O Goldman Sachs foi atingido por um aumento da inadimplência em empréstimos imobiliários comerciais no primeiro trimestre, alimentada em parte pela recusa de Elon Musk a pagar o aluguel do Twitter.
O valor dos empréstimos para mutuários imobiliários comerciais (CRE na sigla em inglês) com pagamentos em atraso subiu 612% no primeiro trimestre, para US$ 840 milhões (R$ 4,08 bilhões), segundo relatórios recebidos pela entidade bancária licenciada do Goldman junto à Fdic (Comissão Federal de Seguro de Depósitos dos EUA).
Isso foi muito mais que o aumento dos empréstimos CRE inadimplentes relatados por todo o setor bancário dos EUA, que foi de 30% no mesmo período, chegando a pouco mais de US$ 12 bilhões (R$ 58,35 milhões), segundo o Bankregdata.com, que compila os relatórios do FDIC.
O salto na inadimplência no negócio de captação de depósitos do Goldman ocorre num momento em que os bancos rivais estão alertando sobre perdas crescentes em empréstimos imobiliários comerciais, a maioria dos quais vinculados a prédios de escritórios e feitos antes da pandemia, quando começou a cultura do trabalho remoto.
O Goldman tem muito menor exposição a empréstimos imobiliários comerciais do que seus rivais maiores. No final do primeiro trimestre, tinha US$ 8,4 bilhões em empréstimos pendentes garantidos por imóveis comerciais, de acordo com o relatório do FDIC. O Wells Fargo tinha US$ 91 bilhões e o Bank of America, US$ 60 bilhões.
No entanto, o aumento da inadimplência é outro sinal das frustrações que o banco enfrenta ao tentar diversificar seus negócios, afastando-se de seu foco tradicional em transações e trading.
O Goldman estava entre um grupo de bancos, incluindo o Citigroup e o Deutsche Bank, que emprestou US$ 1,7 bilhão ao fundo de investimento imobiliário Columbia Property, contra sete prédios de escritórios em São Francisco e Nova York, incluindo dois que abrigam grandes escritórios do Twitter.
O Twitter parou de pagar o aluguel em novembro e Elon Musk, o bilionário proprietário da rede social, disse aos funcionários que não pretende reiniciar os pagamentos ou cobrir dívidas vencidas, segundo ações judiciais. A Columbia Property, que está processando o Twitter pelos calotes, deixou de pagar o empréstimo em fevereiro. A Columbia Property se recusou a comentar. O Twitter, que adotou a política de não responder à imprensa, não foi encontrado para comentar.
Dada a exposição relativamente pequena do Goldman ao setor, os empréstimos ruins não terão um impacto material em seus ganhos. "Os empréstimos não importam tanto para o Goldman", disse Christopher Kotowski, analista bancário da Oppenheimer. Os empréstimos imobiliários comerciais representam menos de 20% da carteira de empréstimos do banco, de acordo com os próprios cálculos do Goldman.
Ainda assim, mais de 10% de seus empréstimos CRE mantidos em sua subsidiária bancária, que responde por 90% dos empréstimos totais, estão em algum tipo de inadimplência, de acordo com Bankingregdata.com, enquanto a inadimplência média em seus pares é inferior a 1%.
Nos registros da SEC e nas discussões com investidores, o Goldman define seus empréstimos CRE de forma mais ampla e inclui créditos a empresas de investimento que compram e vendem dívidas imobiliárias, bem como créditos usados para agrupar empréstimos CRE em títulos de investimento.
Nesse critério, a inadimplência é menor, mas ainda maior que a de seus pares. "Se você olhar para a totalidade de nossas atividades de empréstimos imobiliários comerciais, nossa taxa de inadimplência está abaixo de 2%", disse o Goldman.
A FDIC, no entanto, coloca esses empréstimos, que tendem a ter taxas de inadimplência muito mais baixas, em uma categoria diferente.
O Goldman, que se tornou um banco regulamentado após a crise financeira, passou a última década investindo mais recursos em empréstimos. A empresa agora tem quase US$ 180 bilhões em empréstimos bancários pendentes, acima dos US$ 3 bilhões de uma década atrás.
Em 2020, o Goldman disse que os empréstimos corporativos eram uma das prioridades da empresa. "Estamos adotando o modelo de banco", disse o então diretor financeiro, Stephen Scherr, durante uma apresentação a investidores. "Acreditamos que esta será uma importante fonte de crescimento futuro para a empresa."
O banco se beneficiou de taxas de juros mais altas, com os lucros de sua entidade de empréstimo subindo para US$ 3,7 bilhões no primeiro trimestre –uma alta histórica e um salto de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
No entanto, a carteira de empréstimos maior também é uma fonte de perdas potenciais, dada a disposição do Goldman de emprestar a tomadores corporativos de maior risco em comparação com seus rivais. Pouco mais de 65% de seus empréstimos comerciais são para tomadores de empréstimos "lixo", sem uma nota de crédito de grau de investimento, em comparação com 28% e 17% para o JPMorgan Chase e o Citi, respectivamente.
O volume total de empréstimos inadimplentes do Goldman, conforme dados do FDIC, saltou para US$ 3,2 bilhões no final do primeiro trimestre, ou cerca de 2% de seus empréstimos pendentes, acima dos US$ 2,4 bilhões do ano anterior.
A maioria deles está vinculada a cartões de crédito e outros empréstimos ao consumidor, que representam cerca de 65% de suas provisões para perdas com empréstimos, de acordo com o Bankregdata.com.
No início deste ano, o Goldman sinalizou a intenção de retirar os empréstimos aos consumidores vendendo US$ 1 bilhão em empréstimos vinculados ao seu banco de consumo Marcus.
David Fanger, que segue o Goldman para a empresa de classificação de títulos Moody's Investors Service, disse: "Embora seu apetite por risco possa ser maior que o de outras empresas, eles geralmente são mais proativos na gestão de riscos".
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