Descrição de chapéu Financial Times

Assembleia de acionistas da Shell tem tumulto contra plano de transição energética

Wael Sawan, presidente-executivo, enfrentou interrupções de ativistas e perguntas hostis dos investidores

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Tom Wilson
Londres | Financial Times

A Shell sofreu uma revolta de acionistas contra sua estratégia de transição energética, pelo segundo ano consecutivo, quando sua assembleia geral de acionistas foi interrompida por ativistas do clima.

Vinte por cento dos acionistas votaram contra a estratégia de transição da Shell e seu progresso nos últimos 12 meses —a mesma proporção que no ano passado— depois que a assembleia anual foi aberta com uma cascata de protestos.

Dez segundos depois de Andrew Mackenzie, o presidente do conselho, iniciar seus comentários iniciais, ele foi interrompido pelo primeiro manifestante, que foi retirado do local da assembleia, no leste de Londres, o que só levou um segundo manifestante a continuar o protesto. A cada vez que um manifestante era retirado, outro se levantava.

Seguranças retiram participante da manifestação Fossil Free London do local da assembleia de acionistas da Shell - Toby Melville - 23.mai.2023/Reuters

Em dado momento, após quase uma hora de interrupções consecutivas, dois ativistas tentaram invadir o palco, onde os integrantes do conselho estavam sentados. A equipe de segurança da Shell se esforçou para impedi-los, formando um escudo humano ao redor do presidente-executivo Wael Sawan e dos demais integrantes do conselho da empresa.

A assembleia de acionistas desta terça-feira (23) foi a primeira sob o comando de Sawan, que foi conduzido ao posto em janeiro.

O novo CEO enfrentou uma sucessão de perguntas hostis dos acionistas, que desafiaram o conselho sobre o ritmo em que a empresa planejava reduzir suas emissões.

O Conselho de Pensões da Igreja da Inglaterra disse que havia apoiado a empresa quando a Shell foi a "pioneira no setor de petróleo e gás natural, em 2021, ao lançar uma estratégia de transição energética que incluía o compromisso de reduzir as emissões.

"Hoje, lamento dizer que vemos um caminho diferente sendo tomado", disse Laura Hillis, diretora de investimento responsável do fundo, apontando para comentários de Sawan de que a empresa pode considerar investir na produção de petróleo e gás natural por mais tempo.

Apesar das críticas feitas pelos acionistas presentes na sala, Sawan observou que 80% dos acionistas, incluindo os maiores investidores institucionais da Shell, voltaram a apoiar os planos de transição da empresa.

"Acho que a maioria silenciosa foi muito clara conosco quanto às suas expectativas, e suas expectativas são ‘por favor, encontrem uma transição equilibrada’, que é o que estamos tentando fazer", disse Sawan, falando após o encerramento da assembleia.

"A pior coisa que podemos fazer é simplesmente colocar dinheiro [na transição energética], a melhor coisa que podemos fazer é criar modelos de negócios passíveis de crescimento e lucrativos".

Sawan disse que a Shell continua comprometida com sua estratégia de transição energética anunciada em 2021 e que está cumprindo as metas do plano. Mas ele também enfatizou, como já fez antes, que a Shell continuaria a investir em petróleo e gás natural, enquanto aumentava os gastos com formas de energia de baixo carbono.

"A direção permanece inalterada, é mais uma questão de nossa forma de execução para sermos capazes de realizar isso e, mais importante, como nos mantemos competitivos porque... o desempenho do preço das ações não está onde precisa estar".

A votação de uma resolução rival, do grupo ativista de acionistas holandeses Follow This, que afirma que o plano da Shell não vai longe o suficiente e não está alinhado com o acordo de Paris sobre o clima, de 2015, também não sofreu alterações em relação a 2022, com pouco mais de 20% dos acionistas apoiando a resolução.

"Seu conselho não quer reduzir as emissões nesta década", disse Mark van Baal, fundador da Follow This, durante a assembleia, pedindo aos acionistas que "dissociem os lucros de curto prazo e de longo prazo", em apoio ao seu apelo por uma redução mais agressiva das emissões.

Mackenzie manteve a calma durante toda a desafiadora assembleia, incentivando os manifestantes a permanecerem sentados e a fazerem suas declarações durante a sessão de perguntas e respostas. "Queremos manter um debate civilizado", ele disse

No início da assembleia, outro grupo de manifestantes, que precisavam possuir ações da Shell para ter acesso ao local, começou a cantar "Go to Hell Shell" (Vá para o inferno, Shell) ao som da canção "Hit the Road Jack", de Ray Charles.

Mackenzie disse ao Financial Times que havia instruído a segurança a permitir a entrada de todos os acionistas, em vez de tentar filtrar a chegada de possíveis perturbadores. "Tudo isso faz parte do diálogo", ele disse.

Também nesta terça-feira (23), um grupo de estudantes afirmando ser de um "comitê anti-greenwashing da HEC Paris [Escola de Altos Estudos Comerciais]" interrompeu o início de um "dia do clima" organizado pela universidade para o qual foram convidados representantes da Shell e da TotalEnergies.

Tradução de Paulo Migliacci

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