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Empresas criticam manutenção de juros pelo Banco Central

CNI diz que setor produtivo não aguenta o nível de juros; construção fala em risco a empregos; sindicatos pedem mudanças no BC

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São Paulo

A manutenção da Selic em 13,75% pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central nesta quarta-feira (3) foi recebida com duras críticas por representantes empresariais.

Para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a decisão do Copom está equivocada. Em nota, o presidente da CNI, Robson Andrade, disse que o atual patamar da Selic restringe excessivamente a atividade econômica e já não é mais necessária para garantir a trajetória de desaceleração da inflação nos próximos meses.

Roberto Campos, um homem branco moreno de cabelos lisos castanhos, óculos de aros grossos, de perfil, olhando para a direita da foto, levanta o braço esquerdo com a mão estendida. Dá para ver uma aliança no dedo anelar. Ao fundo, levemente desfocado, está Haddad, homem branco moreno de cabelos castanhos curtos, olhando para o mesmo lado da foto
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em debate sobre juros no Senado Federal - Pedro Ladeira - 27.abr.2023/Folhapress

"Volto a dizer o que disse no Senado [em audiência sobre o tema com o governo e o BC] há poucos dias: as empresas estão tomando crédito a mais de 30% e o setor produtivo não aguenta pagar esse nível de juros", afirma Andrade.

José Velloso, presidente da Abimaq (setor de máquinas e equipamentos), afirma que o Copom errou ao manter a taxa elevada em mais uma reunião . "Ela não só inviabiliza os investimento como encarece o custo da dívida. Além disso, vem se refletindo na desaceleração da atividade desde o último trimestre de 2022. Neste primeiro trimestre, os investimentos em máquinas equipamentos caíram 10%. Passou da hora de iniciar o ciclo de queda", afirma Velloso.

José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), diz que é preciso "resolver com urgência as incertezas que o cenário atual tem gerado, pois é impossível crescer com uma taxa básica deste tamanho".

A Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) fala em entraves à geração de empregos no Brasil. "A despesa com juros bancários compromete a saúde financeira das empresas, que ficam impossibilitadas de crescer e com dificuldades de arcarem com suas despesas obrigatórias", diz em nota.

José Ricardo Roriz, presidente da Abiplast (indústria dos plásticos), também vê riscos. "Mesmo com a possibilidade de que a inflação brasileira ainda não tenha apresentado tendência de refluir para a meta, o país tem disparadamente um dos maiores juros reais do mundo, e as consequências disto são temerárias para a economia brasileira", diz ele.

Jorge Nascimento, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de eletrônicos e eletrodomésticos, diz que as vendas são impactadas pela taxa de juros, principalmente os produtos de grande porte, como geladeiras, máquinas de lavar e televisores maiores, que costumam ser adquiridos com financiamento.

"Taxas como as atuais desestimulam os consumidores que não conseguem incluir as parcelas de suas compras no orçamento familiar. Nosso setor vem aguardando há meses o início de uma política de redução pelo BC. A economia apresentaria resultados melhores", afirma Nascimento.

Para Humberto Barbato, presidente da Abinee (indústria elétrica e eletrônica), o patamar dos juros é ruim, mas a prudência do BC é necessária, porque faltam gestos do governo para dar conforto à redução.

"É natural que gostaríamos [de uma queda]. Mas o arcabouço fiscal não trouxe a segurança necessária para que o BC pudesse assim atuar. Até aqui não se fala em redução da máquina pública. Sem corte de despesas, só resta ao BC controlar a inflação segurando a demanda, o que é ruim para a produção e para o consumidor".

O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, diz que o problema é a inflação.

"Ainda que soframos com os elevados juros, apoiamos incondicionalmente e admiramos o movimento do Banco Central. A inflação é o mal maior e os juros são a consequência e não a causa."

Sindicatos pedem troca no comando do Banco Central

As centrais sindicais também reclamaram.

A Força Sindical chamou a decisão do Copom de "equivocada e nefasta".

A CUT (Central Única dos Trabalhadores) soltou nota de repúdio à "postura inaceitável do Copom".

"Governo e empresários do setor produtivo, as centrais sindicais e parlamentares têm feito forte e justa pressão pela redução da taxa Selic, mas o Banco Central abusa de seu forte atrelamento ao sistema especulativo e financeiro e insiste em boicotar as iniciativas governamentais para criar condições para a o consumo voltar a crescer e as empresas terem créditos mais baratos para produzirem mais, empregarem mais e fazerem a economia voltar a crescer", afirma na nota.

A UGT (União Geral de Trabalhadores) defendeu a saída de Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central. "O comércio está em uma grave situação, com inadimplência elevada, baixo consumo, juro elevado e concorrência deslealdas plataformas digitais", disse diz Ricardo Patah, presidente da entidade.

Em nota, a CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) disse que a decisão do Copom é um ataque à geração de empregos. "Pedimos a revogação da independência do Banco Central ou, pelo menos, a mudança na lei, estabelecendo a estabilidade monetária e a busca pelo pleno emprego como metas imediatas e prioritárias, o chamado duplo mandato", disse a central.

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