Produtores de feijão tentam diversificar demanda nacional e exportar carioca

Apesar de ser muito popular no país, grão do tipo carioca não tem mercado no exterior; fradinho foi o mais exportado no começo do ano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Para evitar uma fuga de produtores de feijão, representantes do setor tentam impulsionar a diversificação do consumo no país para além de produtos que são mais conhecidos. Em paralelo, buscam emplacar nos mercados asiáticos o feijão-carioca, que tem pouca demanda fora do Brasil —a investida ainda não surtiu efeito, no entanto.

Segundo Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses), o segmento é promissor, e o Brasil, com climas e altitudes diferentes, pode produzir uma grande variedade de feijões. "Não há como atender toda a demanda das carnes com sustentabilidade. Os países se voltam para a proteína das plantas. Dentro dessa área tem a soja, mas nem todo mundo é simpático a esse grão."

Apesar do otimismo, ele diz que a produção no Brasil é muito voltada ao feijão-carioca, popular em grande parte do país, mas com comércio exclusivamente nacional. "Se você vai ao Mercado Municipal de São Paulo, por exemplo, há uma diversidade enorme de feijões, mas o carioca e o preto são mais baratos", diz.

De acordo com Lüders, a baixa demanda do tipo carioca no mercado internacional desestimula o produtor, que acaba migrando para outras culturas, como soja e milho.

Imagem mostra várias colheres de pau, com feijões de diferentes tipos e cores. Elas estão sobre uma superfície de madeira.
Na ordem da esquerda para direita: rajado, jalo vermelho (cavalo vermelho), fradinho, rosinha, amarelo (verde), azuke, roxinho e navy (branco) - Keiny Andrade - 20.jul.19/Folhapress

O Ibrafe já tentou levar o feijão-carioca para degustações na Índia a fim de impulsionar a exportação para o país, mas sem sucesso. Lüders diz que os importadores não têm interesse em abrir marketing para um feijão que não é da cultura deles.

De acordo com dados do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), nos primeiros quatro meses deste ano, o país exportou mais de 37 mil toneladas de feijão para fora, o que representa cerca de US$ 30 milhões (R$ 144,5 milhões).

O feijão-fradinho, cujo nome científico é vigna unguiculata e também é conhecido como feijão-caupi, abrangeu a maior fatia dos grãos exportados, com mais de 13,3 mil toneladas. Segundo Afrânio Migliari, diretor-executivo da Aprofir (associação dos produtores de feijão e de outros grãos do Mato Grosso), há grande demanda pelo produto em países asiáticos.

Não é o único. As exportações do mungo-verde, também chamado de radiata, são expressivas se comparadas ao total. No primeiro trimestre foram quase 12 mil toneladas enviadas para fora. "O mungo tem uma demanda mundial muito forte e é um feijão que, do plantio à colheita, demora 65 dias, o que é muito rápido", diz Migliari.

Além de feijões comuns, como o branco e o preto —que somam quase 3.000 toneladas exportadas, juntos—, também fazem parte da lista de exportações do Ministério da Agricultura o feijão-guando, ou guandu, usado para alimentação animal e na recuperação de solos degradados —como no caso da produção da cana-de-açúcar. Segundo Migliari, o guandu também é consumido na dieta alimentar asiática. A exportação do grão não é tão expressiva, com cerca de 1,6 tonelada exportadas no primeiro quadrimestre do ano.

Com 523 toneladas enviadas para fora de janeiro a abril, há também o feijão do tipo azuki, que tem sabor adocicado e é usado na culinária japonesa para fazer doces.

De acordo com Migliari, o feijão-carioca tem a vantagem de produzir mais por hectare em relação a outros tipos de feijão, mas pode ter maior custo com irrigação e ser mais suscetível a pragas, por ficar mais tempo no solo, diferentemente de produtos como o feijão-fradinho, que é mais resistível a doenças, diz. Ainda segundo ele, impulsionar a exportação do feijão carioca para fora é um desafio por causa das diferenças culturais.

Migliari também defende o estimulo ao consumo dos outros feijões no mercado nacional. Para isso, afirma que é necessário elevar a qualidade dos produtos. Presidente da câmara setorial do segmento no Ministério da Agricultura, ele diz que discute com a pasta a criação de uma normativa para tornar obrigatória a indicação da origem do feijão na hora da venda, de forma a dar maior rastreabilidade ao produto.

"Se exigir qualidade na entrega, vai refletir no produtor, que vai começar a pensar em produzir um feijão de melhor qualidade, porque ele vai lucrar mais. A gente está tentando mostrar para os nossos donos e donas de casa que existem vários tipos de feijões nutricionais que são extremamente importantes para a saúde mas que são diferentes do carioca, que é aquele que a gente conhece."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.