Descrição de chapéu carro elétrico

O bilionário cujo império de eletrodos permite o sucesso de carros elétricos na China

Bai Houshan e sua empresa Ronbay têm planos de expansão ambiciosos para o principal componente das baterias

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Edward White
Chungju (China)

Um bilionário chinês de origens humildes, fascinado por metalurgia, está apresentando um desafio crucial para um setor automobilístico tradicional que já enfrenta dificuldades para concorrer com a China no desenvolvimento de veículos e baterias elétricos.

Bai Houshan, 59, fundador e presidente da Ronbay Technology, com ações negociadas em Xangai, domina uma parte importante do mercado global de eletrodos de cátodos, que são os principais componentes das baterias de veículos elétricos e representam entre 30% e 50% dos custos de componentes.

Com a evolução constante da química e dos componentes das baterias, na busca por menores custos de material e maior densidade de energia, a Ronbay vem liderando na mudança de cátodos com menor teor de níquel para materiais catódicos com alto teor de níquel e melhor desempenho.

Analistas da administradora de investimentos Bernstein dizem que existe um "claro movimento" do setor rumo a isso. Quase três quartos dos novos veículos elétricos apresentados no Salão do Automóvel de Xangai de 2021 ofereciam a tecnologia, de acordo com a Ronbay, que detém cerca de um terço do mercado mundial de cátodos com alto teor de níquel.

SUV elétrico no Salão do Automóvel de Xangai 2023 - Aly Song/Reuters

O domínio da empresa é um exemplo dos desafios que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seus colegas na Europa enfrentam ao oferecerem centenas de bilhões de dólares em subsídios financiados pelos contribuintes, para tirar o atraso com relação a China na tecnologia limpa.

Cory Combs, diretor associado da consultoria Trivium China, sediada em Pequim, disse que a tecnologia de processamento de materiais para baterias era "a principal necessidade" dos Estados Unidos e da Europa já que eles precisam recuperar o atraso com relação à China. No entanto, obter isso e atingir a economia de escala de que os grupos de materiais chineses se orgulham não é garantido.

"A China não inventou um setor de baterias da noite para o dia. Há toda uma cadeia industrial e uma cadeia de valor que levou décadas para ser construída", disse ele.

O grupo de pesquisa IDTechEx, do Reino Unido, prevê que a demanda por materiais para baterias de veículos elétricos crescerá mais de 12 vezes na próxima década e será avaliada em mais de US$ 230 bilhões até 2033. Bai pretende atender a essa demanda com planos de expansão para seu império que abrangem os Estados Unidos e a Europa.

A Ronbay está atualmente procurando locais na Europa e na América do Norte com o objetivo de instalar fábricas para atender a esses mercados, disse a empresa ao Financial Times.

Enquanto isso, na província sul-coreana de North Chungcheong, sem acesso ao mar, um modelo da visão de Bai pode ser visto tomando forma.

Em um parque industrial na encosta de uma colina nos arredores da cidade de Chungju, a Ronbay está ativando uma fábrica que representa uma pilastra fundamental nos planos de Bai para aumentar em seis vezes a capacidade de cátodo de alto níquel da empresa até 2025, em comparação com os níveis de 2021.

Sua maior concorrência imediata é local, vinda de rivais sul-coreanos, como a EcoPro BM, com ações negociadas em Seul, e o extenso "chaebol" LG, o maior produtor coreano de baterias e de materiais para baterias. A LG disse este mês que pretendia multiplicar por seis suas vendas de materiais para baterias, atingindo US$ 25,5 bilhões até 2030. O ponto central de sua estratégia é buscar o mesmo mercado de cátodo com alto teor de níquel.

O rápido crescimento da cadeia de suprimentos de veículos elétricos na China já levou Bai, cujo patrimônio líquido atinge US$ 1,45 bilhão, a ser classificado entre as 500 pessoas mais ricas em um país de 1,4 bilhão de habitantes.

Em seus primeiros anos, ele estudou nas principais universidades chinesas, incluindo a Tsinghua - a alma mater do presidente Xi Jinping - antes de assumir uma série de cargos técnicos e de liderança em processadoras de materiais estatais durante as décadas de 1980 e 1990.

Bai fundou a Ronbay há 10 anos e está ao lado de Wang Chuanfu, fundador da maior fabricante de veículos elétricos da China, a BYD, e Robin Zeng, fundador da maior produtora de baterias para veículos elétricos do mundo, a CATL, como parte de uma nova geração de magnatas industriais bilionários que ajudam Xi a atingir suas metas de independência tecnológica e energética para a China.

De acordo com a Bernstein, a empresa de Bai não só tem os planos de expansão de capacidade mais ambiciosos do setor de cátodos, mas também os menores custos de capital.

Em documentos apresentados às autoridades regulatórias em março, a empresa, com capitalização de mercado de US$ 4,4 bilhões, apontava para uma "explosão" de veículos elétricos.

"A taxa de penetração de veículos de energia nova nos mercados europeu e norte-americano é significativamente menor do que na China. Como a empresa está avançando rapidamente em sua estratégia de internacionalização, seus produtos são aplicados principalmente em mercados estrangeiros, abrangendo um enorme espaço para desenvolvimento futuro", disse.

Essa expansão para os Estados Unidos e a Europa representaria uma mudança significativa para o grupo. Com bases de produção nas províncias chinesas de Hubei, Guizhou e Zhejiang, e agora também na Coréia do Sul, os maiores clientes da Ronbay têm sido os grandes fabricantes de baterias da China, entre os quais CATL, SVOLT, Farasis e Eve. Ela também tem um contrato de fornecimento com a SK, a segunda maior fabricante de baterias da Coréia.

As aspirações de Bai no exterior podem ser complicadas pela Lei de Redução da Inflação (IRA) do governo Biden, sob a qual o governo dos Estados Unidos está distribuindo US$ 370 bilhões em subsídios para impulsionar a fabricação doméstica de tecnologia limpa e reduzir a dependência econômica dos Estados Unidos em relação à China. Medidas semelhantes estão sendo consideradas em Bruxelas.

A IRA significa uma tarifa de 25% sobre as exportações chinesas de tecnologia limpa para os Estados Unidos, mas a Ronbay está contando com uma isenção para sua base de produção no exterior. Em sua declaração de março, ela disse acreditar que as remessas de sua fábrica sul-coreana "não se enquadram nas proibições estipuladas na Lei".

Apesar dessas garantias, os investidores estão cautelosos quanto à possibilidade de a empresa estabelecer operações nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa, devido ao crescente sentimento de antagonismo quanto à China. No entanto, o cenário de demanda crescente na transição global para os veículos elétricos significa que muitos países ainda dependerão da Ronbay para o fornecimento de cátodo.

"Enquanto o mercado ainda estiver aquecido, é provavelmente uma boa jogada para eles se expandirem o máximo que puderem, chegarem ao nível em que são mais competitivos do que os outros, e dessa forma as pessoas terão de ir a eles", disse Chan Lee, sócio-diretor da Petra Capital Management, um fundo de hedge com sede em Seul que tem investimentos na cadeia de suprimentos de veículos elétricos na Ásia.

Reportagem adicional de Kang Buseong, em Seul, e Gloria Li, em Hong Kong. Tradução de Paulo Migliacci

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