a depreciação de 30% do Credit Suisse nesta quarta-feira (15) trazem à memória a crise econômica de 2008, a pior pela qual o mundo passou desde a década de 1930.

Mas as turbulências atuais não estão relacionadas com o que aconteceu em 2008. Aquela foi uma crise gerada pelo setor imobiliário, e esta tem outros fatores.

A fachada do banco Lehman Brothers, em Nova York, no dia em que a instituição decretou falência - Nicholas Roberts - 15.set.2008/AFP

No caso do Silicon Valey Bank, clientes retiraram seu dinheiro por conta da preocupação de que as reservas de caixa da empresa estavam baixas. Em relação ao Credit Suisse, há uma crise na confiança dos investidores no banco, após um relatório divulgado pela instituição apontar distorções em suas demonstrações financeiras.

A crise de 2008, contudo, tem sua raiz no mercado de hipotecas americano. Os bancos passaram anos emprestando dinheiro a juros baixíssimos para clientes comprarem seus imóveis. Em 2003, por exemplo, os juros do Fed, o banco central dos Estados Unidos, chegaram a cair para 1% ao ano, a menor taxa desde o fim dos anos 1950.

O crédito farto e barato gerou um aumento de interesse na compra da casa própria, e, com a maior procura, os preços também aumentaram. Em 2005, o "boom" no mercado imobiliário estava avançado: comprar uma casa (ou mais de uma) tornou-se um bom negócio, não só para quem queria adquirir o imóvel próprio, mas também para quem procurava investir.

Nesta época, os bancos descobriram um nicho ainda a ser explorado no mercado: o de clientes do segmento "subprime", caracterizados pela baixa renda, por vezes com histórico de inadimplência, como desempregados e pessoas sem renda comprovada.

Este segmento representa um risco maior de calote que os de outras categorias de crédito, mas, justamente por ser de maior risco, as taxas de retorno são bem mais altas. Em outras palavras, o mercado viveu uma fantasia, emprestando dinheiro para quem provavelmente não poderia pagar

Uma dos atrativos das instituições financeiras era oferecer aos clientes juros mais baixos nos primeiros meses, o que aumentava o risco de calote quando as taxas aumentassem no decorrer do empréstimo. A grande maioria desses empréstimos era garantida pela própria propriedade negociada, a conhecida hipoteca.

Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair. Os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores; com isso, a oferta começou a superar a demanda e o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis.

Com os juros altos, o risco virou realidade. A inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo.

Sem oferta suficiente de crédito, a economia dos EUA desaqueceu. Com menos liquidez (dinheiro disponível), menos se compra, menos as empresas lucram e menos pessoas são contratadas.

Empresas e famílias afetadas pela crise perderam efetivamente condições de investir e consumir, como os donos de imóveis que perderam valor. Assim, evita-se tomar dinheiro emprestado e procura-se poupar para dias difíceis. Mas, com a retração de investimento e consumo, empresas vendem menos; com a queda nos lucros, há mais demissões; com menos renda, as famílias cortam o consumo, e o ciclo recomeça.

A crise de 2008 foi marcada pela falência do tradicional banco Lehman Brothers, em 15 de setembro. Com a inadimplência generalizada, dezenas de outras instituições financeiras também quebraram no país, ficando sem dinheiro para emprestar para os clientes e para operações básicas, como pagar seus funcionários e as contas.

Ao fim do Lehman se seguiram a venda do Merrill Lynch ao Bank of America; a ajuda de US$ 85 bilhões à seguradora AIG, também sob risco de quebrar por falta de fontes de captação de empréstimos; a quebra do banco do segmento de empréstimos em poupança Washington Mutual (WaMu) —no que, segundo analistas, foi a maior falência de um banco nos Estados Unidos—; e a venda do Wachovia, quarto maior dos EUA, que anunciou a fusão com o Wells Fargo, em uma operação de US$ 15,1 bilhões em troca de ações.

Para combater a onda de quebradeira entre as instituições financeiras e acalmar o mercado, o Congresso dos EUA aprovou um plano de ajuda de US$ 700 bilhões. A verba foi usada para comprar títulos "podres", ou papéis cujo resgate é muito improvável, ou seja, com alto risco de calote. A maioria destes ativos era ligados justamente às hipotecas "subprime".

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