Um terço dos líderes teme que suas empresas fiquem inviáveis em uma década

Diretores executivos de negócios familiares são mais otimistas com a economia que os demais, aponta levantamento da PwC

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São Paulo

Cerca de um terço dos dirigentes de empresas familiares e não familiares no Brasil diz não acreditar que suas empresas serão economicamente viáveis em até uma década, caso não façam modificações e mantenham o rumo atual —essa proporção é menor que a média global (39%).

32% dos líderes de empresas familiares pensam assim e 33% dos empresários brasileiros, em geral. Para preservar sua empresa, o diretor executivo diz concentrar investimentos e promover inovações, como maiores aportes em automação de processos e na formação e aprimoramento dos funcionários.

Os dados são de um estudo exclusivo da PwC, que ouviu 250 pessoas no Brasil, entre líderes de negócios familiares e não familiares. No total, foram ouvidos 4.400 executivos ao redor do mundo.

Um homem caminha por quadra com portas fechadas na rua São Caetano, em SP, de lojas de vestidos de noiva, vazia na quarentena. As fachadas estão pintadas de roxo, azul e laranja e ele usa roupa preta
Rua São Caetano, em SP, de vestidos de noiva, na quarentena - Keiny Andrade - 13.abr.21/Folhapress

No cenário atual, a alta de preços —que tira a rentabilidade e a previsibilidade dos negócios—, os solavancos da economia brasileira e a guerra da Ucrânia parecem pesar na avaliação dos executivos de empresas familiares.

Entre os fatores de maior preocupação, os executivos apontam justamente a inflação (para 38% dos líderes familiares e 39% dos diretores brasileiros, em geral), a instabilidade macroeconômica (32% ante 38%) e os conflitos geopolíticos (25% ante 23%).

Para os líderes globais, esses percentuais são, respectivamente, de 40%, 31% e 25%.

Em abril, a prévia da inflação, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), desacelerou o ritmo de alta para 0,57%. Os preços dos alimentos deram uma trégua ao consumidor e sinalizam uma perda de fôlego da inflação.

O resultado, no entanto, não foi suficiente para que o Banco Central reduzisse os juros básicos, e a Selic foi mantida em 13,75% ao ano, o que também afeta nas compras de longo prazo do consumidor.

Pelo levantamento, os diretores executivos de empresas familiares se dizem mais otimistas com o futuro da economia brasileira nos próximos 12 meses do que os demais dirigentes de empresas ao redor do mundo.

Segundo a PwC, 35% dos diretores desses negócios familiares dizem acreditar em um crescimento do país nos próximos 12 meses. Entre os demais dirigentes de empresas brasileiras, 27% pensam o mesmo, sendo que as respostas incluem os de empresas familiares.

"O que percebemos é que uma das principais questões que os empresários colocam é como encarar o presente e ao mesmo tempo o futuro, a maioria compartilha da mesma expectativa, em relação ao crescimento da economia global. Os familiares de fato estão mais otimistas com o crescimento do país", aponta Helena Rocha, sócia da PwC Brasil.

Os dirigentes de negócios familiares são os que mais temem mudanças nas demandas e preferências do consumidor, com 65% se dizendo preocupados com essa questão —63% dos executivos brasileiros deram a mesma resposta e 56% do total dos entrevistados no Brasil e no exterior.

"A forma como as empresas vão se preparar para o futuro e qual é a agenda necessária para atingir esse equilíbrio é o que vai definir o futuro dos negócios familiares, que são mais sensíveis às mudanças. Os líderes vão precisar transformar essas dificuldades em oportunidades", diz Rocha.

Quando questionados sobre as previsões de investimentos para os próximos 12 meses, os executivos familiares destacam, sobretudo, os aportes em automação de processos e sistemas (87%), o aumento da formação e das habilidades dos empregados (78%) e a implantação de tecnologia em nuvem e em inteligência artificial (72%).

Por comparação, os líderes brasileiros em geral preveem aportar 84%, 74% e 76% nesses itens, respectivamente.

Por outro lado, a escassez de mão de obra ou déficit de competências é um problema apontado por 60% nas empresas familiares, por 57% dos brasileiros em geral e 52% dos entrevistados em geral.

Para Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), se por um lado pode não parecer muito bom quando um terço dos líderes acha que tem o risco de quebrar, por outro, essa fatia tem a consciência de que é necessário inovar para manter a empresa.

"Sendo um negócio familiar ou não, estando no Brasil ou fora, o ritmo de mudanças no mercado é cada vez maior. Mesmo a Apple, se parar de se modernizar, corre esse risco em dez anos. Ter essa preocupação em buscar modernização é fundamental. Caso não mudem, vão ser engolidos pela concorrência."

Ele ressalta que há cerca de cinco anos, pouco se falava de diversidade e hoje uma empresa que não fala sobre isso já está desatualizada. "Não apenas a tecnologia, mas a mentalidade também precisa ser renovada constantemente."

Ainda segundo os dados, os executivos de empresas familiares têm uma expectativa maior de impacto dos riscos climáticos na cadeia de suprimentos: 27% dos líderes temem um impacto grande ou extremo nos próximos 12 meses, ante 22% da média brasileira.

Com as mudanças causadas pela pandemia nas cadeias de suprimentos, as empresas familiares também dizem buscar mais fornecedores alternativos (65%) que as demais empresas nacionais (53%).

"O pós-pandemia trouxe para esses executivos a necessidade de reinvenção de seus negócios, equilibrando prioridades e recursos. Quando observamos, os líderes de empresas familiares têm concentrado investimento em automação de processos e sistemas, novas tecnologias", afirma a sócia da PwC Brasil.

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