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Agrofolha

Plano Safra dá voto de confiança a Lula junto ao setor

Grandes e médios produtores terão R$ 364 bilhões para custeio e investimentos

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São Paulo

O Plano Safra de 2023/24 ocorre em um período de safra recorde, preços baixos no campo, custos elevados na produção e juros altos. Dentro desse cenário, o governo escolheu aumentar o volume de recursos e manter as taxas de juros próximas às do plano de 2022/23.

A chamada agricultura empresarial, que congrega grandes e médios produtores, terá à disposição R$ 364 bilhões para o período de 1 de julho deste ano ao final de junho de 2024.

O volume supera em 27% o do ano passado, considerando-se o que foi destinado aos médios e grandes produtores na safra que se encerra.

A avaliação de várias entidades do setor foi de aceitação. Com isso, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que gera uma certa desconfiança em boa parte dos produtores rurais, pode ganhar um voto de confiança.

O presidente Lula durante o lançamento do Plano Safra nesta terça (27) - Gabriela Biló - 27.jun.2023/Folhapress

Alguns pontos, no entanto, como taxas de juros livres e recursos para seguro rural, principalmente em um período de repetição de efeitos climáticos em várias partes do país, preocupam os produtores.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), uma das principais representantes do setor, e que apoiava a continuidade do governo anterior, diz que o volume de recursos está dentro do que o setor pediu. "O desafio é ver o recurso chegar de forma contínua, sem ruptura e sem falhas no meio do caminho", afirma José Mário Schreiner, vice-presidente da entidade.

Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), diz que é preciso reconhecer o esforço do governo para garantir um volume robusto de crédito, mas a equalização é o mais importante para garantir a mínima estabilidade.

Para Paulo Pires, presidente da FecoAgro (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul), o plano tem pontos altamente positivos. Os juros estão altos no país e o Plano Safra não pode fugir muito disso, afirma.

O aumento dos recursos do plano é de 27%, mas as taxas de juros livres preocupam, afirma Alexandre Velho, presidente da Federarroz (Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul), um estado que tem sofrido seguidos efeitos climáticos.

O presidente Lula e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro - Gabriela Biló - 27.jun.2023/Folhapress

Ivan Wedekin, da Wedekin Consultoria, diz que o nó do programa está na equalização dos juros. No início de julho de 2021, a Selic estava em 4,25%, e o custo da política agrícola foi de R$ 9,6 bilhões. Em 2022, a Selic estava em 13,25% no início de julho, o que resultou em gastos de R$ 18,6 bilhões para o Tesouro.

A Selic, que deverá começar a recuar, está prevista em 9,25% em dezembro de 2024. Isso vai diminuir a pressão dos gastos do Tesouro.

O Plano de Safra traz ainda dois pontos importantes: a redução na taxa de juro para alguns investimentos e a busca de uma agricultura mais sustentável.

Em um momento de contínuas safras recordes e de preços em queda, o país começa a sofrer mais seriamente os efeitos da falta de armazenagem. A chegada do milho exige uma retirada da soja dos armazéns, mesmo em período de preços menores.

O produtor, no entanto, perdeu a chance de aumentar a sua capacidade de armazenagem no período de forte aceleração dos preços e de boa lucratividade.

No plano do ano passado, foram colocados R$ 5,23 bilhões à disposição do setor para a construção de armazéns. Apenas R$ 2,68 bilhões foram acessados.

Wedekin diz que há recursos, mas pouca demanda. Já Schreiner, da CNA, destaca as dificuldades de acesso a esse crédito. Neste ano, o volume total será de R$ 6,65 bilhões, com taxas de 7% a 8,5%.

O olhar sobre a construção de uma agricultura com bases mais sustentáveis é um avanço necessário para o país. Boa parte da agricultura já é feita com vistas na sustentabilidade, mas os ruídos provocados pelos desvios de condutas de alguns —nem sempre denunciados com o rigor necessário pelo próprio setor— dá uma mensagem ruim da agropecuária brasileira.

A busca da sustentabilidade, no entanto, exige investimento e gestão, itens nem sempre disponíveis aos médios e pequenos produtores. A gestão da propriedade, um instrumento de política agrícola, auxiliaria na busca da sustentabilidade.

A premiação prometida pelo governo poderá ficar distante dos que não têm os meios para essa evolução.
Além disso, a base dessa premiação está no CAR (Cadastro Ambiental Rural) já analisado pelo governo, que tem sido lento nessa ação. Segundo a CNA, apenas 20% dos CARs dos agricultores já foram avaliados, o que reduz o número dos que podem obter o benefício.

A ênfase na recuperação das áreas de pastagens degradadas, que podem ser utilizadas por grãos e integração lavoura-pecuária-floresta, também é importante para o setor. A ocupação das áreas degradadas evita o avanço da produção da pecuária e de grãos sobre as florestas, diminuindo a pressão internacional sobre os produtos brasileiros.

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