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Questão de crédito

Aperto no mercado é obscuro; governo ajudaria com clareza na gestão econômica

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Letreiro na fachada do Banco Central, em Brasília - Antonio Molina/Folhapress

Há receios cada vez mais disseminados de que a economia brasileira possa enfrentar o que tem sido chamado de uma crise de crédito.

A definição do fenômeno e sua extensão ainda são imprecisas, inclusive porque faltam indicadores gerais do que se passa nos bancos e no mercado de capitais. Mas há indícios de que o arrocho financeiro tenha atingido fase mais aguda.

A taxa de juros do Banco Central está em nível contracionista faz mais de um ano. A polêmica política a respeito do ajuste fiscal e do BC, impulsionada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agravou tal quadro a partir de novembro.

Ademais, o escândalo da Americanas contribuiu para aumentar a aversão ao risco de emprestar e investir em papéis de empresas. A ameaça de um calote de dezenas de bilhões da varejista chamou a atenção para outras empresas em dificuldades. Existem sinais de que cresceu a procura pelos serviços de renegociação de dívidas.

Desde janeiro, bancos e investidores conferem balanços e revisam suas carteiras e seus orçamentos. Em alguma medida, raciona-se crédito, suspendem-se provisoriamente aplicações. Empresas que ora vão ao mercado encontram custos de financiamento subitamente mais altos.

É preciso reiterar que não se divulgaram ainda dados consolidados recentes a respeito do mercado de crédito, embora as taxas de juros indiquem estresse. Além do mais, o aperto monetário e financeiro não começou neste ano. A crise inflacionária e a incerteza a respeito de regras fiscais são notáveis desde o trimestre final de 2021.

No entanto, o próprio governo federal diz que começa a discutir medidas que facilitem créditos de emergência ou linhas de empréstimos facilitados para bancos.

Pode ser recomendável que se tomem providências a fim de evitar acidentes maiores ou uma progressiva asfixia financeira. Não faria sentido, porém, valer-se do argumento de que hoje haveria riscos mais elevados com o mero objetivo de expandir o crédito e, assim, derrubar uma restrição que, talvez, seja apenas resultado aceitável da política monetária.

É difícil, sem dúvida, discernir a linha que separa uma crise grave e o efeito regular de um aperto dos juros do BC. É importante que fiquem claros, de todo modo, os motivos de eventuais decisões da gestão da economia.

Importa ainda, sem prejuízo de medidas prudenciais eventualmente necessárias, definir o quanto antes o programa fiscal e dar fim à agitação política estéril que torna o arrocho ainda maior. Uma baixa antecipada dos juros e a perspectiva de retomada de algum crescimento do PIB em 2024 contribuiriam para a dissipação dos temores.

editoriais@grupofolha.com

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