Descrição de chapéu PIB juros Banco Central

Piora do crédito em cenário de juros altos pode afetar PIB em 2023, diz Fazenda

Desaceleração da economia global também pode pesar negativamente para a atividade econômica

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Brasília

A deterioração das condições de crédito no país em um cenário de juros elevados pode afetar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2023, de acordo com a SPE (Secretaria de Política Econômica) do Ministério da Fazenda.

Segundo o órgão, em nota divulgada nesta quinta-feira (2), a desaceleração da economia global também pode impactar negativamente a atividade econômica no Brasil ao longo deste ano.

Fachada do Ministério da Fazenda, em Brasília - Pedro França - 27.jan.23/Agência Senado

"Podem pesar negativamente para a atividade o aumento da rigidez da política monetária a nível mundial, reduzindo o ritmo de crescimento da economia global e, consequentemente, a contribuição do setor externo para a atividade doméstica e a piora das condições de crédito bancário e não-bancário decorrente das altas taxas de juros domésticas, dificultando a rolagem de dívidas e o acesso a capital de giro pelas empresas", disse.

Entre os fatores positivos para o crescimento nos próximos meses, destacou "a produção recorde de grãos projetada para a safra em 2023, a resiliência do mercado de trabalho, o reajuste real do salário mínimo e a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda".

A SPE estima que o carregamento estatístico do PIB de 2022 para este ano é de 0,2%. O carrego estatístico se trata do impacto positivo do desempenho de um período sobre os seguintes, assumindo que não haja avanço ou recessão no período subsequente.

Conforme dados divulgados nesta quinta pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a economia brasileira fechou o ano de 2022 com crescimento acumulado de 2,9%. Mas a economia brasileira perdeu ritmo e recuou 0,2% no 4º trimestre em relação aos três meses imediatamente anteriores.

A Secretaria de Política Econômica considera que a "desaceleração acentuada" observada no ano passado repercute "a reduzida liquidez no ambiente externo e o ciclo contracionista da política monetária". A taxa básica de juros (Selic) encerrou 2022 em 13,75% ao ano –o maior patamar em mais de seis anos.

"O aumento dos juros somado à inadimplência crescente dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos, levando à retração da atividade industrial e da FBCF [formação bruta de capital fixo]", afirmou.

Em sua análise sobre o PIB, a equipe econômica se referiu em mais de uma passagem ao ciclo de aperto monetário (processo de aumento dos juros) promovido pelo Banco Central no último ano na tentativa de frear a inflação.

"Como consequência das elevadas taxas de de juros, observa-se trajetória ascendente para os spreads [diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa final cobrada do cliente] e para o custo de crédito, além de desaceleração acentuada nas concessões de crédito livre", disse a SPE ao citar a política monetária "no campo significativamente contracionista" como vetor negativo para o crescimento da economia brasileira nos próximos meses.

O tema foi alvo de recorrentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de outros membros do governo, o que gerou um desgaste com a autoridade monetária nas últimas semanas.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), disse na quarta-feira (1º) que a decisão do Ministério da Fazenda de retomar a cobrança de tributos federais sobre gasolina e etanol mostra ao BC que o governo está fazendo "dever de casa".

"Estamos, sim, focados agora na contenção de gastos. Isso que queremos mostrar para o Copom [Comitê de Política Monetária] e Banco Central. Podem, ainda que paulatinamente, diminuir juros, nós temos responsabilidade fiscal e estamos fazendo dever de casa", afirmou a jornalistas, após café da manhã no Palácio do Planalto.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse em entrevista ao UOL, também na quarta, um dia antes da divulgação do indicador pelo IBGE, que o "principal problema econômico" do país é o elevado patamar de juros, embora tenha destacado que o nível da Selic é reflexo da herança deixada pelo governo Bolsonaro.

"Eu, como ministro da Fazenda, tenho de tomar medidas compensatórias para equilibrar o jogo e permitir e até contar que o Banco Central faça a parte dele e comece a restabelecer o equilíbrio da política econômica, com vistas a um crescimento sustentável", disse.

O titular da pasta econômica, contudo, negou que estivesse dando um recado para a autoridade monetária. "Lembrei o que estava escrito na ata do Copom", ressaltou.

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