Descrição de chapéu Financial Times PIB juros

Países devem cortar gasto ou aumentar impostos para conter inflação, diz BC dos BCs

Política fiscal frouxa e aumento dos juros testarão a estabilidade financeira, alerta o Banco de Compensações Internacionais

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Chris Giles
Londres | Financial Times

Governos de todo o mundo devem aumentar impostos ou cortar gastos para ajudar os bancos centrais a controlar a inflação e reduzir o risco de uma crise financeira, afirmou o Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês).

O banco central dos bancos centrais, que muitas vezes funciona como um porta-voz informal das instituições, disse que os governos estão "testando os limites do que pode ser chamado de região de estabilidade" ao deixar a política fiscal frouxa enquanto a inflação permanece alta e as taxas de juros sobem rapidamente.

"A consolidação [fiscal] forneceria apoio crítico na luta contra a inflação", disse o BIS em seu relatório anual, publicado neste domingo (25).

Sede do BIS (Banco de Compensações Internacionais, na sigla em inglês), em Basileia, na Suíça
Sede do BIS (Banco de Compensações Internacionais, na sigla em inglês), em Basileia, na Suíça - Arnd Wiegmann - 18.mar.21/Reuters

"Também reduziria a necessidade de a política monetária manter as taxas de juros mais altas por mais tempo, assim diminuindo o risco de instabilidade financeira."

Tradicionalmente, houve uma separação entre a política fiscal, definida pelos governos, e a política monetária, definida pelos bancos centrais e voltada para o controle da inflação, levando em consideração os níveis de gastos públicos e de tributação.

Os banqueiros centrais insistem em que estão confiantes em sua capacidade de separar as decisões de política monetária das preocupações com a estabilidade financeira, mas a preocupação do BIS contrasta com essas garantias.

A probabilidade de uma crise financeira é significativa, porque as taxas de juros estão altas e continuam subindo, disse o BIS. No entanto, acrescentou, esses riscos podem ser reduzidos se os governos apertarem a política fiscal, tirando alguma pressão das taxas de juros como principal ferramenta de política e fortalecendo as finanças públicas dos países.

As altas taxas de juros já causaram séria turbulência financeira no ano passado, disse o BIS, citando a crise dos títulos do governo do Reino Unido e dos fundos de pensão em outubro passado e a falência dos bancos regionais dos Estados Unidos e do Credit Suisse nesta primavera.

Agustín Carstens, chefe do BIS, disse que a inflação está caindo na maioria dos países, mas "a última milha é normalmente a mais difícil".

"O fardo está pesando sobre muitos ombros, mas os riscos de não agir prontamente serão maiores a longo prazo. Os bancos centrais estão empenhados em manter o rumo para restaurar a estabilidade de preços e proteger o poder de compra das pessoas", afirmou.

O BIS disse que, a longo prazo, governos e bancos centrais não devem tentar resolver todos os problemas da sociedade com estímulos econômicos. Isso endossou o conselho recente da OCDE.

Os banqueiros centrais mantiveram as taxas muito baixas por muito tempo quando a inflação estava abaixo da meta, porque isso incentivava o setor privado a acumular dívidas, aumentando as eventuais vulnerabilidades do setor financeiro, disse o BIS.

"Assim que a estabilidade de preços for restabelecida, a política monetária poderá ser mais tolerante com falhas moderadas, mesmo que persistentes, da inflação em relação às metas pontuais", disse o relatório.

O documento acrescentou que, em vez de tentar impulsionar o crescimento e compensar as crises com aumentos nos gastos públicos, os governos deveriam reconhecer que finanças públicas mais fracas limitam sua capacidade de reação numa crise.

"Os formuladores de políticas precisam ter um reconhecimento mais agudo das limitações das políticas de estabilização macroeconômica", disse o relatório.

"A política monetária e fiscal pode ser uma grande força para o bem, mas, se for excessivamente ambiciosa, também pode causar grandes danos."

Monica Defend, diretora do Amundi Institute, disse: "Precisamos de muito mais coordenação entre política fiscal e monetária, e ainda não chegamos lá. A postura fiscal deve ser dinâmica, ou seja, realmente se adaptar para preservar o bem-estar social, mas ao mesmo tempo ser bastante focada e direcionada".

Essa pressão aumentará à medida que a transição para alternativas de energia mais verdes avançar nos próximos anos, alertou Defend.

"A questão-chave é: quem vai financiar isso? Como podemos seguir seriamente por esse caminho sem coordenação entre [as políticas] fiscal e monetária?"

James Knightley, economista-chefe internacional do banco ING, disse: "Não se pode realmente ter macroestabilidade sem estabilidade financeira, e, se você se concentra demais em um em detrimento do outro, é quando os riscos se materializam".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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