Descrição de chapéu Agrofolha

Bolsonaro na Agrishow gera mal-estar com governo Lula e ministro não vai à abertura

Nunca um ex-presidente da República participou do principal evento do setor, em Ribeirão Preto; saia justa inédita divide integrantes da organização

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Ribeirão Preto

A visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto, na próxima segunda-feira (1º), gerou mal-estar com o governo Lula e deve afastar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, do evento.

Principal referência em tecnologia agrícola na América Latina, a Agrishow contava com Fávaro na abertura, mas ele decidiu não participar.

É tradição que o titular da Agricultura compareça ao primeiro dia de evento, especialmente no início de novos governos. Por isso, a ausência dele pode ser vista como um recuo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro desfilou em cavalo na Agrishow de 2022, após ter participado de uma motociata do aeroporto à feira agrícola
O ex-presidente Jair Bolsonaro desfilou em cavalo na Agrishow de 2022, após ter participado de uma motociata do aeroporto à feira agrícola - Isac Nóbrega-25.abr.22/PR

Na terça-feira (25), uma conversa entre a direção da Agrishow e Fávaro terminou em impasse. O presidente da feira, Francisco Matturro, informou ao ministro que Bolsonaro participaria da abertura e que isso poderia causar algum tumulto ou constrangimento por manifestações contrárias ao governo —o agronegócio, em sua maioria, apoiou Bolsonaro na eleição do ano passado.

Segundo relato à Folha, Matturro sugeriu que Fávaro participasse da feira na terça (2), quando haverá reunião da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária).

A conversa desagradou ao ministro e é possível que não haja representantes do governo federal não só na abertura, mas em nenhum dia da Agrishow, que vai até 5 de maio.

O Ministério da Agricultura confirmou que Fávaro não estará no primeiro dia de evento. Uma visita nos outros dias ainda é incerta.

A ausência frustrará o setor, já que havia a expectativa de que o titular da pasta anunciasse linhas de crédito para o agronegócio e desse detalhes da elaboração do Plano Safra 2023/24, que deve ser anunciado em junho.

Lula já não era aguardado, mas havia a expectativa de que ele fosse representado também pelo seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador paulista e que era visita habitual ao evento.

O convite para Bolsonaro visitar Ribeirão partiu do presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, Paulo Junqueira, que também preside a Associação Rural de Ribeirão e é vice-presidente da Assovale (Associação Rural Vale do Rio Pardo).

A ida à Agrishow marcará a primeira viagem do ex-presidente após retornar ao país. Bolsonaro deverá desembarcar no aeroporto de Ribeirão no início da tarde de domingo (30), mas sua agenda ainda não foi divulgada.

Ruralistas disseram que ele participará de um churrasco numa fazenda. Em redes sociais e grupos de aplicativos de celular, apoiadores do ex-presidente têm afirmado que ele poderia participar de uma motociata, de uma reunião com sua base política e até mesmo do último dia do Ribeirão Rodeo Music, que acontece na cidade.

Junqueira afirmou não estar organizando nenhum evento com o ex-presidente no domingo e disse ter enviado o convite como dirigente do sindicato.

"Tive a confirmação de que a Agrishow também enviou convite para ele e imediatamente aceitou. Dou graças a Deus de ser a primeira viagem que ele vai fazer depois que retornou dos Estados Unidos, prestigiando a região de Ribeirão Preto e a feira", disse.

A Agrishow, contudo, disse não ter convidado Bolsonaro, acrescentando que só convida políticos em exercício do cargo. De acordo com representantes do evento, a sugestão a Fávaro foi para que ele ampliasse sua permanência em Ribeirão, e não que deixasse de participar da abertura para visitar o evento no dia seguinte.

Junqueira disse que não passa pela sua cabeça que o presidente da feira, Francisco Matturro, ex-secretário da Agricultura de São Paulo, tenha desconvidado o ministro.

"Ele pode ter dito ‘olha ministro, na abertura da feira estará o Bolsonaro, o governador [Tarcísio de Freitas]’, pode ter dito isso, mas duvido que tenha dito [para o ministro alterar a agenda]."

O ruralista afirmou ainda que há um ranço do setor com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por fatores como a aproximação com o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile e que "acima de 90% apoia o ex-presidente". "Ele [Stedile] lidera um grupo terrorista", disse.

Desde o início da manhã desta quarta, dirigentes de associações ligadas à organização da Agrishow buscavam contato com o ministério para tentar desfazer o mal-estar.

A feira agrícola publicou uma nota de dois parágrafos no fim da manhã reafirmando o convite a Fávaro para participar da abertura e o elogiou.

"Para a direção da Agrishow, o ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sua participação na feira é muito importante para todo o setor", diz a nota.

A SRB (Sociedade Rural Brasileira), uma das organizadoras da feira, também se manifestou, ao afirmar que a Agrishow é "democrática, apartidária, difusora de tecnologias e aberta a todos".

"A Sociedade Rural Brasileira reitera a importância da participação e o convite ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a toda equipe do governo federal para que participem da cerimônia de abertura, assim como fica imensamente honrada com a presença do governador Tarcísio de Freitas e do ex-presidente da República Jair Bolsonaro", diz a entidade.

Nunca, até a edição deste ano (28ª), um ex-presidente da República participou da feira, e a situação inédita tem dividido integrantes da organização da Agrishow sobre a visita de Bolsonaro, segundo relatos feitos à Folha.

Enquanto uma parte defende a presença por entender que o ex-presidente foi importante para o setor e é apoiado pela maioria dos ruralistas, outra avalia que o agronegócio depende de políticas públicas do governo federal e que ficar ao lado de um rival político de Lula não seria inteligente.

Há dúvida sobre se Bolsonaro estará no palanque oficial na abertura, como nas duas vezes em que a visitou como presidente, ou se ficará na plateia, como ocorreu em 2018, quando esteve na feira agrícola na condição de pré-candidato. No ano passado, ele participou de uma motociata entre o aeroporto e a feira, e entrou no local montado num cavalo.

A Agrishow é organizada por Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo) e SRB.

Segundo Junqueira, é possível a feira abrigar Bolsonaro e o ministro e disse fazer votos de que "atuem em sinergia para aplicação de boas políticas públicas voltadas para o setor".

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