Arcabouço reduziu risco de cenário extremo de alta da dívida e pode baixar inflação, diz BC

Para Copom, se Congresso aprovar regra fiscal 'crível e sólida', pode ocorrer processo benigno de desinflação

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Brasília | Reuters

O Banco Central (BC) avalia que a apresentação do arcabouço fiscal pelo governo reduziu a incerteza associada a cenários extremos de crescimento da dívida pública, conforme ata do Copom (Comitê de Política Monetária) publicada nesta terça-feira (9).

O documento reafirmou que se o Congresso aprovar uma regra considerada crível e sólida, há uma tendência de um processo benigno de desinflação, embora ressalte que não há relação mecânica entre a regra fiscal e os níveis de preços.

Prédio do Banco Central, em Brasília - Adriano Machado - 22.mar.2022/Reuters

"A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia, o prêmio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do Comitê", disse.

O Copom ressaltou que as expectativas de inflação seguem desancoradas das metas, tendo havido uma pequena deterioração, destacando que acompanha este movimento com preocupação.

No documento, o BC afirmou que no atual estágio da dinâmica inflacionária, o processo de redução de preços tende a ser mais lento, em meio a um ambiente com expectativas desancoradas.

No entanto, a ata reafirma a avaliação apresentada no comunicado da semana passada de que os cenários que poderiam requerer a retomada do ciclo de aperto monetário se tornaram menos prováveis.

O BC decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano na reunião mais recente, sem sinalizar um possível corte futuro da taxa básica, como tem sido cobrado pelo governo Lula, mas passou a ponderar que um cenário de novos aumentos nos juros agora é "menos provável".

O documento afirma ainda que, considerando a base de comparação com o ano passado, é esperada "uma queda relevante" no índice de preço acumulado em 12 meses até este trimestre, com elevação do indicador até o fim do ano. E ressalta que o movimento não altera a inflação subjacente e as perspectivas futuras.

O BC disse que os indicadores seguem corroborando o cenário de desaceleração gradual da atividade, em linha com o esperado. O documento, que em março falava em "sinais de moderação" do mercado de trabalho, agora afirma que a área de emprego "tem apresentado resiliência".

"O Copom antecipa um crescimento mais vigoroso na divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre do ano, especialmente em função da produção agrícola, seguido por moderação da atividade econômica em ambiente marcado por resiliência no mercado de trabalho", disse.

João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, avalia que a perspectiva para um afrouxamento monetário no curto prazo é desafiada pela desancoragem atual das expectativas, a manutenção dos núcleos de inflação em patamar superior ao teto da meta e a resiliência da atividade.

"Essa dinâmica mantém o Banco Central mais conservador, atrasando o início do ciclo de cortes", disse.

A ata afirmou que o ambiente externo se mantém adverso e avaliou que o impacto dos episódios envolvendo bancos no exterior tem viés negativo para as condições financeiras e o crescimento global, embora tenha sido registrado um contágio limitado até o momento.

Os membros do Copom reforçaram que há uma separação de instrumentos para alcançar seus objetivos de controle de inflação e de estabilidade financeira.

Na reunião, ainda foram avaliados fatores que poderiam aumentar a taxa de juros neutra —que não estimula nem retrai a economia. Foi citado como elemento a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas, em meio a discussões no governo de promover financiamentos de bancos públicos com juros mais baixos.

Segundo a ata, alguns membros do Copom levantaram outro aspecto, ao ressaltarem que a possível alta das taxas neutras nas principais economias, a resiliência na atividade brasileira e o processo desinflacionário lento poderiam ser compatíveis com uma taxa neutra mais alta no Brasil. Se confirmada a hipótese, o atual aperto monetário teria efeito menos contracionista do que o previsto pelo BC.

"Entretanto, a maioria dos membros do comitê julgou que essa interpretação ainda parece prematura e necessita de corroboração maior dos dados", disse o documento.

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