Descrição de chapéu carro elétrico

Chinesa BYD vai produzir carro compacto 100% elétrico no Brasil

Versão importada do modelo Dolphin vai custar a partir de R$ 149,8 mil

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São Paulo e Salvador

A BYD confirmou nesta quarta-feira (28) que vai fabricar carros no Brasil. Em encontro no Palácio do Planalto, a vice-presidente executiva da companhia, Stella Li, reafirmou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a intenção da empresa em se instalar em Camaçari (BA), no lugar do antigo complexo industrial da Ford.

O anúncio oficial será feito na próxima terça-feira (4). Lula foi convidado para o evento, mas, apesar de estar na Bahia para compromissos em Salvador e em Ilhéus nos dias que antecedem, alegou problemas de agenda para não comparecer. O presidente, contudo, teria afirmado que vai visitar a linha de montagem, quando estiver em operação.

BYD apresenta compacto elétrico Dolphin no Clube Monte Líbano, em São Paulo. Carro deve ser produzido na Bahia - Eduardo Sodré/Folhapress

A possibilidade de a empresa chinesa se instalar na Bahia já vinha sendo especulada desde o início de 2021, quando a montadora americana encerrou as atividades no estado.

Em outubro, a dois dias do segundo turno das eleições, Rui Costa, que então era o governador da Bahia, confirmou a assinatura de um protocolo de intenções. Hoje Costa é ministro da Casa Civil.

"Assinei, junto a BYD Auto, maior fabricante de veículos elétricos do mundo, protocolo de intenções para a instalação de três fábricas aqui na Bahia", diz o texto publicado por Costa na época. "A negociação vai gerar mais de 1.200 empregos diretos, além de impulsionar o desenvolvimento industrial e comercial no estado."

À Folha, Stella Li, que além de vice-presidente executiva da BYD é presidente da montadora para as Américas, destacou as características do carro que deverá ser o primeiro automóvel nacional da marca chinesa: o compacto elétrico Dolphin.

Dolphin é o segundo carro elétrico mais barato do Brasil

O modelo chega ao mercado nacional importado da China e custa a partir de R$ 149,8 mil —o que o coloca entre os mais em conta do segmento no país.

Com carroceria hatchback, o Dolphin se destaca pelo bom espaço interno. Stella destacou tecnologias como o acionamento remoto das janelas e a lista de itens de série, que inclui ar-condicionado otimizado para reduzir o consumo de energia.

Os carros em exposição no evento da BYD têm acabamento em tons claros e painel central giratório. Basta um toque no comando da tela ou no botão do volante para passar da posição horizontal para a vertical do painel.

O acionamento do sistema de ar-condicionado e do som é feito por meio dessa tela. Logo abaixo estão o acionador do câmbio e as teclas que mudam o modo de condução (mais esportivo ou mais econômico) e modificam a atuação dos controles de estabilidade.

O banco traseiro acomoda bem dois ocupantes, mas um terceiro passageiro vai ficar apertado. O assoalho elevado por causa das baterias causa um pouco de desconforto, mas há espaço de sobra para as pernas.

Na frente, o motorista terá um pequeno visor digital que exibe as informações de velocidade, de carga da bateria e de dados do computador de bordo. O volante tem regulagem de altura, mas não de profundidade.
A autonomia pode chegar perto de 400 quilômetros, mas as novas regras estabelecidas pelo Inmetro exigem uma redução de aproximadamente 30% nesse cálculo. Dessa forma, a marca chinesa afirma que o carro é capaz de rodar 291 km com uma carga completa de suas baterias.

A lista de itens de série inclui seis airbags, conectividade com smartphones por meio de Apple Carplay e Android Auto, rodas de liga leve aro 16 e central multimídia com modo karaokê e jogos embutidos.

Trata-se do segundo carro elétrico mais barato do Brasil, ficando atrás apenas do JAC E-JS1 (R$ 145,9 mil).

Mas o principal concorrente do Dolphin será o Renault Kwid E-Tech, que tem preço sugerido de R$ 149.990. O problema da marca francesa é o tamanho do seu carro. O modelo da BYD é maior e tem bom aproveitamento de espaço: com 4,1 metros de cumprimento, tem o mesmo porte do Chevrolet Onix.
Já o Kwid elétrico, que também é importado da China, é diminuto. São apenas 3,73 m de uma ponta a outra, com 2,42 m de distância entre os eixos —cerca de 30 cm a menos que o novo concorrente da BYD.
O modelo da Renault que se iguala em porte ao Dolphin é o Zoe, mas seu preço é bem maior: R$ 239.990.

Após o encontro nesta quarta, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), afirmou que o governo federal "acolheu" e prometeu analisar algumas demandas da montadora chinesa. Disse, por exemplo, que o governo está estudando uma solução para a questão do chamado 'Porto da Ford', na cidade de Candeias, que está praticamente abandonado.

"Nós da Bahia reafirmamos essa parceria com a BYD. A demanda e algumas condições colocadas pela BYD de incentivos fiscais no estado da Bahia estão sendo atendidas, inclusive na infraestrutura, no caso do porto que é o da Ford", afirmou o governador.

"Já reunimos com o ministro dos Portos e Aeroportos [Márcio França] e ali já dialogamos a possibilidade de a BYD poder ser o gestor ou apresentar uma empresa parceira para que o porto não fique apenas com automóveis, mas com outros produtos, inclusive equipamentos para a indústria eólica; investimentos de estrada na via entre o porto até a indústria, o estado fará os investimentos de infraestrutura", completou.

Jerônimo Rodrigues ainda afirmou que Lula se comprometeu a analisar algumas demandas tributárias da BYD, que seriam repassadas para a equipe econômica. As demandas são em torno do PIS/Cofins e o IPI (Imposto sobre Impostos Industrializados). A empresa teria colocado à mesa benefícios para a produção e também para o consumo.

"Quanto ao consumo, o presidente inclusive se colocou à disposição de estimular a compra de automóveis, por exemplo, de ônibus, para a renovação da frota de ônibus, escolares, por exemplo; de viaturas, de ambulância, de equipamentos para a agricultura, para energia solar, energia eólica", afirmou o governador.

Jerônimo Rodrigues ainda acrescentou que o presidente se comprometeu a estudar a possibilidade de uma linha de financiamento, por exemplo, através do BNDES, para que "o governo possa estimular tanto a produção quanto o consumo", completou

O pacote de benefícios fiscais oferecido pelo governo da Bahia à montadora chinesa é semelhante ao que era concedido à Ford. Mas há uma negociação em curso para conceder desconto no IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) ao consumidor que comprar veículos elétricos.

Segundo a presidente da BYD nas Américas, a produção de carros de passeio elétricos no Brasil terá início em dois anos.

A montadora chinesa já tem duas linhas de produção no Brasil: a empresa monta ônibus elétricos em Campinas (interior de São Paulo) e baterias em Manaus. Com isso, parte da infraestrutura de fornecimento de componentes já está instalada.

A BYD pretende aproveitar o parque de fornecedores estabelecido na região de Camaçari para acelerar a nacionalização dos futuros lançamentos.

O encerramento das atividades produtivas da Ford no Brasil em 2021 deixou rastro de desemprego, queda na produção industrial e baque em efeito cascata na economia de Camaçari.

A cidade abrigou a primeira indústria de automóveis do Nordeste após uma longa batalha política e fiscal na década de 1990 e virou um polo de desenvolvimento nos anos seguintes.

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