Pets poluem tanto quanto jatinhos, diz CEO de empresa de jatinhos

Para presidente da Luxaviation, Patrick Hansen, dados de emissões de carbono devem ser colocados em perspectiva

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Silvia Sciorilli Borrelli
Mônaco | Financial Times

Um executivo de jatos particulares rejeitou as críticas de que sua indústria era um dos principais emissores de gases do efeito estufa, alegando que os animais de estimação poluem igualmente ou mais, enquanto a demanda por transporte de luxo dispara.

Patrick Hansen, executivo-chefe da Luxaviation, sediada em Luxemburgo, disse à cúpula Negócios de Luxo do Financial Times, em Mônaco, que um dos clientes de sua empresa produz cerca de 2,1 toneladas de CO₂ por ano, ou aproximadamente a mesma quantidade que três gatos –antes de um porta-voz retificar a declaração fora do palco dizendo que ele se referia a três cachorros.

A indústria estava ciente da urgência de limitar sua pegada de carbono, mas os dados devem "ser colocados em perspectiva", disse Hansen durante um painel de debate nesta terça-feira (23). Ele acrescentou que os voos privados "não vão desaparecer, porque fornecem um serviço de [economia de] tempo" para os ricos.

Jatinho do tipo Gulfstream G550
Jatinho do tipo Gulfstream G550 - Wikimedia Commons

Hansen disse mais tarde que estava se referindo a dados publicados em um livro de Mike Berners-Lee, um acadêmico britânico, chamado "How Bad Are Bananas" [Como as bananas são ruins]. Ele afirma que um gato mantido como animal doméstico é responsável por 310 kg de emissões de carbono por ano, e um cachorro por cerca de 700 kg.

Berners-Lee disse em um e-mail que ficou "surpreso e desapontado ao ouvir os dados do meu livro usados para defender as falsas reivindicações ecológicas feitas pela Luxaviation". Ele levantou dúvidas sobre o número de 2,1 toneladas fornecido por Hansen, dizendo que parecia "suspeitamente baixo" e "deve ser para voos muito curtos e aviões muito pequenos".

"A simples realidade é que as emissões de jatos particulares de luxo são muitas vezes maiores do que as dos voos comerciais padrão. Também não é razoável afirmar que os danos climáticos podem ser desfeitos pela chamada 'compensação'", acrescentou. "Jatos particulares de luxo são uma enorme indulgência de carbono."

As empresas de jatos particulares se beneficiaram da demanda crescente desde o início da pandemia de Covid-19 em 2020, quando os ultrarricos procuraram evitar multidões e restrições. Apesar de todas as restrições de viagem terem sido suspensas, a tendência deve continuar, pois os gastadores buscam experiências de viagem mais personalizadas e luxuosas, de acordo com especialistas do setor. A demanda global por jatos particulares aumentou mais de 14% desde antes da pandemia, segundo dados do setor.

Hansen disse que o "influxo de novos clientes no mercado de jatos particulares" no ano passado compensou a perda de clientela em regiões afetadas por restrições de viagens aéreas ligadas à guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Enquanto isso, ativistas da mudança climática e formuladores de políticas pediram medidas para penalizar os voos privados, para ajudar a conter o aquecimento global. No mês passado, o Aeroporto Internacional Schiphol, em Amsterdã, tentou proibir jatos particulares de entrar e sair da capital holandesa depois que sua pista foi invadida por ativistas climáticos. Na terça-feira (23), ativistas no aeroporto de Genebra interromperam a principal feira da Europa para negócios de jatos particulares.

De acordo com um relatório da Oxfam de 2022, a pegada de carbono dos jatos particulares é pelo menos dez vezes maior que a das companhias aéreas comerciais. Isso significa que 1% da população mundial é responsável por metade das emissões totais da indústria da aviação, de acordo com a instituição sem fins lucrativos. Isso foi apoiado por um estudo da Transport & Environment, uma ONG da União Europeia, que estimou que os jatos particulares emitem de 5 a 14 vezes mais gases de efeito estufa por passageiro do que os voos comerciais.

Hansen disse que a indústria "não quer passar vergonha com nossos filhos" e está tomando medidas para compensar e limitar suas emissões.

Alguns especialistas da indústria sugeriram que os combustíveis sustentáveis, como biocombustíveis feitos de óleo vegetal e sintéticos, poderiam substituir os tradicionais baseados em carbono. O executivo-chefe da Boeing, Dave Calhoun, descartou os biocombustíveis em uma entrevista, dizendo que eles "nunca atingiriam o preço do combustível de aviação".

Hansen disse que a disponibilidade de biocombustíveis é extremamente limitada em todo o mundo, de modo que a indústria de viagens aéreas não pode depender exclusivamente de opções com baixo teor de poluentes.

"Claro, quando transportamos pessoas para a COP26 em Edimburgo, garantimos que esses jatos fossem abastecidos exclusivamente com combustíveis sustentáveis", disse ele.

Segundo Hansen, os motores de aviões a hidrogênio e elétricos serão uma alternativa mais sustentável aos motores de combustão em longo prazo. Em um futuro próximo, no entanto, a Luxaviation está aconselhando os clientes a não usar jatos particulares para viagens muito curtas.

"Às vezes é melhor não voar. Dizemos aos nossos clientes que não voem de Paris para Lyon."

Na terça-feira, em um movimento para reduzir as emissões, a França proibiu voos domésticos de curta distância para os quais já existem alternativas de trem, incluindo rotas como Paris a Nantes, Bordeaux e Lyon.

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