Descrição de chapéu Banco Central Selic juros

Economistas esperam tom mais brando do BC nesta quarta

Selic ficaria mantida em 13,75% ao ano, segundo consenso do mercado, e começaria a cair em agosto

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Brasília

Embora o consenso do mercado financeiro aponte a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (21), há expectativa de que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central adote um tom mais brando em sua comunicação, abrindo a porta para cortes a partir de agosto.

A melhora do cenário econômico doméstico desde a reunião anterior do colegiado do BC, em maio, levou os economistas a projetarem o início do ciclo de queda da Selic mais cedo e também colocou no radar a discussão sobre a magnitude dos cortes até o fim do ano.

Entre os fatores que tornaram o ambiente mais favorável para o afrouxamento da política monetária à frente, os analistas destacam a desaceleração da inflação corrente, o viés de queda nas expectativas de inflação, a apreciação do câmbio influenciada pela revisão da perspectiva do Brasil para "positiva" pela agência de classificação de risco S&P Global Ratings, além da redução da incerteza fiscal no país.

Centrais sindicais realizam, nesta terça-feira (20), ato de protesto na avenida Paulista, em São Paulo, contra alto patamar da taxa básica de juros e criticam o presidente do BC, Roberto Campos Neto - Danilo Verpa/Folhapress

O índice oficial de inflação do Brasil desacelerou para 0,23% em maio, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No acumulado em 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 3,94% –a menor variação para o mês desde 2020, quando as atividades econômicas foram paralisadas pela pandemia de Covid-19.

Heron do Carmo, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, da Universidade de São Paulo), estima uma melhora no cenário inflacionário até o fim do ano, apesar da volta dos impostos federais sobre combustíveis, que tiveram suas alíquotas zeradas em julho do ano passado.

De acordo com os cálculos do especialista, nos últimos dez anos, a inflação no acumulado do trimestre entre julho e setembro ficou em torno de 0,7%. Ao desconsiderar a deflação resultante da queda artificial dos preços administrados em 2022, ele projeta um aumento de dois pontos percentuais no mesmo intervalo deste ano.

O indicador continuaria recuando nos últimos meses do ano, fechando 2023 na faixa dos 5%. Para Carmo, a evolução dos preços dos alimentos colabora para um viés de baixa para a inflação. "Temos neste ano a perspectiva de uma safra melhor, o preço dos alimentos no mundo vem caindo e não se esperam choques de preço de petróleo até pela política atual da Petrobras", afirma.

O economista considera que o BC deve "provavelmente" reduzir a Selic em agosto e aposta em um corte de 0,5 ponto no primeiro movimento. "Os resultados da inflação em junho e em julho são muito importantes para o cenário, isso pode fazer com que o BC eventualmente até baixe um pouco mais os juros do que o mercado está pensando", diz.

Bráulio Borges, pesquisador-associado do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e economista-sênior da área de Macroeconomia da LCA Consultores, ressalta que o mercado financeiro está traduzindo a descompressão dos preços de commodities e o alívio dos gargalos globais de suprimentos, além do câmbio valorizado, em revisões para baixo nas previsões de inflação deste ano e do próximo.

Segundo o boletim Focus, pesquisa semanal do BC com analistas divulgada na segunda-feira (19), a projeção para o IPCA deste ano foi revisada de 5,42% para 5,12%. Para o ano que vem, a expectativa caiu para 4%. Para 2025 e 2026, as estimativas dos economistas estão em 3,8%.

Para o especialista, contudo, o colegiado do BC está em uma "sinuca de bico" na reunião desta semana por causa da indefinição quanto às metas de inflação.

A deliberação sobre o tema fica a cargo do CMN (Conselho Monetário Nacional), colegiado formado pelos ministros da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento e Orçamento (Simone Tebet), além do presidente do BC (Roberto Campos Neto).

Há grande expectativa para o próximo encontro, no dia 29, visto que o governo Lula já sinalizou o desejo de mudar o alvo da autoridade monetária nos próximos anos.

