PF apreende armas em investigação sobre trabalho análogo à escravidão em vinícolas

Armamento, de dono da empresa acusada de aliciar funcionários, era regular, segundo defesa; soldado citado nega envolvimento

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Porto Alegre

A PF (Polícia Federal) realizou na manhã desta sexta-feira (17) uma operação para aprofundar as investigações e coletar novos elementos de prova envolvendo o caso do resgate de 207 trabalhadores em condições análogas à escravidão, segundo Ministério do Trabalho, em 22 de fevereiro em um alojamento de Bento Gonçalves (RS).

Os trabalhadores vinham da Bahia para o Rio Grande do Sul contratados pela empresa Fênix, do empresário Pedro Oliveira de Santana, e prestavam serviço às vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton. Ao longo do período de colheita da uva, conforme as investigações, eram vítimas de agressões, extorsões e submetidos a jornadas irregulares, além de serem alojados e alimentados em condições desumanas.

Até o momento, conforme a PF, as investigações já identificaram seis pessoas envolvidas —que foram os alvos das medidas judiciais executadas na chamada Operação Descaro. A suspeita é que eles integrem uma organização voltada à prática de submissão ao trabalho escravo.

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Armas foram apreendidas em Bento Gonçalves durante operação contra trabalho escravo (Foto: PF/Divulgação ) - Divulgação

Um dos seis envolvidos é um policial afastado da BM (Brigada Militar, a polícia militar gaúcha) nessa semana –o soldado Márcio Squarcieiri, 39, que atuava em Bento Gonçalves (RS)–, suspeito de atuar na segurança da Pousada do Trabalhador, alojamento no bairro Borgo em que ficavam os trabalhadores.

Foi de lá que seis deles fugiram, segundo as vítimas, para fazer a denúncia de maus-tratos. Em razão do suposto envolvimento do soldado, a Corregedoria da BM acompanhou a operação.

Contatado pela Folha, o advogado de Squarcieiri, Maurício Cardoso, diz que seu cliente nega qualquer vínculo com a pousada e critica a Corregedoria da BM por "falta de cautela".

O advogado argumenta que os corregedores usaram uma foto antiga e sugestionaram os trabalhadores a ligar seu cliente a um segurança que eles identificam pelo apelido de "Escocês" nos depoimentos, mas que não seria o policial.

Os demais investigados são o próprio dono da empresa, Santana, o empresário Fábio Daros, apontado pelos trabalhadores e por funcionários do local como dono do alojamento, e outros três supostos seguranças que não tiveram os nomes revelados pela Polícia Federal. Santana havia sido preso no dia 22, mas foi solto mediante fiança.

Em sete mandados de busca e apreensão, seis em Bento Gonçalves (RS) e um em Garibaldi (RS), os policiais apreenderam nove armas e diversas munições. Elas pertenceriam a Santana, que tem registro de CAC (caçador, atirador e colecionador).

Na Operação Descaro, Squarcieiri teve o celular e o notebook apreendidos em sua residência.

O advogado de Santana, Augusto Giacomini Werner, divulgou nota dizendo que seu cliente "colabora com as investigações" e que é "o maior interessado que a verdade dos fatos seja desvelada". Sobre as armas, confirma que eram de Santana, mas que ele "as mantinha em condições regulares e registradas perante o órgão competente" e que elas teriam sido apreendidas para que fosse apurada a "manutenção da idoneidade do titular do direito", em razão da abertura de inquérito.

A Folha tentou contato com Fábio Daros pelos telefones da Pousada do Trabalhador e de outra empresa registrada em seu nome das 11h30 às 14h45 desta sexta-feira (17), mas não obteve retorno.

No dia 9 de março, as três vinícolas que tinham contrato com a Fênix firmaram um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MPT-RS (Ministério Público do Trabalho do RS) que prevê 21 obrigações e R$ 7 milhões em indenizações. A Fênix, todavia, recusou a proposta de firmar um TAC e teve R$ 3 milhões bloqueados por ordem da Justiça do Trabalho.

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