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Dólar cai a R$ 4,81 e Bolsa sobe após S&P elevar perspectiva do Brasil para 'positiva'

Ibovespa supera os 119 mil pontos pela primeira vez no ano, no melhor fechamento desde outubro

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São Paulo

O dólar fechou a R$ 4,814 e renovou novamente seu menor patamar do ano nesta quarta-feira (14), aprofundando as perdas após a agência de classificação de risco S&P Global ter elevado a perspectiva de nota de crédito do Brasil de "estável" para "positiva".

Além disso, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) anunciou nesta quarta uma pausa na escalada de juros dos Estados Unidos, o que também pesou contra a moeda americana ao longo do dia.

Já a Bolsa brasileira manteve-se no positivo durante todo o pregão e fechou em alta de 1,99%, superando os 119 mil pontos pela primeira vez no ano. O Ibovespa também acelerou ganhos após a notícia de elevação pela S&P.

Modelo de bomba de petróleo sobre notas de dólar
Modelo de bomba de petróleo sobre notas de dólar - Dado Ruvic - 14.abr.2020/Reuters

O dólar e a Bolsa já vinham sendo impactados pela melhora nas expectativas sobre a economia brasileira nas últimas semanas, especialmente sobre o PIB e a inflação do país, que surpreenderam positivamente o mercado.

Reforçando as perspectivas positivas, a S&P melhorou no fim da tarde desta quarta a perspectiva de longo prazo do Brasil de "estável" para "positiva", afirmando que sinais de maior certeza sobre as políticas fiscal e monetária podem beneficiar as expectativas de crescimento econômico do país.

A agência disse, ainda, que, apesar dos elevados déficits fiscais, o crescimento contínuo do PIB (Produto Interno Bruto) somado ao arcabouço fiscal proposto podem resultar em um aumento menor da dívida do governo do que o inicialmente esperado.

A última vez que a S&P Global mudou a perspectiva de longo prazo para o Brasil para positiva foi em dezembro de 2019. Desde abril de 2020 a perspectiva do país era estável.

A melhora na nota de classificação de risco do Brasil fez o Ibovespa acelerar a alta e renovar seu patamar máximo do dia na última meia hora de pregão. O índice fechou em seu nível mais alto desde outubro de 2022, a 119.068 pontos.

"O cenário para o Brasil é bem positivo, e com o Fed mantendo a taxa de juros nesse patamar, fica ainda mais favorável. Os estrangeiros seguem investindo no país, até porque também temos uma taxa de juros alta e uma Bolsa barata. O Brasil pulou na frente e tem atraído muito capital estrangeiro", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

A alta da Bolsa brasileira foi apoiada principalmente pela Petrobras, que registrou fortes ganhos de 4,02% em suas ações ordinárias e de 4,05% nas preferenciais.

A companhia foi na contramão do preço do petróleo no exterior —o barril do tipo Brent caiu 1,01%— em meio a especulações sobre uma possível venda da fatia da Novonor na petroquímica Braskem, que tem a Petrobras como uma das principais acionistas.

A Vale também impulsionou o Ibovespa e subiu 1,73% nesta quarta, fechando como a ação mais negociada do pregão em meio à alta do minério de ferro no exterior.

Além disso, altas do setor bancário, aceleradas pelo anúncio da S&P, deram fôlego ao índice. Itaú, Bradesco e Banco do Brasil subiram 0,97%, 0,29% e 0,41%, respectivamente.

O Santander, porém, fechou em forte queda de 1,95%, impactado pelo julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) que considerou constitucional a cobrança de PIS/Cofins sobre receitas com intermediação financeira. O banco disse que possui ações na Justiça no valor estimado de R$ 4,5 bilhões e vai recorrer da decisão.

Após um dia de perdas na terça, empresas menores e mais ligadas à economia doméstica da Bolsa brasileira, as chamadas "small caps", também subiram. O índice que mede o desempenho desse segmento teve alta de 2,71%, performance melhor que a do Ibovespa.

As principais altas do dia foram da Gol (11,40%) e da Azul (8,66%), favorecidas por reforços de recomendação de compra divulgados nesta quarta, e Yduqs (9,98%), que vem registrando sucessivas altas com a melhora das perspectivas econômicas do país.

Os mercados de juros futuros tiveram queda significativa e também deram fôlego para a Bolsa nesta quarta. Os contatos com vencimento em janeiro de 2024 foram de 13,06% para 13,01%, enquanto os para 2025 caíram de 11,17% para 11,07%.

