'Confiamos na condução econômica do Brasil', diz Ana Botín, presidente do Grupo Santander

Banqueira espanhola avalia que país inspira confiança

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Madri

A presidente do conselho do Grupo Santander, Ana Botín, se declara otimista com o futuro do Brasil. A banqueira está tranquila com a transição de governo de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito neste domingo (30), e acredita que o país está mais preparado do que a maioria para enfrentar o cenário econômico global adverso em 2023.

"Nós trabalhamos com todos os governos em todos os países em que estamos. Temos experiências com governos anteriores [no Brasil], com o do próprio Lula anteriormente e também com o governo que vai terminar", afirmou Botín nesta terça-feira (2) durante encontro com jornalistas em Madri, na Espanha —o primeiro presencial desde o início da pandemia.

"Estamos felizes em seguir colaborando e trabalhar com o Brasil e com sua inclusão financeira."

Presidente do conselho do Santander, Ana Botín; banqueira tem confiança no Brasil - 20.01.20 - Pierre-Philippe Marcou / AFP

Botín reforçou que tem "muita confiança" no Brasil e na condução de sua macroeconomia. "As políticas fiscal e a monetária têm sido acertadas", disse. "Poucos países estão nessa situação."

Segundo a banqueira, a América Latina como um todo está acostumada a enfrentar turbulências, e tem instrumentos para resistir a uma associação de crises que o mundo atravessa e que deve provocar em 2023 uma das piores recessões em décadas. A agência de risco Standard & Poor's, por exemplo, destacou a banqueira, traz perspectivas estáveis para tida a região, incluindo para o Brasil.

"Vivemos uma combinação de crises, que começou com a crise sanitária e derivou para uma crise econômica atingindo empresas, famílias e governos. Agora, temos uma crise energética [resultado da Guerra da Ucrânia], que afeta de todos os setores", afirmou, destacando que Brasil e México são dois países especialmente bem posicionados na América Latina para superar o momento adverso.

"De acordo com o FMI [Fundo Monetário Internacional], o crescimento do Brasil e do México está acima do esperado para os Estados Unidos, e a inflação esperada para o final do próximo ano em ambos os países é inferior à da Alemanha", afirmou.

A banqueira acredita que o Brasil terá condições de enfrentar inclusive o seu momento mais adverso, que ainda está por vir. O mesmo FMI projeta um crescimento de apenas 1% para o Brasil no ano que vem, abaixo da média dos países emergentes, que é estimado em 3,7%, e da média global, que segundo a instituição tem fôlego para ir a 2,7%.

A banqueira destacou que o momento de instabilidade econômica é agravado pela inflação, o mal maior que precisa ser combatido com medidas enérgicas.

"Nosso inimigo número um, numero dois e número três é a inflação, que leva os vulneráveis a sofrerem mais ", disse ela.

Nesse front, Botín também apontou como exemplo o desempenho da América Latina, onde os bancos centrais deram uma resposta precoce à alta do custo de vida. Novamente, ela destacou o Brasil, que se antecipou e já colhe resultados. "Brasil teve três meses com deflação", afirmou.

O necessário combate à inflação vai levar a uma expressiva redução na liquidez (oferta de recursos) e uma retração econômica histórica, e o desafio global será manter níveis de crescimento mínimo durante essa turbulência.

"Sem crescimento não há política social possível, não há inclusão ou os investimentos do setor privado, não podemos falar em educação, saneamento ou em todos os serviços básicos."

Na avaliação de Botín, ao menos dois indicadores sinalizam que a travessia pode ser menos dura que a vista em outros momentos de crise. Primeiro, o fato de o mercado de trabalho ter resistido aos baques e o desemprego ter cedido. Segundo, a questão de a crise, diferentemente de outras no passado, não ser financeira, permitindo que os bancos sejam um componente de apoio.

"Há uma margem macroeconômica para enfrentar o que está por vir, os sistemas bancários estão muito mais capitalizados e muito mais regulados e fiscalizados", disse ela. "Seguimos querendo ser parte da solução."

No Brasil, a instituição já sente os efeitos da crise em curso. Na quarta-feira (26), informou que teve lucro líquido de R$ 3,1 bilhões no terceiro trimestre de 2022, uma retração de 28% na comparação com igual período do ano passado e de 23,5% ante o trimestre anterior.

Mario Leão, CEO do Santander Brasil, afirmou que o resultado ficou dentro das expectativas da instituição, que já havia identificado uma deterioração macroeconômica do país e piora no risco. "O momento atual é mais desafiador e ele se reflete nos resultados, mas é parte de um ciclo conhecido, antecipado, calculado, e que, portanto, não nos surpreende", disse Leão na ocasião.

Atuando no Brasil desde 1982, o Santander tem quase 58 milhões de clientes no país. Com 51 mil funcionários, é o terceiro maior banco privado, atrás de Itaú Unibanco e Bradesco.

A jornalista viajou a convite do Santander

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