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Dia das Mães impulsiona venda de flores após setor murchar na pandemia

Às vésperas da data, floristas reclamam de efeitos da pandemia, como preços elevados e dificuldade de abastecimento

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São Paulo

Ainda sob efeito de um desarranjo entre oferta e demanda causado pela pandemia, os preços das flores não deram trégua para este Dia das Mães, segundo floristas e produtores. Apesar disso, a expectativa do setor é que as vendas cresçam na comparação com o ano passado.

Dona da floricultura A Bela do Dia, em Pinheiros, Marina Gurgel Prado, 36, afirma que o desempenho da loja vem em bom ritmo para a data. Somente no ecommerce, foram mais de cem pedidos de domingo até a tarde de terça-feira (9), e a projeção é que o resultado desta semana supere o mesmo período do ano passado, quando o estabelecimento bateu 550 pedidos online.

De janeiro para cá, Prado diz ter sentido um salto no valor de alguns produtos. Segundo ela, as flores tradicionais, como lírio e lisianto, foram as que mais encareceram. "Um maço de astromélia que custava R$ 8 está sendo vendido a R$ 38. E o lisianto, que eu comprava a R$ 15, sai por R$ 48."

Mesmo assim, a florista diz que já negociou os preços e fez quase todos os pedidos. "No ano passado, eu não consegui organizar. Os fornecedores não sabiam dizer o que vinha, a quantidade exata. Tive que pedir de vários para garantir que não ia faltar e, no fim, acabou sobrando."

Foto mostra um dos lados do rosto de Marina, que é uma mulher branca com cabelos ruivos. Ela está parada atrás de arranjos de flores de diversas cores.
Marina Gurgel Prado, proprietária da floricultura A Bela do Dia, em Pinheiros, prepara produção para a venda do Dia das Mães - Zanone Fraissat - 9.mai.23/Folhapress

Como mostrou a coluna Painel S.A., às vésperas da data em 2022, floriculturas observaram uma disparada no valor das flores de corte –que são vendidas fora do vaso, para buquês e decorações.

Segundo Thiago de Oliveira, chefe da seção de economia da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), a interrupção de casamentos, bailes de debutantes e navios de cruzeiros fez a demanda do setor despencar na pandemia. "Na sequência, produtores migraram para outras culturas. Alguns deles continuaram no setor, mas plantaram uma área menor do que antigamente", explica.

Agora, com a volta dos eventos, Oliveira diz que o custo de produção e o valor da mão de obra é outro, o que se reflete nos preços. Apesar da expectativa de um crescimento nas vendas das principais flores, a Ceagesp não prevê alcançar o patamar pré-pandemia em um futuro breve.

Renato Optiz, diretor do Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura), afirma que a oferta neste ano já está melhor, mas ainda não atingiu o equilíbrio perfeito. "Tem algumas flores de corte cujo ciclo chega a ser de até dois anos. Mas 80% [da produção] já está retomada."

A florista Anely Roche, 35, viu o preço de algumas flores, como a rosa, disparar nas últimas duas semanas. Ela afirma que o mercado ainda não consegue garantir competitividade e que depende de poucos produtores para abastecer o estúdio Terrane, do qual é dona.

"Os pequenos produtores estão voltando, mas eles ainda não têm quantidade suficiente para concorrência. A gente compra a maior parte das nossas flores de corte de grandes produtores, e eles acabam mandando no mercado."

A cooperativa Veiling Holambra, que reúne cerca de 450 produtores, estima que o volume de flores comercializadas neste período de Dia das Mães atinja o total de 22,2 milhões de unidades –patamar um pouco acima do observado no ano passado.

Após despencar no início da pandemia, as vendas na Veiling Holambra vêm crescendo desde 2021, puxadas principalmente pelas plantas de vaso e ornamentais.

Já as flores de corte estão apresentando recuperação em 2023, após três anos de queda, de acordo com Jorge Possato Teixeira, CEO da Veiling Holambra. A cooperativa, no entanto, não divulga os dados referentes a esse tipo de flor.

Os mercados de flores Cooperflora e Ceaflor, localizados na região de Holambra (SP), também apontam para um aumento, que varia de 6% a 10%, no volume vendido para o Dia das Mães neste ano na comparação com o ano passado.

Na opinião da florista Gabriela Nora, 47, a alta demanda dos supermercados também atrapalha o abastecimento das floriculturas. Neste Dia das Mães, ela diz que está com dificuldade para comprar as flores e já reajustou o preço numa média de 15% em sua loja, a Galeria Botânica, localizada em Pinheiros.

"Maio, além de ser mês das mães, é mês das noivas. O que eles fazem hoje é separar muitas flores para os grandes compradores, que são os supermercados", afirma.

Grandes redes, como o Pão de Açúcar e a Cobasi, não divulgam o número de flores comercializadas, mas projetam um crescimento anual entre 10% e 15% nas vendas para o Dia das Mães.

Raquel Franzini, que administra o perfil Conexão Floristas, no Instagram, com conteúdo para os profissionais do setor, afirma que os preços nos supermercados são mais competitivos, porque essas redes compram em um volume muito grande. No entanto, a qualidade nem sempre é a mesma, segundo ela.

"A gente trabalha, tem conhecimento técnico para escolher a flor, saber se ela está nova ou não para que ela dure o máximo possível na casa do cliente", diz a florista.


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