A empresa francesa Casino anunciou nesta segunda-feira (26) que pretende vender suas filiais sul-americanas, o brasileiro Grupo Pão de Açúcar (GPA) e o colombiano Éxito, em um esforço para reduzir sua dívida e garantir a sustentabilidade econômica.
O Casino também disse que pretende concluir um acordo de reestruturação da dívida com seus credores até o final do próximo mês, informando-lhes que precisa de um aporte de capital de "pelo menos 900 milhões de euros [quase R$ 5 bilhões]".
Em um primeiro momento, o GPA disse, em fato relevante enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que não havia recebido nenhuma informação sobre a potencial venda de suas ações pelo controlador e que havia questionado o Casino sobre o anúncio.
Mais tarde, em novo comunicado, o grupo brasileiro disse que foi informado pelo acionista francês sobre o plano de venda de ativos, mas que, nesta data, "não há cronograma, metas definidas ou processo de venda em aberto para o GPA", sendo o único projeto ativo neste momento envolvendo estas duas empresas a segregação dos negócios de GPA e Éxito, acrescentou a empresa.
O Casino detém 40,9% do capital social do GPA, o segundo maior varejista alimentar do Brasil (só atrás do Carrefour). O grupo francês travou uma batalha com o empresário brasileiro Abilio Diniz pela aquisição da companhia.
Assim, a saída do Casino do negócio pode abrir espaço para a volta de Diniz ao comando do Pão de Açúcar, empresa fundada pela sua família em 1948. Hoje, a Península Participações, holding de investimentos da família Diniz, é uma das acionistas do Carrefour Brasil e Carrefour global.
Na B3, as ações do GPA recuaram 5,15% nesta segunda. Já as ações do Casino, negociadas na Bolsa de Paris, caíram 4,85%.
O grupo Casino, que anunciou na semana passada a venda de sua participação de 11,7% na rede atacadista brasileira Assaí por 403 milhões de euros (R$ 2,11 bilhões), não divulgou uma data precisa para as vendas do GPA e do Éxito.
Na França, o Casino e os detentores de sua dívida de 6,4 bilhões de euros (R$ 33,3 bilhões) iniciaram negociações formais no início deste mês, enquanto o grupo recorre por meio de desinvestimentos e um acordo para atrasar impostos e encargos sociais com o governo.
As atividades na América Latina representaram um faturamento de 17,8 bilhões de euros (R$ 92,7 bilhões) em 2022, pouco mais de metade do total do grupo no ano: 33,6 bilhões de euros (R$ 174,9 bilhões).
No final de 2022, o grupo tinha quase mil lojas no Brasil e mais de 2.100 na Colômbia, além de 33 na Argentina e 96 no Uruguai. Quase 75% dos 200 mil funcionários do Casino trabalham na América do Sul.
O grupo luta há vários anos para superar as dificuldades e espera agora reduzir as dívidas pela metade como parte de um processo de conciliação, que pode prosseguir até 25 de outubro. No ano passado, a Rallye, controladora do Casino, recebeu aprovação da Justiça para o seu plano de salvaguarda, uma espécie de recuperação judicial.
A empresa de consultoria Accuracy "não prevê nenhum problema de liquidez" até o final de outubro, quando termina o período de conciliação legal com os credores, disse o Casino, acrescentando que a venda recentemente anunciada de uma participação acionária no Assaí provavelmente aumentará os recursos líquidos após custos e impostos de 326 milhões de euros.
O grupo acrescentou que, assumindo a manutenção da pausa dos encargos financeiros e amortizações de dívidas após o período de conciliação e tendo em conta a venda de alguns supermercados à empresa Les Mousquetaires, não haverá problemas de liquidez até ao final do exercício de 2023.
A empresa espera converter em capital "pelo menos todas as dívidas não garantidas", ou seja, mais de 3 bilhões de euros (R$ 15,2 bilhões). Isto significa que os credores que emprestaram a quantia serão acionistas do grupo (em vez de recuperar os valores).
Atualmente, o Casino enfrenta duas propostas rivais de 1,1 bilhão de euros para aumentar sua base de ações, uma de seu principal acionista, Jean-Charles Naouri, em parceria com o magnata francês Xavier Niel, e outra dos bilionários Daniel Kretinsky e Marc Ladreit de Lacharrière.
O tcheco Kretinsky, que controla 10% das ações do Casino, propôs a vários credores a troca de até 40% da dívida por liquidez ou ações, ou ambas. O francês Lacharrière defende uma das ofertas para assumir o comando do grupo.
Kretinsky ofereceu um aporte de 750 milhões de euros (R$ 3,9 bilhões) para um aumento de capital de mais de 1 bilhão de euros (R$ 9 bilhões).
A outra oferta, apresentada pelo trio de empresários franceses Niel, Matthieu Pigasse e Moez-Alexandre Zouari, também prevê oferecer aos credores a oportunidade de "reinvestir em capital".
Além da venda da participação na rede Assaí, o grupo anunciou outras medidas para preservar sua liquidez.
O grupo obteve um acordo do Estado francês para adiar o pagamento de impostos e encargos sociais, em uma quantia correspondente a 300 milhões de euros (R$ 1,57 bilhão). Os credores receberam o pedido de suspensão de pagamento de juros e vencimentos da dívida até outubro.
RAIO-X
Casino
Fundação: 1898
Vendas líquidas no 1º trimestre de 2023: 4,5 bilhões de euros
Unidades: 11.500 lojas em todos mundo
Funcionários: cerca de 200.000
Principais concorrentes: Carrefour
GPA
Fundação: 1948
Prejuízo líquido no 1º trimestre de 2023: R$ 269 milhões
Unidades: mais de 700 lojas
Funcionários: mais de 39 mil
Principais concorrentes: Carrefour, Assaí, Grupo Mateus
Colaborou Stéfanie Rigamonti
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