Descrição de chapéu forças armadas

Helibras, 45, volta a ter presidente brasileiro e mira novo contrato militar

Dona europeia da fábrica de helicópteros de MG, Airbus quer reforçar identidade nacional

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Rio de Janeiro

Única fábrica de helicópteros do Hemisfério Sul, a Helibras chega aos 45 anos buscando uma reorientação de imagem e mirando uma novo grande projeto militar com o governo brasileiro para um novo ciclo de expansão.

Controlada integralmente pelo consórcio europeu Airbus, a empresa de Itajubá (MG) voltará a ter um presidente brasileiro após oito anos. O escolhido foi o chefe da área de serviços e apoio ao cliente da Airbus Helicopters na América Latina, Alberto Duek, que já havia passado pela Helibras antes de ir para a França, sede do grupo.

Helicóptero H225M da Marinha, fabricado na Helibras, decola no Riocentro com o ministro José Múcio (Defesa)
Helicóptero H225M da Marinha, fabricado na Helibras, decola no Riocentro com o ministro José Múcio (Defesa) - Igor Gielow/Folhapress

Sete em cada dez helicópteros que voam no país são da Helibras, proporção que sobe a 90% quando se fala de frotas militares e policiais. Nesses 45 anos, entregou 800 aparelhos no Brasil, 680 dos quais ainda voam.

"Somos uma empresa nacional", diz o atual presidente, o francês Jean-Luc Alfonsi. Indisfarçável como o sotaque do executivo é o fato de que, desde o berço, o DNA europeu da Helibras é acentuado: ela foi criada em 1978 como uma colaboração do Brasil com a fabricante de helicópteros francesa Aérospatiale para prover às Forças Armadas locais.

Ao longo dos anos, ela seguiu o ritmo do balé da unificação europeia, que na indústria aeroespacial acompanhou a formação da União Europeia. Com efeito, no mesmo ano em que o bloco foi criado, 1992, a Aérospatiale e a alemã Daimler —que se uniram como Eurocopter, sendo depois compradas pela Airbus.

Em janeiro deste ano, o grupo europeu finalizou o controle sobre a empresa ao comprar os 15,5% restantes do governo mineiro na Helibras por R$ 95 milhões. Em 2022, a fabricante teve um faturamento de R$ 1,3 bilhão, tendo vendido 23 helicópteros civis e 27, militares.

"Nossa fábrica é a única fora da Alemanha e da França que tem o nível 1 de engenharia, o mais alto, que dispensa validações quando um produto nosso vai para o exterior", afirmou Duek, que havia sido confirmado no cargo pouco antes da conversa com a Folha, no fim da tarde de terça (11) na LAAD, feira militar que ocorre no Rio.

Alfonsi, que irá para a Airbus no Japão, afirmou que o futuro da empresa passa por um novo ciclo de contratos governamentais. No escopo do acordo militar Brasil-França de 2009, a Helibras passou a fabricar, com até 50% de nacionalização, 50 modelos militares pesados H225M.

O contrato de € 1,9 bilhão (€ 2,48 bilhões em valores atuais, ou R$ 13,5 bilhões) prevê a entrega do último aparelho em 2025. A partir daí, sem um novo produto, a empresa teme a evasão de cérebros de sua engenharia —um processo que se viu no "cluster" aeroespacial em torno da Embraer, em São José dos Campos (SP).

"Nós precisamos do apoio do governo", afirma Alfonsi. "O projeto [do H225M] gerou muita troca tecnológica, capacitação", diz seu sucessor, que assumirá em julho. Com efeito, a dependência do Estado é uma realidade na indústria militar no mundo todo, os líderes EUA à frente.

Segundo o espanhol Alberto Robles-Sendin, vice-presidente para a região da Airbus Helicopters, a empresa quer priorizar o fornecimento do helicóptero militar médio H160, que preencheria a gama intermediária das Forças Armadas –que operam modelos leves e pesados.

O que vem em troca, além obviamente dos aparelhos, é outro ponto de venda da Helibras. "Nós servimos aqueles que servem o país", diz Duek, repetindo o slogan da fabricante. "Temos uma função social muito importante", continuou, citando o desastre da barragem de resíduos em Brumadinho (MG), que matou 270 pessoas em 2019.

"Ali, mantivemos 31 helicópteros de nossa frota, que chegavam a qualquer lugar, operando 100% durante 45 dias. E não cobramos nada", afirmou o executivo, sobre os esforços de resgate de vítimas.

Além do foco doméstico, há o mercado latino-americano. A empresa tem cerca de 1.400 aparelhos na região, e uma demanda crescente por manutenção e renovação.

"Recentemente, vendemos aparelhos para o Chile e também trouxemos para Itajubá, para manutenção", afirmou. Ele vê, como todos os executivos da área, uma renovação no interesse em produtos militares devido à Guerra da Ucrânia. "É algo cíclico", afirma, "e que não tem coloração ideológica, como nossos negócios com chilenos e colombianos, de esquerda, mostram".

Ele adota uma natural diplomacia ao falar da influência política nas decisões de compra. "Nossa empresa trabalha com países, não governos. Vendemos no Brasil desde 1979", disse, sobre o primeiro contrato, com a Marinha.

Ainda assim, Robles-Sendin afirma que 2023 será um ano lento para os negócios devido ao fato de haver um novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "É um período de transição na área estatal e, no setor privado, há incertezas com os rumos da economia", diz.

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