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Twitter mira postagens que ligam a seu rival Substack

A empresa de Elon Musk fez a mudança de norma dois dias depois que a startup editorial Substack lançou um serviço semelhante ao Twitter

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Kate Conger Ryan Mac
São Francisco (Califórnia) | The New York Times

Na quarta-feira (5), o serviço de newsletters Substack anunciou que havia construído uma concorrente do Twitter. Na quinta (6), o Twitter impediu que os escritores do Substack compartilhassem tuítes em seus boletins. E na sexta (7), o Twitter tomou medidas para impedir que os boletins do Substack circulem na plataforma.

A decisão do Twitter de golpear uma novata foi um desvio súbito do comportamento normal entre empresas de internet e editoras. Também forneceu mais argumentos para os críticos que dizem que, embora Elon Musk, o novo proprietário do Twitter, sempre tenha elogiado a importância da liberdade de expressão, ele não deixou de restringir as concorrentes e o conteúdo de que não gosta.

A nova briga com uma jovem empresa é a mais recente controvérsia na caótica propriedade de Musk do Twitter, que ele adquiriu há cerca de seis meses. Ele demitiu mais de 75% dos funcionários, foi processado por proprietários por não pagar o aluguel de escritórios e perdeu anunciantes.

Logo do Twitter em frente ao rosto do bilionário Elon Musk
Logo do Twitter em frente ao bilionário Elon Musk - Dado Ruvic - 27.out.2022/Reuters

Enquanto Musk há muito entra em conflito com os principais meios de comunicação, o alvo do Substack afeta amplamente os escritores independentes, alguns dos quais contam com o Twitter para atrair leitores para seu trabalho.

"É um enorme inconveniente", disse Hunter Harris, escritora que distribui seu boletim informativo, Hung Up, no Substack. "É incrivelmente mesquinho."

Os fundadores do Substack, Chris Best, Hamish McKenzie e Jairaj Sethi, disseram em comunicado que ficaram "desapontados" com a decisão do Twitter de sufocar o engajamento com qualquer tuíte que apresentasse um link do Substack.

"Os escritores merecem a liberdade de compartilhar links para o Substack ou qualquer outro lugar", disseram eles. "Essa mudança repentina é um lembrete de por que os escritores merecem um modelo que os coloque no comando, que recompense bons trabalhos com dinheiro e proteja a liberdade de imprensa e de expressão."

Musk não respondeu a um pedido de comentário.

O Twitter e o Substack compartilham um grande investidor, a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, que poderia ser chamada para arbitrar a disputa. Uma porta-voz da Andreessen Horowitz, que liderou uma rodada de investimentos de US$ 65 milhões (R$ 329,4 milhões) no Substack em 2021 e investiu US$ 400 milhões (R$ 2,027 bilhões) no Twitter de Musk no ano passado, não respondeu a um pedido de comentário.

O novo recurso do Substack, chamado Notes, imita o Twitter de várias maneiras. Ele permite que os usuários publiquem breves atualizações e que outras pessoas aprovem, repostem ou respondam a elas. As mudanças adotadas pelo Twitter na sexta-feira significam que os usuários do Twitter ainda podem compartilhar links para boletins do Substack, mas impedem que outros usuários aprovem ou retuítem esses links.

Antes de Musk adquiri-lo, o Twitter às vezes restringia curtidas e retuítes como forma de impedir que conteúdo que violasse suas políticas se espalhasse amplamente na plataforma. A medida foi usada para limitar o alcance dos tuítes do ex-presidente Donald Trump, nos quais ele fazia falsas afirmações sobre como os votos seriam contados nas eleições de 2020.

O Twitter tem sido um importante meio de distribuição para os autores do Substack, muitos dos quais são independentes dos meios de comunicação tradicionais e contam com assinaturas para ganhar dinheiro.

Alguns dos escritores mais populares do Substack têm sido apoiadores de Musk, que lhes deu acesso especial para vasculhar e liberar os "Arquivos do Twitter", comunicações internas que, segundo o bilionário, mostram os preconceitos da administração anterior do Twitter. Um desses autores, Matt Taibbi, disse em um tuíte na sexta que estava "alarmado" e deixaria o Twitter por causa das restrições ao Substack e postaria no Substack Notes.

As mudanças indignaram os escritores que usam o Twitter e o Substack para distribuir seu trabalho. "Não consigo explicar o quão absurdo e bobo isso é", escreveu Rohit Krishnan, que escreve o boletim informativo Strange Loop Canon, em um tuíte. "Sem mencionar mesquinho e vingativo."

Harris disse que, embora o Twitter não direcione tráfego significativo para sua newsletter, as restrições penalizam os leitores que podem querer compartilhar links para seu trabalho ou discuti-lo no Twitter. Impedir que os escritores do Substack incluam tuítes em seus boletins também retirou o devido crédito dos usuários do Twitter, acrescentou ela.

"Qualquer alternativa ao Twitter seria ótima", disse Harris sobre a mudança do Substack para criar um concorrente. "Eu quero outro lugar como o Twitter que não seja o Twitter."

Outros escritores disseram que a última ação de Musk contradiz suas declarações sobre permitir a liberdade de expressão no Twitter.

"Ao cortar o acesso ao Substack, Elon está proibindo o acesso a conteúdo gratuito e altamente informativo na internet", disse Simon Rosenberg, que escreve um boletim sobre política. "É censura do pior tipo."

Não é a primeira vez que Musk bloqueia o compartilhamento de serviços concorrentes no Twitter. Em dezembro, ele suspendeu usuários do Twitter, incluindo vários jornalistas, por se conectarem ao Mastodon depois que um usuário do Mastodon compartilhou informações públicas sobre a localização do jato particular de Musk.

Ele passou a proibir os usuários de compartilhar links para o Facebook, Instagram e várias outras empresas de rede social, mas mudou de rumo após uma reação. Sob pressão de apoiadores que viram a medida como um abandono de seus princípios de liberdade de expressão, Musk disse em dezembro que deixaria o cargo de executivo-chefe do Twitter assim que encontrasse um substituto. Ainda não o fez.

Musk também intensificou sua antiga rivalidade com a grande mídia. No sábado (1), ele revogou o selo de verificação do The New York Times, que distinguia sua conta no Twitter de imitadores. Musk havia dito que o Twitter começaria a remover os selos de verificação a partir de 1º de abril, mas a maioria das contas verificadas manteve seus selos azuis.

Na quarta, o Twitter adicionou um rótulo à conta da NPR (Rádio Pública Nacional), chamando-a de "mídia patrocinada pelo estado". O rótulo, que a plataforma usou no passado para identificar veículos de propaganda, gerou reação de organizações de liberdade de imprensa. Em e-mails para um repórter da NPR na quarta, Musk reconheceu que o rótulo "talvez não seja preciso" e acrescentou: "Devemos corrigi-lo".

Esta semana, Musk fez uma série de mudanças inexplicáveis no Twitter, substituindo o logotipo do pássaro da empresa durante alguns dias pela imagem de um cachorro Shiba Inu, associado à criptomoeda Dogecoin.

Na terça (4), a empresa também cobriu a letra "w" do nome "Twitter" em uma grande placa pública diante de sua sede em San Francisco, no que alguns observadores consideraram uma piada vulgar.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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