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Banco Central

Galípolo tem missão e será cobrado por Lula cedo ou tarde

Difícil acreditar que enviar o secretário-executivo da Fazenda para o BC agora é mero estágio probatório

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Brasília

Representantes do chamado mercado financeiro, o grupo de profissionais que movimenta indicadores econômicos, ficaram divididos com a confirmação de que o presidente Lula decidiu indicar desde já o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, para ser diretor de Política Econômica do Banco Central.

Os descrentes com o PT têm a convicção de que Lula oficializou o ruído. O governo vai sair do campo da crítica verbal para o da ação, instalando divergência capaz de minar a gestão de Campos Neto por dentro. Nessa perspectiva, a sua transferência equivaleria a instalar um posto avançado do Executivo dentro da autarquia. Galípolo teria sido escalado para atuar como vice-presidente do BC.

Gabriel Galípolo, secretário-executivo do Ministério da Fazenda; número dois da pasta agora é indicado a diretoria do Banco Central - 13.12.22 - Pedro Ladeira/Folhapress

A turma do deixa disso afirma que não há surpresa no movimento e que ele tem intenções republicanas. Para esse grupo, Galípolo é profissional moderado, com conhecimento técnico sobre o funcionamento das instituições financeiras. A sua presença no BC serviria mais para apaziguar os ânimos.

Essa perspectiva, dizem seus defensores, teria sido refletida no comportamento da Bolsa, que nem se mexeu com o anúncio, feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na hora do almoço, com o mercado ativo e operante.

Dentro do governo, há quem diga que o movimento equivale à concessão de um estágio. Galípolo tomaria pé dos ritos da autoridade monetária para se cacifar a presidente da autarquia quando chegasse a hora.

Ninguém tem dúvidas de que o Ministério da Fazenda venceu mais uma discussão interna no governo. A primeira leva de nomes para o BC que veio a público, num vazamento atribuído à Casa Civil, chegou a ser dada como certa, mas o fato é que não vingou.

Lá atrás, Campos Neto e todo o setor financeiro foram pegos de surpresa pela divulgação precoce. O que se conta nos bastidores é que Haddad e Galípolo ficaram irritados com o atropelo.

Agora, a versão é outra. Galípolo e Ailton Santos, primeiro preto indicado para ser diretor da autarquia, foram nomes ventilados, testados. Todo mundo, de fato, estava ciente da nova estratégia.

No entanto, percepções à parte, vale aqui uma reflexão proposta por uma máxima jurídica: não se muda lei para deixar as regras como estão. Lula ataca o presidente do BC há meses por discordar da política monetária que sustenta a taxa básica de juros em 13, 75%.

Neste sábado, numa coletiva em Londres, afirmou para o planeta que o presidente do Banco Central do Brasil não tem compromisso com o seu país. São palavras fortes.

Difícil imaginar que anunciar o número dois da Fazenda para o BC logo após o retorno dessa viagem tenha meta de resultado zero para o governo. Galípolo tem missão e será cobrado pelo presidente.

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