No longo prazo, a queda foi ainda maior: os juros para 2026 saíram de 10,58% para 10,46%, e os para 2027 foram de 10,66% para 10,53%.

Quedas nas expectativas de juros apoiam principalmente as "small caps" e setores como consumo, construção e bancário, que seriam beneficiados por uma redução nas taxas de empréstimos no Brasil.

No exterior, o Fed realizou nesta quarta, em decisão unânime, a primeira pausa nos juros americanos desde março de 2022, algo que já era esperado pelo mercado. Em suas projeções, porém, as autoridades do banco previram uma alta adicional nos juros do país, que estão nos níveis mais altos em 16 anos, ainda em 2023.

Em comunicado, o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, órgão que toma as decisões sobre os juros nos EUA) afirmou que a pausa nos juros vai permitir que as autoridades do Fed avaliem as informações econômicas do país e os efeitos da política monetária promovida pela instituição.

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em coletiva de imprensa após a decisão que quase todos os participantes do comitê consideram provável que aumentos adicionais de juros neste ano sejam apropriados para controlar a inflação.

Isso porque, apesar de a inflação americana ter desacelerado em maio, dados recentes ainda sugerem que a economia americana está aquecida, o que representa uma ameaça à luta contra a alta de preços promovida pelo Fed.

"A decisão de julho ainda está aberta e ainda há alguns receios, como o mercado de trabalho aquecido e o núcleo da inflação resiliente. Existem informações que ainda precisam ser analisadas antes da próxima reunião para sabermos se os juros podem continuar pausados", diz Lucas Carvalho, analista-chefe da Toro Investimentos.

O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos aumentou 0,1% em maio, depois de um avanço de 0,4% em abril. No acumulado de 12 meses, o índice subiu 4,0%, atingindo o menor patamar desde março de 2021.

Os núcleos da inflação, porém, que excluem itens de alimentação e energia (mais voláteis) seguem em alta de 5,3% nos 12 meses até maio.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, destaca que o nível dos núcleos de inflação, aliado a dados de emprego nos EUA, mostram que os juros americanos ainda precisam subir num futuro próximo.

"Embora a inflação tenha desacelerado, a meta de 2% só vai ser atingida em 2025, porque a atividade econômica dos Estados Unidos está surpreendendo e mostrando-se mais resiliente que o esperado. O mercado de trabalho continua robusto, as folhas de pagamento continuam surpreendendo positivamente, e esse bom desempenho apoia o consumo americano, que é o principal motor econômico do país", diz ela.

Para Abdelmalack, a inflação americana não poderá ser reduzida sem uma desaceleração significativa de trabalho. "Por isso, o consenso é que a decisão desta quarta é uma pausa, e não um encerramento na escalada de juros nos EUA", afirma.

Na semana passada, o Departamento do Trabalho americano mostrou que o número de cidadãos do país que entrou com novos pedidos de auxílio-desemprego aumentou, sugerindo que o mercado de trabalho está desacelerando.

Apesar do aumento nos pedidos, eles permanecem em níveis consistentes com um mercado de trabalho apertado. O governo informou na semana passada que a economia criou 339 mil empregos em maio. Embora a taxa de desemprego tenha aumentado para 3,7%, a maior alta em sete meses, de 3,4% em abril, ela permanece baixa pelos padrões históricos.

Além disso, o Fed elevou sua projeção para o PIB americano deste ano de 0,4% para 1,0%, o que sugere que a autoridade monetária ainda vê um aquecimento da economia dos EUA.

No curto prazo, porém, a pausa nos juros promovida nesta quarta tem o poder de depreciar ainda mais o dólar, que vem renovando seus patamares mínimos nas últimas semanas.

Isso porque um cenário de juros altos tende a apreciar a moeda americana, já que aumenta o retorno da renda fixa dos EUA e, consequentemente, atrai recursos de investidores estrangeiros para o país. Na lógica inversa, um diferencial de juros menor tende a depreciar o dólar.

Nesta quarta, inclusive, o dólar fechou em desvalorização ante outras moedas fortes. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante essas divisas, teve queda de 0,32%.

Os índices de ações dos Estados Unidos, por sua vez, tiveram direções mistas, digerindo o aviso de novos aumentos de juros à frente. O Dow Jones teve queda de 0,68%, enquanto o Nasdaq, índice de tecnologia, subiu 0,39%. Já o S&P 500 fechou em estabilidade.

Com Reuters

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