Descrição de chapéu Rússia forças armadas

Guerra Fria 2.0 abre mercados para o KC-390 da Embraer

Empresa avança negociação com mais dois países da Otan e mira a mina de ouro dos EUA

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Rio de Janeiro

Principal produto da divisão de defesa da Embraer, o avião de transporte tático e reabastecimento aéreo KC-390 Millennium tem sido beneficiado pelas tensões mundiais decorrentes da invasão russa da Ucrânia e do acirramento da Guerra Fria 2.0 entre EUA e China.

A empresa brasileira está perto de conquistar mais dois clientes na Otan, a aliança militar ocidental, e mira uma expansão no maior mercado de defesa do mundo, o dos EUA.

O avião de transporte tático KC-390, da Embraer, pousa na base aérea de Anápolis (GO)
O avião de transporte tático KC-390, da Embraer, pousa na base aérea de Anápolis (GO) - Evaristo Sá - 19.dez.2022/AFP

Durante a LAAD, a principal feira militar da América Latina que acaba nesta sexta (14) no Rio, delegações da Eslováquia e da Áustria aprofundaram conversas para adquirir um número incerto de aviões. Antes, a Embraer e Saab sueca haviam anunciado uma parceria para vender o KC-390 para o país nórdico.

As delegações esolovaca e austríaca trataram do assunto também em nível governamental —como ocorre no mundo todo, vendas militares passam pela bênção de governos, quando não são negócios firmados entre Estados como no caso do acordo Brasil-França de 2009.

O caso europeu é autoexplicativo. O ataque de Vladimir Putin à Ucrânia levou a uma reorganização das prioridades de defesa da Europa, com cerca de 20 países anunciando aumento de gasto militar e o fim da neutralidade da Finlândia, que aderiu à Otan, e da Suécia, que está na fila.

No caso da aviação de transporte, o continente tem 160 cargueiros médios, 140 deles do venerado modelo americano C-130 Hércules, que voa desde os anos 1950. Viena opera três deles, enquanto Bratislava tem dois C-27 Spartan, de fabricação italiana.

No âmbito da Otan, a Embraer já vendeu cinco KC-390 para Portugal, outros cinco para a Holanda e dois, para a Hungria. Não há um preço fixo por aeronave, pois cada negócio envolve pacotes diferentes de apoio, pós-venda e afins, mas Budapeste vai pagar US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) por dois aviões, por exemplo.

Em relação aos EUA, o desafio e a oportunidade são maiores. O óbice evidente é que Washington quer ver o C-130 voando por mais tempo, com atualizações constantes da fabricante Lockheed Martin. Talvez o mais famoso avião de transporte do mundo, o quadrimotor turboélice Hércules contudo é um projeto dos anos 1950, com desempenho inferior ao do bimotor a jato KC-390.

Isso dito, a Embraer associou-se à L3Harris americana em 2022, primeiro passo para ofertar o produto nos EUA: o governo exige um parceiro local, como a Sierra Nevada é no caso do caça de ataque leve Super Tucano que vendeu ao país.

Em setembro, vai enviar o KC-390 pela segunda vez a um exercício militar nos EUA, ocasião que serve de "test-drive" do modelo para os potenciais clientes. O foco aqui é menos a capacidade de transporte e sim a de reabastecimento aéreo do modelo —o K em sua sigla indica essa função, e sua versão só de carga se chama C-390.

O motivo é o Indo-Pacífico, o teatro de operações central da Guerra Fria 2.0 entre EUA e China. Toda a região é coalhada de pistas de pouso menores e mais rústicas, que em um caso de conflito não teriam como receber os grandes aviões de reabastecimento estratégicos dos EUA, baseados em jatos comerciais como o Boeing-767 e outros.

O KC-390, por sua vez, é menor e mais ágil nesse ambiente, ainda que tenha menor autonomia. Esse ponto de venda tem sido feito nos EUA, que de todo modo não tem uma concorrência aberta para esse tipo de avião no momento.

O cargueiro pode também, a exemplo do que ocorreu quando os Super Tucano vendidos foram parar na Força Aérea do Afeganistão antes da volta do Talibã ao poder em 2021, equipar aliados regionais dos EUA.

Presidente da Embraer Defesa e Segurança desde dezembro, o executivo Bosco da Costa Junior não quis comentar nenhuma das propostas europeias. Sobre o mercado americano, afirma que entrar nele seria um ponto de inflexão na carreira do avião. "Estamos em todo o mundo", disse à Folha.

O cliente primário do KC-390 é a FAB (Força Aérea Brasileira), que participou do desenvolvimento do projeto e depois, em 2009, anunciou a compra de 28 aviões. No ano passado, após uma dura negociação que tornou-se a crise mais aguda entre a fabricante privatizada em 1994 e a Aeronáutica que a criou em 1969, o negócio foi revisto e agora serão adquiridos 19 unidades, a sexta das quais será entregue em breve.

Em uma fala pública na LAAD, ele afirmou que a Embraer e a FAB "estão totalmente alinhadas", comentando a associação com a Saab sobre o cargueiro, que envolve também a promoção da linha de montagem do caça Gripen na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto (SP) a centro exportador regional —os suecos disputam o fornecimento de aviões no Peru e na Colômbia.

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