Atualmente, os objetivos perseguidos pelo BC são 3,25% neste ano e 3% em 2024 e 2025, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Haddad defendeu recentemente um ajuste no horizonte da meta a ser perseguida. Hoje, o BC mira o índice de inflação do ano-calendário, mas o titular da Fazenda se mostrou favorável a uma meta com prazo móvel, desvinculada do ano fechado.

"O cenário inflacionário é melhor, certamente afasta a possibilidade de aumento de juros, mas, para falar em redução de juros, a gente tem que resolver a questão da meta de inflação. Hoje, é um fator que certamente restringe a queda da Selic, uma vez que a inflação projetada para o ano que vem ainda está acima da meta", afirma Borges.

Para ele, "virar essa página" ajudará o BC a mudar sua retórica e começar a cortar a taxa básica em agosto. "Em política monetária, tão importante quanto a decisão em si da Selic, é a comunicação", ressalta.

O economista considera que, se a taxa de câmbio se consolidar em um patamar mais baixo, pode haver uma queda mais acentuada dos juros. O dólar fechou o dia cotado a R$ 4,776 na segunda-feira (19), atingindo seu menor patamar desde maio de 2022, com a reunião do Copom no radar dos investidores.

"Existe espaço para [a Selic] chegar a um dígito alto, ou seja, pouco abaixo 10%, até meados do ano que vem. Principalmente depois da definição da meta de inflação, da aprovação definitiva do arcabouço fiscal, da consolidação desse choque desinflacionário de commodities e, mais recentemente, do câmbio", diz.

Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), fala em "timing positivo" para a redução da taxa de juros, com balanço de riscos para inflação mais favorável, e ressalta que a curva de juros longa cedeu significativamente, dando amparo às expectativas de mercado para o relaxamento da política monetária.

Ele considera também que a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de fazer uma pausa no ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos, após dez aumentos consecutivos, encoraja a atuação da autoridade monetária brasileira.

"Tem um ambiente totalmente favorável para o Banco Central fazer um comunicado neste momento mais flexível para, na próxima reunião, de agosto, fazer o corte de juros de 0,25 ponto percentual", afirma.

Para Rocha, o BC já tinha espaço para iniciar os cortes da Selic desde o encontro de março. "Entendo o argumento dos juros como um remédio amargo, mas a diferença do veneno e do remédio é exatamente a dose", diz.

Ariane Benedito, economista da Esh Capital, se junta ao consenso do mercado quanto à expectativa de cortes a partir de agosto, mas destoa quanto à magnitude dessa primeira redução, projetando uma queda mais acentuada —de 0,5 ponto percentual.

"Olhando para o histórico brasileiro, o BC sempre faz um ajuste mais expressivo do que o resto do mundo, e 0,25 [ponto percentual] não faz muita diferença na economia real", pondera. Apesar da estimativa, admite possibilidade de ajustes a depender da comunicação adotada pelo Copom nesta quarta.

O que favorece esse ambiente mais favorável para redução da Selic no encontro seguinte, na visão dela, é a desaceleração da inflação, que cria um carrego estatístico positivo à frente e impacta positivamente as expectativas dos agentes econômicos para horizontes mais longos, e o arrefecimento da atividade econômica. "As pressões fiscais passam a não gerar mais instabilidade, está previsível", acrescenta.

Uma parcela dos economistas, entretanto, considera que a autoridade monetária ainda será um pouco mais conservadora em sua atuação. Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, faz parte desse grupo.

"O Banco Central vai querer observar esse processo de desinflação, a consolidação do processo de queda das expectativas de inflação, que só começou a acontecer há bem pouco tempo, especialmente nos horizontes maiores, de 2025 e 2026", afirma.

Segundo ele, o comitê deve indicar que seguirá vigilante e reiterar o tom de paciência e cautela, mas prevê alguns ajustes na comunicação do colegiado do BC. Como exemplo, cita a possibilidade de o Copom mencionar que avaliará se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período "adequado", em vez de "prolongado", será capaz de assegurar a convergência da inflação.

Para Gonçalves, o conforto do Copom para iniciar os cortes de juros deve ainda demorar um pouco mais de tempo, e o primeiro movimento pode ocorrer apenas em setembro, com uma redução de 0,25 ponto percentual como parte de um ajuste gradual na política monetária.

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